Assim que entrei na sala 21 uma das primeiras pessoas que eu vi sentada foi a Júlia. Ela estava arrumando seu fichário e colocando canetas de três cores diferentes em cima da mesa. Ela era uma daquelas meninas metódicas e organizadas. Quando passei por ela, pude ver em seu caderno os assuntos copiados com cores diferentes. Para o título ela usava uma cor, para os textos outra, e até a data tinha uma cor específica.
Seus cabelos eram loiros e lisos, mas eu não tenho certeza se eram assim naturalmente ou se ela passava algum produto químico no cabelo. Seu braço possuía um número significativo de pulseiras e pingentes.
Ao entrar na sala, ela sorriu para mim. Seu rosto era muito bonito, e sua maquiagem era muito bem-feita. Não que eu entenda de maquiagem, mas dava para notar o contorno ao redor dos seus olhos azuis e a sombra rosa abaixo de sua sobrancelha milimetricamente desenhada.
Ela é outra pessoa que se também estiver matriculada na natação eu irei ver de maiô. Eu já tinha reparado no corpo dela antes. Era magro, parecido com aquelas modelos que assistimos na televisão. Não tinha tantas curvas como o corpo da Fernanda, mas não deixava de ser um dos corpos mais olhados pelos garotos. Eu sempre notava que muitos rapazes do colégio seguiam seu andar com os olhos. Inclusive até algumas garotas sempre olhavam para ela quando ela passava.
Eu sou do tipo que gosto de observar o que as outras pessoas estão olhando. Foi assim que percebi o número de garotos que olhavam para o corpo da Júlia e de outras meninas. Eu era um pouco mais cuidadoso do que eles com o olhar. Para observar alguém, eu sempre prestava atenção se antes não tinha uma outra pessoa me observando. Talvez eu faça isso devido um mal-entendido que ocorreu na minha escola antiga.
Eu sempre ficava impressionado com o fato do Arthur – o garoto do antigo colégio que falei a vocês – em um dia, quando estávamos sozinhos, me dá bastante atenção, e no outro, na sala de aula, mal conversar comigo. Então, às vezes, involuntariamente, meu olhar seguia ele tentando entender aquele garoto. Só que, por ser algo involuntário, eu nem sempre percebia quando estava olhando para ele. Entretanto, parece que outras pessoas percebiam. E foi em um dia aleatório que percebi algumas garotas fazendo piadas falando que eu olhava "de mais" para ele. Piadas que inclusive eram feitas na frente dele. Aquilo o irritava e ele as mandava calarem a boca. Eu só conseguia gaguejar e passar mais vergonha. Eu não sabia exatamente o que o irritava, se era a piada, se era a ideia de eu estar o olhando. O que eu sabia era que aquelas piadas não ajudaram em nada minha amizade com ele.
Alguns outros amigos meus me defendiam, mas sempre reforçando o argumento que aquilo era um absurdo. Eles me aconselhavam a responder a insinuação dessas garotas com algumas respostas inapropriadas. Eu nunca concordava, mas quando percebi que aquelas piadas e risadas quando eu passava estavam cortando por completo a pouca e escondida amizade que eu tinha com o Arthur, eu acabei explodindo.
"– Vamos para o banheiro agora e eu mostro para o que eu realmente gosto de olhar. Vamos! Não é isso que vocês querem de mim? Uma prova? Vamos lá que vou dar a prova até vocês não aguentarem mais!"
Aquelas palavras saíram de mim quando menos percebi. Não me importei nem se tinha algum professor dentro da sala ou se os outros alunos, inclusive o Arthur, me olhavam assustados enquanto eu gritava.
Claro que essas palavras merenderam uma suspensão, conversa com meus pais e bastante culpa depois. Eu sóalimentei uma cadeia de desrespeito e raiva. As piadas acabaram depois disso, mas o bom relacionamento com ospopulares, que faziam parte do grupo de amizades do Arthur, também acabou.
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Amar, o que é? - (Romance Gay)
RomanceDEGUSTAÇÃO NO WATTPAD / LIVRO FÍSICO À VENDA DESCOBRINDO O QUE É AMAR - LIVRO COM MAIS DE 1,9 MILHÕES DE LEITURAS , AGORA PUBLICADO NA VERSÃO FÍSICA PELA EDITOA GIOSTRI: O livro "Amar, o que é?" é uma obra de romance com temática LGBTQAI+ que retrat...