Capítulo 15 - Paranoias e Ciúmes --- DEGUSTAÇÃO ⭐

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Mesmo me sentindo um pouco mais à vontade ao lado do Bernardo, eu ainda não conseguia me concentrar totalmente enquanto ele estava ali, olhando para mim ou me tocando.

Para minha sorte, a primeira e a segunda aula eram de química, matéria que ele tinha me dito que gostava muito. Nessas aulas ele ficou mais quieto prestando atenção e eu pude relaxar um pouco.

Voltei para dentro de minha cabeça, comecei a refletir sobre o que tinha acontecido naquela manhã. Tudo o que eu senti quando ele abriu seu coração e quando ele me abraçou. Foram demonstrações de carinho rápidas, mas que tinham me deixado com desejo de mais. Confesso que meu corpo reagiu profundamente ao toque dele. Eu não lembro quando foi a última vez que eu tinha recebido um cafune na vida. Acho que no fundo, eu sou bem carente nesse sentido. Mas também preciso confessar que o desejo e a curiosidade não ficaram restritos a demonstrações leves de carinho. Eu ainda consigo lembrar algumas cenas "mais constrangedoras" que aconteceram entre a gente. Não posso mentir, que durante quase todo tempo da aula, quando eu lembrava de tudo que aconteceu, o volume na minha calça aumentava. Para falar a verdade, eu nem sei se ele chegou a diminuir. Era algo involuntário, e isso fazia eu ficar com mais vergonha de alguém perceber. E nos momentos que o Danielzinho estava quase relaxando, o Bernardo acabava dando uns apertos em minhas costas, como se fosse uma leve massagem, e lá embaixo voltava a ficar mais acordado do que nunca.

Quando eu me foquei em relaxar e deixar a excitação diminuir, alguns pensamentos pessimistas começaram a tomar conta da minha cabeça. Meu antigo professor de história uma vez comentou que possuímos uma herança pessimista da época feudal. Era uma época onde a religião influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento de grande parte da sociedade. Nessa época o prazer era considerado pecado. Acreditava-se que tudo que acontecia era regido por uma força divina ou demoníaca, desde os bons acontecimentos até as doenças e pragas. Então quando algo era prazeroso, era considerado errado, pecaminoso, a exemplo da denominação de luxúria, um dos sete pecados capitais. E colocamos em prática essa herança quando acreditamos que tudo que está ocorrendo bem, ou está errado e ou deve ter algo de errado por trás. Não conseguimos acreditar que as vezes as coisas podem simplesmente ser boas e devemos aproveitar o momento. Então as vezes acordamos felizes, mas não conseguimos aproveitar essa felicidade, porque achamos que se está indo bem, algo ruim vai acontecer para "equilibrar". As vezes até quando alguém nos trata bem, começamos a desconfiar que essa pessoa fez algo de errado ou só está fazendo isso porque quer algo em troca, como se as atitudes das pessoas não pudessem ser sinceras ou como se nós não merecêssemos que coisas boas aconteçam com a gente.

Uma vez, no meu antigo colégio, a namorada do Arthur – que também era de nossa sala – brigou com ele só porque ele estava tratando-a bem e comprou chocolates. Ela disse que ele devia ter feito algo de errado. Eu não duvido que as vezes as pessoas possam fazer algo de errado e mudar bruscamente na tentativa de corrigir ou disfarçar, mas também acredito que não podemos viver paranoicos achando que tudo sempre vai dar errado. Muito menos podemos perder o controle, como em outra situação em que eu a ouvi falando para outra menina: "– Amiga, eu e o Arthur estamos ótimos, mas eu acabei de ligar e ele não me atendeu, acho que ele não me ama mais! Eu já sei! Eu vou ligar 50 vezes seguidas até ele me atender!"

Na mesma proporção e intensidade em que o desejo e o carinho têm crescido entre mim e o Bernardo, a culpa e a paranoia também querem crescer. Mas eu me recuso a dar ouvido a pensamentos pessimistas. Eu quero, pela primeira vez em minha vida, viver e descobrir essas sensações. Eu sei que posso estar arriscando muita coisa, mas eu preciso descobrir o que isso tudo significa.

Nessa última semana, o Bernardo demonstrou ser bastante alegre e brincalhão. Entretanto, hoje, por alguns momentos, quando ele se abriu para mim, seu olhar demonstrava um sentimento de solidão e carência. Talvez outras pessoas, que assim como nós, reprimem sentimentos, entendam o que é esse olhar. Eu o identifico por já ter visto em mim mesmo, em frente ao espelho, algumas vezes em que eu chorei devido acontecimentos ruins no meu antigo colégio. Só que eu não imaginava que ao ver as lágrimas nos olhos do Bernardo, um sentimento diferente ia surgir em mim. Alguns podem dizer que é um sentimento de pena, mas eu sabia que não era isso, era mais um sentimento de empatia, um desejo de abraça-lo, dizer que ele não está sozinho. Uma vontade de poder colocar a cabeça dele no meu peito, apertar seu corpo junto ao meu.

Amar, o que é? - (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora