As luzes do shopping incomodavam meus olhos. Eu tinha acabado de sair do cinema com o Bernardo e minhas pupilas ainda não tinham acostumado com a claridade. Eu não sabia se já era noite, ou se ainda era dia. Estava anestesiado com tudo que aconteceu, relembrando todas as cenas em minha mente. Não as cenas do filme, mas as cenas de carinho e afeto entre mim e o Bernardo. Para ser sincero, eu nem lembrava o final do filme, parece que eu só memorizei os momentos com ele. Ficar abraçado, ouvir os batimentos de seu coração, sentir seu cheiro, apreciar o vermelho de seus lábios.
Agora andávamos juntos pelo shopping, mas ao mesmo tempo "separados". Falo isso, pois agora não podíamos mais ficar abraçados, ou no mínimo de mãos dadas. Aquele momento dentro do cinema, que para mim foi algo surreal, tinha chegado ao fim, e eu tinha de retornar à realidade.
– E ae Daniel, vamos lanchar? – o Bernardo falou.
– Vamos.
Seguimos em direção a praça de alimentação. Para ser sincero, retornar para a realidade não foi tão ruim como eu imaginava. Os momentos com o Bernardo sempre eram divertidos. Sempre brincávamos e ríamos muito. Nunca faltava assunto, era só começar a conversar que tudo fluía. Para comer, pedimos hamburguês e batata frita numa loja de fastfood e fomos para as mesas mais ao fundo da praça de alimentação. Mesmo procurando o local mais afastado, ainda tinham muitas pessoas ao redor. Elas conseguiam nos ver, mas não podiam nos escutar, já que shopping sempre é um barulho infernal de pessoas conversando.
– Acho que é melhor eu ir Bernardo, eu vou voltar de ônibus e não queria que ficasse muito tarde.
– De ônibus? Você mora aonde?
– Moro no... – expliquei a ele aonde eu morava.
– Então, eu te dou uma carona, essa hora é muito perigoso ir de ônibus.
– Você sabe dirigir? – eu perguntei surpreso.
– Eu até sei dirigir, mas acho que você entendeu errado. Eu não estou com o carro aqui, é minha mãe que vem nos buscar.
O resto da noite foi bem legal. Mesmo sem poder ficar de mãos dadas, ainda sim eu me senti em um encontro com o Bernardo. Não podíamos fazer coisas melosas de casais, mas ainda sim quando nossos olhares se encontravam, eu podia sentir o desejo entre a gente.
Enquanto eu fui comprar sorvete para a gente, ele entrou numa loja que vendia chocolates. Quando voltou estava com uma sacola da loja. Ele falou que eram umas trufas para a sua mãe e a sua irmã.
– Você tem irmã?! – eu perguntei alegremente surpreso.
– Tenho sim. Ela é mais nova que eu, 13 anos, xodozinho de minha mãe.
Ficamos conversando até que o celular dele tocou. Era sua mãe avisando que já tinha chegado. Seguimos para o estacionamento até o carro dela. Entrei meio com vergonha, a mãe dele estava no banco do motorista e a irmã estava no banco da frente, por isso ficamos os dois no banco de trás.
– Oi mãe, esse aqui é o Daniel, um amigo meu do colégio, vamos dar uma carona a ele.
Fizemos aquelas apresentações básicas, a nome da mãe dele era Roberta e o de sua irmã era Laura. E durante o percurso ficamos conversando.
– Você é um menino estudioso, Daniel? Esse meu filho desnaturado já começou a semana enrolando. Não sei o que aconteceu, mas quarta não quis ir pro colégio, depois ficou deitado o dia todo na cama abraçado com um coração de pelúcia da irmã dele.
– Ohh mãeee!! – o Bernardo reclamou e ficou todo vermelho.
Mães! Não importa se é a sua, ou a do outro, elas sempre fazem seus comentários embaraçadores. Mas, eu pessoalmente, amei ouvir isso hahahaha. Quer dizer então que o ele ficou o dia todo abraçando um coração?! Hummm!! E ainda mais eu que sei o motivo: pensando em mim! Fiquei bem feliz em saber – meus olhos brilharam!! Era outro lado do Sr. Bernardo que vive com a pose de galã, um lado emocional!
– Eu tento estudar todo dia sim, Dona Roberta.
Bernardo nem conseguia olhar no meu rosto de tanta vergonha que ele ficou. E ele fica lindo com vergonha ou chateado.
Ficamos conversando assuntos diversos. Sempre a senhora Roberta me fazendo rir e constrangendo o Bernardo.
– E agora ele me fez comprar um vídeo game novo Daniel, você gosta dessas coisas também? – ela falou.
– Gosto sim.
– Porque não chama ele filho para ir jogar com você no domingo? É o dia que vou sair com a Laurinha.
Pelo que entendi, no domingo ia ser um dia só para mãe e filha, e o Bernardo ia ficar sozinho em casa.
– Quer ir? – ele me perguntou.
– Vá Daniel, é bom que meu filho não passa o domingo no computador. Vai ter um amigo para conversar. – Roberta falou.
– Tá bom, então.
Eu teria vergonha de ficar na casa sozinho com ele, mas já que foi sua própria mãe que pediu, acabei aceitando na hora.
Chegamos à minha casa, me despedi e agradeci pela carona.
Quando eu estava fora do carro, o Bernardo me deu uma sacola da loja de chocolates pela janela, e sussurrou para eu abrir depois.
Entrei em casa, avisei a meus pais que tinha chegado e corri para o meu quarto. Pulei na cama e fiquei olhando para o teto. Nem parecia que o dia de hoje tinha acontecido, foi uma sexta feira incrível! Eu conseguia sentir o perfume dele em meu braço ainda. Peguei meu travesseiro e apertei com toda força contra meu corpo; em meu rosto tinha um sorriso involuntário e enorme.
Seus olhos, seu cheiro, sua boca, seus lábios, seu beijo! Tudo nele me fazia sorrir, todas as lembranças maravilhosas desse dia inesquecível. Acho que fiquei uns 30min ali parado, sorrindo que nem um bobo, até que me lembrei da sacola de chocolate.
Coloquei minha mão dentro e puxei algo que eu não identifiquei pelo tato. Era um bombom com a embalagem em forma de lábios. Junto com ele tinha um bilhete escrito: "Só hoje descobri um beijo de verdade! Que esse chocolate mele seus lábios assim como você fez comigo. Melou-me de carinho, de sorrisos, de paixões... , e de outras formas que você me bateria se eu dissesse aqui! ♥"
Nem quero saber de que outra forma eu o deixei melado! Rum! Eu aqui todo bobo pelo romance, mas ele precisa botar a pitada de safadeza, se não, não era ele né?!
O resto da noite foi normal. Antes de ir dormir desci para beber água e encontrei meu irmão na cozinha:
– Se mudaram uns vizinhos novos para aquela casa ali da esquina. Lá é bom porque tem piscina! – ele disse já demonstrando seu real interesse.
– Já tá pensando na piscina dos outros, Gustavo?! Kkkkk – eu ri com ele.
– Claro! Tá muito quente! Amanhã, sabadão, seria um bom dia para uma piscina!
Fiquei rindo com ele, e depois voltei para o meu quarto. Fiquei pensando em quem seriam esses novos vizinhos. Sou meio curioso às vezes.
Acabei caindo no sono. Porincrível que pareça, três sonhos foram constantes durante minha noite: meubeijo no cinema, meus desconhecidos novos vizinhos e o dia de domingo sozinhocom o Bernardo. Talvez esses sonhos fossem um presságio sobre as surpresas queme aguardam!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amar, o que é? - (Romance Gay)
RomanceDEGUSTAÇÃO NO WATTPAD / LIVRO FÍSICO À VENDA DESCOBRINDO O QUE É AMAR - LIVRO COM MAIS DE 1,9 MILHÕES DE LEITURAS , AGORA PUBLICADO NA VERSÃO FÍSICA PELA EDITOA GIOSTRI: O livro "Amar, o que é?" é uma obra de romance com temática LGBTQAI+ que retrat...