Capítulo 1

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A minha respiração ofegava a medida que dobrava a esquina. O meu braço esquerdo pendia para o lado do meu corpo, imóvel e pulsando de dor.

Minha mão direita se apertava contra a ferida do ombro esquerdo na tentativa de estancar o ferimento e impedir que perdesse mais sangue. Mas conforme eu corria, mais e mais do líquido vermelho manchava a manga do que restara da blusa e se acumulava na palma da minha mão.

Corri mais duas quadras quando dei atenção para as minhas pernas, que começaram a falhar. O que não me surpreendia depois de todo esse tempo correndo. Atravessei a rua indo para a outra calçada e desabei do lado de um carro preto estacionado.

As minhas costas entraram em contato com o metal frio, o gelo fez todo o meu corpo estremecer, dei uma espiada através do vidro na direção de onde eu tinha vindo. Não havia sinal de uma alma penada me seguindo. Suspirei aliviada e pude relaxar os músculos tensos, retirei minha mão da ferida para ver o estado.

Um calafrio percorreu pelo meu corpo. Mesmo em um noite escura podia se ver que não estava nada bem.

Se não parasse o sangramento teria sérios problemas.

Olhei mais uma vez para o local de onde viera, ninguém me seguia, um sorriso tímido cresceu em meus lábios. Consegui finalmente despista-los.

Levantei com dificuldade, o que fez meu corpo precisar de apoio que consegui sobre o capo do carro e o alarme de segurança foi acionado.

Me assustei com o barulho e comecei a correr, se eles não estiverem tão longe vão saber aonde estou.

Tentei não me importar com a dor no ombro ou com o cansaço das pernas, dobrei mais duas esquinas quando vi a placa da rua onde me encontrava.

Rua Bispo Antônio de Alcantara, estava perto do hospital regional, era só atravessar o beco que chegaria lá.

Daria tempo, para o meu bem estar tinha que dar tempo.

Meu corpo começou a tremer com o frio da noite adentrando em meus ossos, isso era ruim muito ruim, aumentei o passo para chegar no beco.

O barulho de tiro acabou com o silêncio da noite. Senti a bala entrando na minha perna.

Gritei desabando no chão, o impacto fez o meu braço arder ainda mais.

—Achou que ia fugir de nós Mia? —A voz vinha de um dos capangas de Horsten, Daniel, eu deveria tê-lo matado quando tive chance. —Achei que alguém como você já sabia que ninguém que trai o Horsten sai vivo.

—Eu não trai ele Daniel. —Falei entre os dentes com lágrimas se acumulando em meus olhos devido a dor, tentei me levantar mas naquela altura meu corpo já não me respondia, soltei um gemido baixo quando apenas virei meu tronco para encarar o homem. —Não matei o Felipe.

—Sério Mia? Então por que fugiu? —Daniel recarregou a arma e apontou para a minha cabeça. —Mas isso não importa agora, eu apenas tenho que terminar o trabalho.

Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios quando ele aproximou o cano bem no centro da minha testa, meu corpo estremeceu com aquele metal gelado sobre a minha pele.

—É uma pena ter que matar você. —Falou ele sorrindo de uma forma sádica. —Esses olhos azuis ficam tão lindos quando estão aterrorizados.

O pânico que se instaurava dentro de mim me impedia de amaldiçoa-lo. Eu ia morrer... Não estava preparada para partir deste mundo.

Depois de todos esses anos na rua nunca imaginei que meu fim seria esse, morta pelas mãos do homem que trabalhei. Quanta ironia.

Puxei o ar para os meus pulmões como se fosse a ultima vez que faria isso.

Foi então que uma lata de lixo voou em direção ao braço de Daniel, a arma foi empurrada de lado na hora do disparo e a bala acertou a parede de tijolos alguns centímetros acima da minha cabeça.

Eu me agarrei ao último sopro de força e de esperança que me restava, Daniel se recompunha ainda um pouco desorientado quando o ataquei.

O joguei em direção a parede fazendo seu rosto se chocar contra ela, fui rápida o bastante para acertar um soco no queixo e chutar com a perna boa em seu pulso que segurava a arma.

O barulho de algo se quebrando foi o bastante para me alertar do estrago que fiz em seu pulso. Ele gritou de dor e de ódio, com sangue escorrendo em sua boca, Daniel avançou sobre mim.

Mas eu já estava pronta, com a arma em minhas mãos, permiti que ele aproxima-se para levantar o cano e atirar bem em seu peito. O capanga de meu antigo chefe caiu de joelhos segurando a região que em poucos segundos se tingia de vermelho, vi seus olhos perderem o brilho, ele sussurrou uma ameaça em seus últimos momentos de vida.

—Você não vai consegui se esconder Mia, você é uma garota morta. -Jura Daniel!? Como se eu não soubesse o que Horsten era capaz... Eu trabalho para ele desde de meus 13 anos, sei muito bem o que se passa dentro daquela mente maléfica. 

E por saber disso não pude deixar de tremer com essa a ameaça do morto, cambaleei até uma das paredes em busca de apoio e encarei minha perna.

Ia ser um milagre se eu conseguisse chegar ao hospital, com uma das mãos fui seguindo os tijolos das paredes até o final do beco.

Minha cabeça estava pendendo para os lados e a consciência ia se dissipando a medida que as forças se esvaiam do meu corpo.

As luzes do hospital estavam turvas mas eu ainda conseguia distinguir o brilho das sirenes das ambulâncias e da entrada do hospital. Caminhei sem sentir minhas pernas, sem sentir nada além de frio e dor.

Estava a poucos metros quando desabei, estava exausta, com o corpo tremendo e dois buracos abertos por tiros. Por mais que eu quisesse lutar pela minha vida era fácil reconhecer que aquele era o meu fim.

A minha visão começou a escurecer e as pálpebras pesaram, ficou difícil de impedi-las de se fecharem.

Eu ia morrer, não estava pronta para isso mas ao mesmo tempo não me sentia aterrorizada com a ideia. Já estava farta dessa vida mesmo.

Mas antes do meu mundo se resumir à escuridão avistei uma figura escondida na entrada do beco, ele ou ela saiu de seu esconderijo e passou a andar na minha direção. Pode ser uma alucinação da minha parte, talvez com a perda de grande quantidade de sangue o meu cérebro começara a pregar peças em mim, mas juro que pude ver uma luz branca nascer no peito da figura e iluminar a noite escura como se fosse um farol guiando os barcos por entre as rochas para o porto seguro.

Se tivesse chego mais cedo provavelmente eu iria em direção a ela, mas agora não é o bastante para me afastar da escuridão.

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Oi genteeeeeeee!!!!
Depois de quase um ano sem escrever nada eu venho aqui trazendo uma nova história.
Essa vai ser um pouco mais longa do que a primeira que fiz.
Então se gostarem da história votem e comentem por que esse foi só o começo de uma longa jornada.
Até o próximo capítulo meus anjos 😄😄😄

A Aprendiz do MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora