A Aprendiz do Mago

Capítulo 14

-Bom. -Começou Karias se sentando na minha frente, uma caneca cheia de café foi habilidosamente passada para as minhas mãos, segurei a porcelana entre os dedos, inspirei o cheiro forte do líquido marrom e depois o levei aos lábios sentindo a explosão de sabores na minha boca. Quanto tempo eu não tomava café? -O que você quer saber?

-Eu quero que me conte tudo. -Falei séria, minhas costelas começaram a protestar assim como o resto do meu corpo pedindo um repouso, mas se tinha aguentado toda essa manhã não havia motivos para prolongar mais a conversa. -Não terá mais segredos entre nós se quiser mesmo que eu continue sendo a sua aprendiz.

-Está bem. -Karias bebericou um pouco de seu café antes de começar contar a sua história. -Eu nasci no dia 15 de janeiro de 1364, logo após as crises do século 14 terem assolado a Europa trazendo a tona um certo temor da população em relação ao misticismo que a Sociedade dos Magos tentava a todos os custo esconder.

1364... 1364! Você só pode estar brincando comigo, pensei incrédula. Se Karias tinha nascido nesse ano ele teria pelos meus cálculos... 653 anos...

O meu olhar incrédulo para meu mestre foi o bastante para lhe garantir boas risadas.

-Eu era filho do Senhor Feudal junto com uma criada, um bastardo, mas como a minha mãe tinha falecido no meu nascimento meu pai achou melhor cuidar de mim junto com o filho da atual esposa. -Contou ele, seus olhos não estavam mais nos meus e sim na caneca que ele mexia entre os dedos. -Meu meio irmão, Hugo, e eu desenvolvemos uma amizade inabalável e uma inquebrável lealdade, de modo que ele me tornou seu vassalo, atribuindo terras e riquezas ao meu nome.

Após alguns momentos de quietude Karias se voltou na minha direção.

-Nesse momento a minha vida ia bem, nas festas que meu irmão celebrava conheci Letícia, gostava de chamá-la de Lelê, uma filha de nobres cuja irmã mais nova encantara os olhos de meu irmão. E logo as duas famílias estavam conectadas pelo casamento dele e em seguida pelo meu.

Um sorriso carinhoso diante da pronuncia do nome de Lelê surgiu nos lábios de Karias, tentei me manter focada no que ele me contava deixando de lado o crescente incomodo que me assolava. Não você não esta com raiva ou ciúmes isso é um sentimento tolo e infantil, repetia para mim a todo o momento. Me concentrei em prestar atenção na mudança de expressão de Karias que se tornou sombria e fria.

-Mas tudo mudou após um incêndio que consumiu todo o castelo de meu irmão... Ele e sua esposa faleceram já eu...

Tristeza lampejou nos olhos de Karias quando este colocou a caneca vazia em um canto, emiti um sinto muito para ele mas meu mestre apenas levantou a mão em sinal para que eu deixasse para lá "O tempo se encarregou de cicatrizar essas marcas." Disse ele por fim com o olhar desfocado e vazio.

Eu não tinha tanta certeza em relação a isso.

-Por algum motivo eu não morri, uma coisa me chamou em meio ao fogo... Uma energia que pulsava dentro de mim me guiou em segurança para fora do castelo onde encontrei Letícia junto com o resto da sua família, todos uniram suas magias na tentativa de apagar o fogo no castelo de meu irmão, mas era tarde demais. Depois disso a família me acolheu e o pai de Letícia, Alvaro, passou a ser meu mestre e me ensinou tudo que eu sei sobre a magia. -Uma pilha de gravuras apareceram sobre a mesa, vi a de Lelê entre elas. Haviam também a de uma família reunida, um homem ao lado da esposa sorrindo orgulhosamente com três filhas sentadas na frente e com um rapaz posto ao seu lado. Demorei um tempo para reparar que o rapaz se tratava de Karias, ele estava mais jovem e com os cabelos rebeldes e era tão lindo. -Recebi meu Gizarks e conheci Falis e Onya quando esta ainda não era a Maga Suprema Verde, até hoje somos grandes amigos. E tive a oportunidade de conhecer os Guardiões.