Eu estava um pouco ansioso para o nosso encontro. Troquei de camisa mais de cinco vezes. Eu queria achar uma que ficasse bonita no meu corpo, mas que não ficasse arrumado demais, ou chamando muita atenção. Tinha de ser um básico bonito. Demorei tanto tempo na frente do espelho que quase perdi o ônibus.
Apesar de toda superlotação do serviço de transporte público, e o calor abafado do dia, eu ainda cheguei bem cheiroso ao shopping. Conferi na entrada se meu hálito estava bom, ajeitei minha postura e segui em direção a escada rolante que levava até a entrada do cinema.
Apesar de muitas pessoas terem faltado ao colégio, e eu presumir que o cinema estaria vazio, eu encontrei uma enorme fila na bilheteria do cinema. Olhei meu celular e não tinha nenhuma notificação de mensagem do Bernardo. Procurei na multidão e também não o vi. Como já estava perto do horário do filme começar, decidi ligar para ele.
– Oi, eu cheguei já. Onde você está?
– Eu estou aqui olhando para você. Está uma gracinha todo nervoso, arrumando a camisa a cada 10 segundos.
– Como assim? Aqui no shopping? Onde? Eu já olhei em todos os locais e não te vi.
– Só olhar para trás.
Quando eu me virei ele estava encostado de lado em uma das pilastras do cinema. Suas pernas estavam cruzadas e suas mãos estavam dentro dos bolsos da calça. Ele me olhava fixamente com um leve sorriso na boca, aquele sorriso safado que ele tinha. Ele tinha feito toda uma pose, provavelmente achando que iria me seduzir com aquela cara de garanhão... E se ele pensou isso... Ele acertou, porque fiquei parado por um bom tempo sem reação, olhando para ele. Eu nem me importei tanto se tinham várias outras pessoas ao meu redor. Era uma das primeiras vezes eu podia olhar para um garoto sem medo dele perceber que eu estava olhando. Muito pelo contrário, pela primeira vez eu não tinha medo ou receio de paquerar, e eu queria poder aproveitar todos os momentos de flerte entre a gente. Em questão de vestimentas, ele estava lindo. Usava uma camisa verde musgo um pouco colada, detalhando todo o formato de suas costas e o peitoral.
– Demorou, hein? Eu já estava quase te ligando achando que você ia me dar um bolo. – ele falou.
– Desculpa, eu fui um pouco lento na hora de me arrumar.
– Tudo bem. O filme já vai começar, vamos entrar logo?
– Vamos! Mas a fila tá enorme, vai demorar um pouco para a gente comprar os ingressos, não? – eu respondi.
– Não, eu já comprei tudo.
– Até o meu?
– Sim.
– E foi quanto para eu te pagar?
– Nada ué. Você é meu convidado, deixe de bobagem.
– Ah não! Eu prefiro pagar. Se não vai ficar esquisito. Vai ficar parecendo aqueles encontros em que o homem paga tudo para as mulheres. – eu reclamei.
– Hum! Então estamos oficialmente em um encontro de casal? – ele falou em tom de piada para mudar de assunto.
Eu olhei para ele com uma expressão de raiva. Não me sentia confortável sabendo que ele tinha comprado as entradas. Para ser sincero, em todos meus poucos encontros com garotas, eu que pagava a entrada para elas. E agora, ele pagando, eu entrei na paranoia como se eu assumisse o papel de garota em nosso encontro.
– Relaxa vei, você nunca vai ser como qualquer garota que eu já saí em um encontro. – ele falou em tom sério.
Fiquei um pouco surpreso com a fala dele. Não que eu quisesse assumir esse papel de garota, mas como assim eu nunca seria igual? Então eu não me encaixava no perfil de uma paquera em um encontro com ele?
– Você nunca vai ser igual a uma garota, porque você é um garoto. Meu garoto! E entre a gente não tem um papel de garoto e garota, somente de dois garotos. E outra coisa, mesmo que fosse uma menina, não existe isso de papeis diferentes, deixe de machismo. Eu já saí com meninas que pagaram várias coisas para mim. Inclusive, já que você tá reclamando, você que vai pagar nosso lanche. E saiba que eu como muito, viu? – e depois ele abriu um sorriso para mim.
Confesso que eu gostei da explicação dele. Realmente eu não precisava ficar imaginando papeis de garotos ou garotas. Isso é uma ideia pré-formada que casais tem de ser entre homens e mulheres, e que cada um tem um papel e obrigações diferentes. Já estava mais que na hora de eu ampliar meus conceitos para um universo maior de possibilidades.
Apesar de compreender a explicação do Bernardo, e até concordar, eu continuava sendo um pouco orgulhoso. Então, já que ele tinha comprado as entradas, eu fui e comprei pipoca e refrigerante para gente. Ele não reclamou, só fez sorrir e comer. E então seguimos para dentro da sala do filme.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amar, o que é? - (Romance Gay)
RomanceDEGUSTAÇÃO NO WATTPAD / LIVRO FÍSICO À VENDA DESCOBRINDO O QUE É AMAR - LIVRO COM MAIS DE 1,9 MILHÕES DE LEITURAS , AGORA PUBLICADO NA VERSÃO FÍSICA PELA EDITOA GIOSTRI: O livro "Amar, o que é?" é uma obra de romance com temática LGBTQAI+ que retrat...