Capítulo 7

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O chato de ser aprendiz é que você tem que obedecer o seu mestre, coisa que não sou muito acostumada mas fui obrigada a fazer.

Eu andava pela rua segurando a lista de encomendas que Karias precisava para suas poções.

Ervas de sono roxo, ramos de moriakas , raízes de Fuga- Fuga, flores da alma do lago entre outras coisas bizarras.

Ótima forma de me ver longe quando quer, bufei sozinha ao lembrar da cena.

Labaredas foram cuspidas da boca de Falis quando a maga repetiu a pergunta, Karias pediu para que ela se acalmasse e me mandou ir atrás das encomendas e voltar para a loja de Falis assim que terminasse o serviço. Ele teve o cuidado de fechar a porta da loja e jogar alguma espécie de feitiço para que nada pudesse ser ouvido do lado de fora.

Não tive opção a não ser ir atrás das mercadorias, o papel que segurava além de ter a lista era um mapa da cidade o que facilitava muito a minha locomoção e localização. Em uma caminhada curta pude perceber o quanto era fácil se perder naquele turbilhão de pessoas e criaturas.

Mas eu não podia deixar de reparar no mundo a minha volta. Era real e existia, a magia existia no mundo.

A dona do orfanato costumava contar histórias de bruxas malvadas que pegavam crianças que comiam sua casa de doce, sobre fadas que realizavam sonhos, duendes que brincavam com as crianças, de sereias que encantavam marujos e de embates de cavaleiros com dragões... Eu achava baboseira na época agora me pergunto se algum dia as histórias foram inspiradas em acontecimentos verdadeiros.

Ou se as próprias histórias são verdadeiras... 

Dobrei a esquina até avistar uma loja chamada Pé de Duende, o lugar parecia mais uma floresta do que uma loja de tanta planta que tinha.

Logo na entrada um sino pequeno soou avisando os vendedores que mais um cliente entrara, caminhei pelo taco de madeira e abaixei a cabeça para desviar dos vasos de plantas aéreos, um senhor pequeno e barbudo saiu do balcão e veio me atender.

—Bom dia senhorita, meu nome é Guiffs ao seu dispor. —Pelas orelhas pontiagudas, estatura baixa e a barba ruiva pude deduzir que estava na presença de um duende.

—Bom dia Guiffs, eu queria encomendar algumas dessas coisas... Para a casa de meu mestre. —Falei entregando para ele a lista, Guiffs a pegou e já entrou para a parte detrás da loja, gritando ordens para alguns funcionários acredito que duendes também.

—Por favor menina venha até o balcão. —Fui até o balcão pequeno dele e o esperei fazer a contabilização da compra.

—Qual é a residência que a encomenda deve ser entregue?

—A casa do mago Karias. —Aquele nome fez o clima ficar sério, as sobrancelhas do duende se arquearam para mim, tive até a impressão de que as plantas murcharam.

—Então a senhorita é aprendiz do "Mago Amaldiçoado"? —O pequenino olhou com um olhar severo, tentei não demonstrar meu incomodo por aquele olhar enquanto me perguntava.

Por que as pessoas reagiam assim com Karias ? Por que elas o encaravam daquele jeito? O que meu mestre fez de tão errado em seu passado ?

—Mago Amaldiçoado... —Repeti essa última parte da pergunta. —Por que ele é chamado de Mago Amaldiçoado? -Pelo visto o seu passado não é um dos melhores.

—Você não sabe da história criança ? —Fiz que não com a cabeça, a barba do duende se aproximou de minha orelha conforme ele sussurrava.

—Dizem que o encontraram desmaiado em sua casa destruída junto com um ritual de magia das Trevas. —Contou o duende em meu ouvido. —Justo na época em que os Mensageiros da Morte haviam sumido misteriosamente...

—Espere aí Guiffs, Mensageiros da Morte? —Perguntei confusa o que seria isso? Algum tipo de clã igual os Comensais da Morte de Harry Potter?

—Foram um grupo de magos que tacavam o terror pelo mundo sob o comando do mago Balzaer "O que será esquecido".  —As orelhas de Guiffs se encolheram. —Eles conseguiam poder roubando a energia vital de outras criaturas ou de outros magos , consequentemente a vítima morria.

Uma sombra passou pelos olhos do duende enquanto ele olhava para a loja, como se eu não estivesse na sua frente, era como se ele as memórias de um tempo passado o invadissem. Tive um certo alívio de não ter ideia que aquele mundo existia nessa época turbulenta.

—Foi uma época sombria. —Concluiu Guiffs voltando seus olhos para os meus.

—O que isso tem haver com o meu mestre ? —Perguntei, eu queria saber mais sobre o homem que me ajudou e essa era a minha oportunidade de saciar a curiosidade.

—Ele foi julgado, acreditavam que era um dos membros mas logo a acusação caiu por terra, pois não havia provas e o Conselho achou melhor jogar um feitiço de contenção fazendo sua magia ser limitado pela metade. —A medida que a língua do duende desenrolava, mais coisas eu descobria. —Os Magos Supremos ficaram com pena do jovem... Bem... A magia das Trevas cobra caro...

—O que ela cobrou dele ? —Eu sei que não devia, mais cedo Karias cortou esse assunto então eu sabia o quanto o incomodava por isso me senti um pouco ruim ter perguntando tudo para Guiffs.

—Ele foi amaldiçoado, qual é a maldição? Eu não sei. Mas a má impressão ficou... As pessoas que viveram naquela época sentem medo, ódio e repulsa dele. Por mais que suas poções sejam as melhores diga-se de passagem, a do sono me ajudou a dormir quando precisei. —Um cacho de planta desceu do vaso em direção à Guiffs que pegou um regador em cima da estante e jogou a água em cima da plantinha que parecia se refrescar. —Pobre moço...

O duende parou de falar quando mais um freguês entrou na loja, uma mulher de cabelos loiros que combinavam com a capa azul clarinho que utilizava e a tiara de prata que ornamentava sua cabeça.

—Ohhh Maga Branca a quanto tempo minha velha amiga, o que procura? —O duende fora direto para mulher e ao passar por mim disse. - Deu 90 reais e as encomendas vão chegar daqui a duas semanas menina, tenha um bom dia.

—A meu amigo preciso de algumas bromélias da água. —Respondeu a mulher com voz aveludada jogando os cabelos loiros por cima dos ombros para dar um charme, o duende fora correndo pegar o que a senhorita pedira.

Tirei a mochila dos ombros e peguei o dinheiro que Karias me dera para pagar por tudo e larguei em cima do balcão, conforme jogava a mochila de volta para as costas e me virava para saída dei de cara com a mulher.

Os olhos eram mais azuis e cintilantes que os meus, a boca era de um vermelho intenso e as bochechas coradas vertiam saúde.

—Quem é você menina? —A voz aveludada trazia consigo uma curiosidade gigantesca, demorou um tempo para eu perceber que ela estava falando comigo.

—Meu nome é Mia. —Respondi ajustando minha mochila, uma risada pequena escapou dos lábios da mulher.

—Mia... Que nome interessante, o meu é Dianne, sou a Maga Suprema do clã dos Magos Brancos. —Fiz que sim com a cabeça e dei um até logo para mulher e para Guiffs que sorriu me desejando um volte sempre, direcione-me para a saída até ser interrompida.

—Você por um acaso sabe quem são os Magos Brancos? —Sim, eu percebi o tom de arrogância junto a pergunta do mesmo modo que havia percebido o exibicionismo quando ela falou quem era. Se tem algo que o mundo me ensinou é que sempre duvide dos bonzinhos demais, dos perfeitinhos demais.

Meu olhar pairou em seu rosto angelical e foi muito fácil de ver que havia algo podre por debaixo daquela faxada de bela moça. Algo muito podre.

A Aprendiz do MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora