Capítulo 07

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William

Eu não parei para pensar outra vez até que estive adentrando o hospital para ver corpos pelos corredores inclusive na sala de espera .
- O que houve Chell ? - Perguntei a minha colega de longa data da residência até o trabalho .
- Um psicopata invadiu o almoço de noivado da ex namorada e disparou contra vinte convidados incluindo a noiva e o noivo que estão gravemente feridos . Boa parte já está tendo seu devido atendimento mas a noiva tem um caso complicado demais para ser tratado por um simples cirurgião inexperiente . Ela tem uma bala alojada entre dois órgãos abdominais e corre risco de hemorragia . Eu sozinha não podia assumi - la junto ao noivo que teve um órgão perfurado por isso o chamei - Explicou e assenti .
- Fez bem - Elogiei pedindo ao enfermeiro logo depois que preparasse a sala de cirurgia para ontem enquanto fiz com velocidade os procedimentos necessário para estar lá em seguida .
Dando um passo a frente depois de um suspiro quase tornei a dar marcha atrás se não fora pelas palavras de Bela ressoando na minha mente .
" É o seu dom e independente do que o impeça de coloca - lo em prática você deve ir porque se você tem em si esse dom não deve privar a quem precisa dele para viver por nenhum sentimento irremediável "
E só então veio a coragem de não só dar outro passo a frente mas de salvar a vida da tão jovem mulher que estava em minhas mãos .
Não vou dizer que foi tão fácil . Na hora em que a frequência cardíaca caiu bruscamente confesso que senti meu coração parar um pouco também devido ao medo de não estar 100% preparado para salvar alguém depois de não o fazer por minha família mas nas palavras reconfortantes outra vez encontrei refúgio e consegui .
Saí da sala de cirurgia uma polegada mais corajoso por ter superado .
Não a morte da Belinda . Isso eu nunca ia superar mas sim o medo de por esta acabar me ressentindo da medicina .
Até porque além de mais corajoso sai com um entendimento mais sereno .
Quem impôs um distanciamento foi o que eu escolhi e não a profissão então não devia haver ressentimento quanto a ela mais a mim que coloquei as vidas acima da minha própria .
Era um egoísmo positivo mais ainda sim letal por escolha minha .
Com isso todavia tiro o fato de ter em algum modo superado .
Olhei para cima e tive que agradecer um instante mas o faria mais com Bela .
Definitivamente eu tive certeza que ela veio para salvar e vou fazer o máximo para que também aconteça com ela uma parcela do que ela fez por mim e por outros hoje .
- Próximo paciente quebrou a perna ao cair de mau jeito quando foi dar uma sarrada ... - Dessa maneira passei o resto da noite atendendo continuamente vários casos parando as vezes somente para pensar em como recompensar a Bela que foi crucial para que eu voltasse .
Eu o faria .
- Pensando em que William ? - Indagou Chell quando estava sentado no corredor depois de mais uma cirurgia .
- Em uma coisa que deixei em casa - Disse somente .
- Quer que eu mande alguém busca - la ? - Indagou e eu sorri .
- Na verdade por agora não - Eu disse por fim pois preferia aguardar chegar a casa .
Porém ao abrir a porta e chamar três vezes sem sucesso eu tive certeza que não estava mais lá .
Principalmente porque havia apenas um recado sobre o sofá "Combinamos um dia . Obrigado por tudo , Bela "

Maite

- Não sou nenhuma vagabunda - Retruquei a mulher esguia que me olhava com desdém .
- Então o que está fazendo sendo mantida por William na casa dele ? - Indagou entrando .
- Eu não estou sendo mantida . Ele está me ajudando - Expliquei mesmo não sendo da incumbência da agressiva desconhecida .
- A troco de que ? - Perguntou .
- De nada . Ele é um homem bom e não é por muito tempo é só até ... - Ela riu sarcástica .
- Ajudando a troco de nada uma jovenzinha de uns vinte anos ? - Ironizou .
- Dezenove - Disse baixo . A maldita língua era incontrolável a qualquer momento - Confirmo .
- Ele é um homem . Mesmo aos dezenove deveria saber que não existem coisas a troco de nada vindo dele ou de qualquer um . Sei que pode se demonstrar bom agora mas outros realmente não se demonstraram antes ? - Indagou justamente na hora que Maria começou a chorar fui até o quarto e a peguei no colo .
- Ao que parece sim . Então seja esperta e não se deixe enganar outra vez - Eu suspirei .
Uma parte de mim não acreditava que ele pudesse ser ruim para mim mas outra muito gritava que eu deveria ser cautelosa quanto a ele ou outro .
Era coração e razão na mesma briga .
- Ele é um conquistador . Vai amolecer seu coração aos poucos e depois trocar você . Vá por mim fuja enquanto é tempo se não quer sair como a vagabunda que já parece ser - Disse dando de ombros .
- Quem é você ? - Indaguei ao fim .
- Pode me chamar de realidade - Disse saindo .
A realidade definitivamente podia ser uma vadia loira .
Mas não deixava de ter sua razão .
Era tolice acreditar que poderia dar qualquer coisa de graça ainda mais se segundo ela William era conquistador .
E eu acredito afinal com seus músculos e seus cabelos claros além de um jeito misterioso era fácil cair em seu encanto .
Eu mesmo questiono se pode ser real .
Claramente não é Be...
Maite .
A razão vence .
Eu preciso urgentemente sair daqui .
Apertei Maria contra o peito e fui .
Andei ruas e ruas sem tentar pensar muito .
Inclusive chorando .
Porque eu só esbarrava com pessoas ilusórias ?
E porque eu ainda me permitia crer que qualquer uma delas seriam diferentes ?
Houve Ivan e há William e ainda que o último tenha se demonstrado sempre bom eu não posso confiar nisso até ele me provar que eu fui tola outra vez .
Pelos céus ele tem pelo menos uns dez anos a mais que eu . E é rico . Como poderia querer somente ajudar - me ?
Eu estou sempre indefesa . É tão fácil me atingir ainda mais com a menina .
Parei quando meus pés ficaram cansados ao chegar num parque e sentei num banco abaixo de uma árvore .
- Eu tenho que pensar num jeito de resolver a vida . Sozinha - Mas como ?
E ademais com uma bebê pequena a tira colo ?
Pensei durante todo o dia mas do nada e sem dinheiro não tive tanta sorte .
Mas afinal quando a tive ?
Como se fosse pouco uma nuvem de chuva despontou no céu me fazendo correr até abaixo de uma ponte antes que chegasse a mim e a Malu que começou a chorar .
- Deve ser fome - Tirei meu seio e a dei de mamar a fazendo calar por enquanto .
Fome .
A última vez que comi foi ontem a essa hora .
E ademais estava tão cansada também .
Agarrei Maria mais forte e puxei um papelão ali perto onde me sentei .
- Isso é meu sua folgada ! Se quiser o seu vá atrás do seu - Gritou uma mulher comigo e devolvi o pedaço voltando a estar de pé .
- Vai chover a noite toda menina . Não pode ficar em pé até amanhã cedo . Tome - Me ofereceu um velho .
- Não obrigado - Recusei .
- É por causa de orgulho que esta aqui . Não continue assim - Declarou o velho .
- Não é por causa de homens que fazem coisas apenas com segundas intenções - Retruquei .
- Os seres humanos são díspares . Ninguém é igual a ninguém menina . Se existem mulheres boas e ruins o mesmo pode acontecer com os homens - Explicou .
- Mesmo você sendo jovem e bonita não pode pensar que todo que te oferece uma mão é com alguma pretensão . Isso não é vida - Continuou .
- Deve confiar no que diz o coração ao invés de convicção baseada em fatos passados . Quem vem depois não tem culpa de quem veio antes .
Entende ? - Assenti .
- Então acha que eu sou um homem mal ? - Indagou.
- Não - Disse por fim .
- Então aceite ao menos esse pedaço de papelão - O ofereceu com um olhar complacente e dessa vez o aceitei me sentando .
O homem afastou - se após e não tentou absolutamente nada como outros .
Nem todos os homens são ruins .
Mas ainda sim não sei o que pensar sobre William depois daquela mulher .
Porém independente da conclusão dessa confusão só fica uma certeza ao olhar a chuva e sentir o frio me atingindo debaixo daquela ponte .
A noite será longa ...

Maktub - O escrito pelo destino jamais será apagado ...Onde histórias criam vida. Descubra agora