Capítulo 13 - Sentimentos Escondidos --- DEGUSTAÇÃO ⭐

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Segunda-feira, início de uma nova semana. Meu pai tinha uma reunião de planejamento no trabalho e precisamos sair uns 30 minutos mais cedo que o normal. Esse adiantamento coincidiu com o pedido do Bernardo de chegar mais cedo no colégio. A entrada estava praticamente vazia. O Gustavo seguiu para a sala dele, mas eu hesitei um pouco. As palavras do Bernardo se repetiam em minha cabeça e eu tentava procurar uma explicação lógica para tudo aquilo.

Eu estava com medo, eu confesso. Não é medo dele, é medo da situação como um todo. Eu gostava de ter controle sobre as situações, para evitar erros, mas nessa eu já estava totalmente perdido. E é muito engraçado como nossa mente gosta de nos pregar peças! Ontem à noite, eu mal consegui dormir. Pensava nesse momento a cada segundo, e até queria que ele chegasse logo, mas agora, que enfim chegou a hora, meu sistema nervoso está abalado. Minhas mãos tremem e estão geladas, meu coração dispara a cada novo passo que dou em direção a sala de aula.

Respirei fundo quando cheguei à porta. Comecei a abrir a maçaneta bem devagar. Meus olhos estavam atentos a cada nova parte da sala que surgia em minha visão.

Vazio, vazio, vazio, vazio, vazio. Todas as fileiras de lugares da sala pareciam estar vazias.

– Amém!

Respirei aliviado, abaixando meus ombros e diminuindo o estresse do meu corpo. O Bernardo ainda não tinha chegado, e eu podia relaxar.

Dizem que o impulso nervoso pode alcançar velocidades de até 720km/h. Eu pessoalmente acredito, e ainda acho que as vezes ele pode ser ainda mais veloz, pois foi em milésimos de segundos que senti um leve choque que alcançou cada parte do meu corpo, tendo sua origem em meu ombro, quando uma mão o tocou.

– Oi. – uma voz falou atrás de mim.

Aquele som parecia com uma flecha atingindo minhas costas e acertando diretamente meu coração.

Pareceu aquelas cenas de quando um gato sai de lugares que você nunca imaginou e você só falta infartar com o susto. Eu não tive outra reação a não ser ficar parado e calado.

– Que bom que você conseguiu chegar mais cedo. Eu te vi subindo as escadas, mas não consegui te alcançar. Podemos conversar agora, ne? – o Bernardo falou.

Eu não conseguia responder. Não com aquela mão dele no meu ombro, fazendo o local em que ela tocava ficar cada vez mais quente. Como se a cada segundo a mão dele ficasse mais pesada. E parecia que talvez ele estivesse um pouco tenso também, pois a sua voz tinha um tom sério, e sua mão parecia estar inquieta, mesmo segurando meu ombro, seus dedos faziam pequenos movimentos involuntários, era quase como uma massagem de leve.

Entramos na sala e ocupamos os lugares na fileira do canto. Meu olhar mal conseguia encarar o olhar o dele. Eu podia sentir meu rosto vermelho, e minha respiração um pouco acelerada. Encostei-me na parede, colocando minhas pernas perpendiculares a carteira. O Bernardo puxou a cadeira dele para perto de mim, e como se tivesse as palavras muito bem pensadas e decoradas, começou a falar.

– Então, Daniel, eu sei que eu mal te conheço, mas desde o primeiro dia em que eu te vi, algo em você me chamou atenção. E eu sei que essa frase é clichê, mas nunca foi tão verdadeira para mim. No primeiro dia de aula, eu analisei todo seu olhar. E isso foi algo difícil, porque você é muito observador, e eu não podia deixar você perceber. Então, com cuidado eu continuei a te observar, inclusive nos dias seguintes. E eu analisei seu jeito, não só relacionado a mim, mas as outras pessoas da sala. Você parecia estar assustado e ansioso, ao mesmo tempo em que estava feliz. Seu olhar era um pouco subjetivo, ele não parecia olhar simplesmente a imagem das pessoas, mas parecia tentar entender o jeito delas. Não sei se estou errado ou falando besteira, mas como eu também faço isso, acho que consigo identificar quando alguém faz. Em um segundo seu olhar estava fixo na pessoa, e em outro seu olhar se perdia, demonstrando uma expressão de quem estava aéreo e mergulhou em seus próprios pensamentos. Como se você estava analisando e reanalisando dentro de sua cabeça o que acabou de ver. E isso me deixou mais curioso sobre você. Então na quinta-feira eu decidi que precisava puxar mais assunto, tentar descobrir o que se passava em sua mente. Me levantei e peguei suas coisas para sentar perto de mim. Foi aí que descobri outra coisa: seu jeito de falar era sincero. Você tinha um sorriso meigo no canto da boca, e um jeito atencioso e verdadeiro. E eu fiquei um pouco eufórico aquele dia enquanto estávamos passando mais tempo juntos. Eu queria falar mais e mais com você. Eu não tenho uma explicação lógica, mas, mesmo eu resistindo, seu sorriso ficou na minha cabeça. E em algum momento eu pensei que talvez você pudesse estar sentindo o mesmo que eu. Talvez foi mais um desejo, do que realidade, mas eu pensei que em alguns momentos você pudesse estar correspondendo ao que eu demonstrava. Por isso, tudo que eu fiz na piscina, ou melhor, que eu arrisquei na piscina, foi tentando te conhecer melhor, saber se talvez, só talvez, você pudesse estar sentindo o mesmo que eu. Só que eu me precipitei e perdi o controle, comecei a fazer besteiras sem parar e te ofendi e irritei. E quando eu cheguei em casa, todo sentimento de euforia se transformou em culpa e vergonha. E eu não sabia como poderia encarar você ou as outras pessoas, caso você contasse a alguém. Eu tive medo. Eu errei. Mas, por outro lado, eu estou cansado de ter medo ou perder simplesmente por não tentar. E se talvez existir a menor chance que seja, eu quero tentar. Mesmo nervoso e inseguro, eu quero. Por isso, eu preciso te perguntar uma coisa, dessa vez sem joguinhos e sendo o mais direito possível. Daniel, você me dá uma chance de te conhecer melhor e de você me conhecer melhor?

Eu ouvi cada palavra que saiu da boca dele, inclusive sua pergunta final que fez meu corpo se contrair de nervoso. É como se aqueles sons escondidos dentro do meu coração, tivessem se amplificado e não coubessem mais dentro de mim. Eu sentia que talvez tivesse chegado a hora de libertar essas vozes que eu tanto tentei suprimir e esconder.

– Talvez eu tenha sentido algo parecido. Mas eu não sei bem o que é. Isso tudo é muito novo para mim. – eu falei.

Eu conseguia sentir que ele estava me encarando, aguardando uma resposta para sua pergunta. Mesmo assim, eu só conseguia olhar para o chão.

– Eu sei, Daniel. Para mim também é novo, mas é um novo bom! É a primeira vez que eu consigo sentir esse algo bom. Em toda minha vida, nos relacionamentos que eu tive, eu nunca conseguia me sentir realizado ou completo. Ao passar do tempo parecia que tinha algo errado, algo incompleto. No meu último namoro, que inclusive foi com a Júlia, eu me cansei de tudo isso, de toda angústia, de tentar ser algo que esperavam que eu fosse. Não era aquilo que eu queria, e eu estava ficando angustiado, sob pressão! Cada passo que eu dava parecia estar errado. Eu me tornei cansado e insensível em meus relacionamentos, tinha medo de perder o controle. Decidi então parar de mentir para mim mesmo, ser mais consciente do que eu queria. E agora que você apareceu, e me causou e confirmou esses sentimentos que eu já suspeitava, eu quero ser mais eu mesmo, quero descobrir o que está acontecendo, investigar essa alegria que surge quando olho para você, investigar meus desejos mais escondidos.

A fala dele me lembrava partes da tradução da música Numb de Linkin Park:

"Estou cansado de ser o que você quer que eu seja
Me sentindo tão sem esperança, perdido abaixo da superfície
Eu não sei o que você está esperando de mim
Vivendo sob a pressão de seguir seus passos"

"Eu estou me tornando isso
Tudo o que eu quero fazer
É ser mais eu mesmo
E ser menos como você"

"Você não consegue ver que está me sufocando?
Segurando tão apertado, com medo de perder o controle
Porque tudo o que você pensou que eu poderia ser
Desmoronou bem na sua frente"

"Pego pela correnteza, simplesmente pego pela correnteza
Cada passo que eu dou é outro erro para você
Pego pela correnteza, simplesmente pego pela correnteza
E cada segundo que perco é mais do que eu posso suportar"

"Eu me tornei tão entorpecido
Não posso te sentir
Fiquei tão cansado
Tão mais consciente"

"E eu seiEu posso acabar falhando tambémMas eu sei que você era como euQuando alguém te desapontava"

"E eu seiEu posso acabar falhando tambémMas eu sei que você era como euQuando alguém te desapontava"

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