Capítulo 16 - Insegurança --- DEGUSTAÇÃO ⭐

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A Júlia pegou metade do meu intervalo e depois como agradecimento deu um beijo em minha bochecha. Eu pedi licença e sai correndo da sala em busca do Bernardo e da Fernanda. Procurei no colégio todo, mas não os achei. Quando faltavam só 4 minutos para tocar o sinal e eu estava quase desistindo, vi a Fernanda subindo a escada e corri em sua direção.

– Cadê o Bernardo, Fernanda?

– Daniel, ele está sozinho na entrada da ala infantil. Eu estava com ele, mas não sei por qual motivo, ele está aborrecido com alguma coisa, então deixei ele sozinho lá.

– Entendi. Obrigado, Fernanda.

Só tinha uma semana de aula nesse colégio novo, e eu ainda não sabia onde ficavam todos os locais. Olhei para o relógio e vi que faltavam somente dois minutos para o intervalo acabar. Fiquei na dúvida se deixava o Bernardo sozinho, ou se ia logo resolver aquela situação.

Um grupo de crianças passou por mim, e eu tive a ideia de segui-las, na esperança que elas estivessem voltando para a sala. Minha hipótese estava correta e eu cheguei em um outro anexo do colégio que tinham vários desenhos pintados na parede. Aquela provavelmente era a ala infantil, e o Bernardo devia estar em algum local por ali. Em uma parte, que parecia ser um parquinho com brinquedos e televisão, lá estava o Bernardo encostado em uma parede, olhando para baixo. Me aproximei dele, mas ele não parecia ter me visto.

– Oi. Por que você sumiu? Pensei que a gente ia passar o intervalo juntos. – falei em um tom baixo, sem querer assustá-lo.

O sinal tocou dando fim ao intervalo.

Ele levantou seu rosto e olhou bem no fundo dos meus olhos.

– A gente? Pensei que você tinha companhia já. – ele falou num tom de ironia.

– Claro que não Bernardo, eu queria era a sua companhia! Você ficou chateado por besteira! – eu respondi em um tom um pouco mais alto.

– Besteira? Essa semana eu me abri para você! Contei coisas que eu nunca tinha contado a ninguém antes. E eu tentei me aproximar mais de você, puxar assunto, conversar. Mas as únicas coisas que você fez foram ou ficar calado, me ignorando, ou olhar pros peitos da Júlia!

Por mais que eu fosse tímido, eu tinha dentro de mim uma "essência barraqueira". Na verdade, eu já estava tão acostumado a brigar no meu antigo colégio, que qualquer pessoa que demonstrasse está discutindo comigo, eu já sentia um impulso de brigar de volta.

– Você não disse que nós íamos aos poucos, ao meu ritmo, ou já mudou de ideia? – eu respondi a ele.

– Nós íamos ao seu ritmo, se você pelo menos demonstrasse estar com algum ritmo!

O Bernardo estava bastante chateado em suas respostas. Acho que estávamos discutindo no local correto, a ala infantil. Pois parecíamos duas crianças brigando de dar respostas a última fala do outro. Eu não estava gostando do tom daquela conversa, e decidi que já estava na hora dela se encerrar. Respirei fundo, aproximei-me do Bernardo e dei um abraço nele. Acho que ele ficou um pouco sem entender, mas não falou nada, só me abraçou de volta depois de um tempo.

– Me desculpe, você está certo! – eu falei a ele.

Eu sabia que ele tinha motivos para ficar estressado. Tinha sido uma semana boa, mas emocionalmente difícil para ele. Ele se abriu comigo, e a sensação após você mostrar esse seu lado é de vulnerabilidade. E ao mesmo tempo que ele se arriscou, e continuava se arriscando, eu mantinha uma defesa, talvez um afastamento ou receio de me abrir e também ficar emocionalmente vulnerável.

Amar, o que é? - (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora