Capítulo 4

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Ele bufou e desviou o olhar para a janela do carro.

— Pare de fingir ser o que não é! Eu sabia com quem estava lidando no minuto em que a penetrei.

Louisa não saberia dizer se o que via nos olhos dele era pena ou remorso.

Ela sentiu o sangue queimando seu rosto, porém, para irritá-lo, baixou o olhar para a braguilha dele e provocou:

— Vai me dizer que tem um radar aí embaixo?

— Quem dera se eu tivesse — ele se lamentou. — Jamais teria feito amor com você se soubesse que era tão ingênua.

— Não precisa se sentir culpado por isso. Afinal, eu não era virgem.

— Sei disso. Mas o fato de não ser virgem não afeta sua maneira de ser. Sinto muito pelo que aconteceu naquela noite. Eu imaginava que você fosse diferente. Não tive a intenção de magoá-la.

"Sim. Você teve essa intenção." Ela sentiu vontade de dizer, mas não falou. Era uma análise pessoal. Se Luke ha­via notado o quanto ela era sensível, sabia que a estaria humilhando.

— Tenho certeza de que essa conversa franca é muito comovente, mas não muda o fato de que não temos nada para discutir.

— Decidiremos isso assim que sair o resultado do teste de gravidez.

Luke tornou a usar um tom autoritário na voz. Ela pode­ria rebatê-lo se quisesse e provavelmente deveria. Porém, sentia-se exausta. Só queria livrar-se logo daquela situação e dele também. Afinal, submeter-se a um teste de gravidez não seria tão difícil. Com o acréscimo de se divertir com a cara que ele faria quando o resultado desse negativo.


— Parabéns, srta. DiMarco. Está grávida.

Louisa sentiu o coração bater tão descompassado, que por um momento pensou que sofreria um infarto.

Ela olhou incrédula para a dra. Lester, enquanto os de­dos apertavam os braços da poltrona. Não acreditava que tinha mesmo entendido direito.

— Desculpe-me, doutora. Mas o que foi mesmo que dis­se? — Louisa sentia a própria voz soar baixa e distante, como se viesse de outra dimensão.

— Está esperando um bebê, querida — a médica baixou os olhos para o resultado dos testes, que não levaram mais do que dez minutos para ficarem prontos. — Não há nenhuma dúvida. E a julgar pelos níveis hormonais, a gravidez deve ter uns três meses. Ou isso, ou está esperando gêmeos.

Louisa sentiu as mãos começarem a tremer. Ela agarrou com firmeza os braços da poltrona, com medo de poder cair no chão.

— Será que poderia nos dar a data exata? — perguntou Devereaux, que estava ao lado de Louisa.

Louisa olhou-o atônita. Tinha até se esquecido da pre­sença dele. Não havia feito objeções quanto ao fato de Luke entrar com ela no consultório, principalmente porque estava ansiosa para lançar-lhe um "não lhe disse?" assim que o resultado negativo fosse anunciado pela médica. Se ela ti­vesse a mínima desconfiança do que testemunharia, certa­mente não teria permitido que ele entrasse.

Luke não parecia aborrecido e nem alegre por sua vitó­ria. Aparentava um perfeito autocontrole. E se estava de­cepcionado, disfarçava muito bem.

— O que acham de providenciarmos uma ultrassonografia rápida? — sugeriu a doutora. — Nosso equipamento está na sala ao lado. Poderíamos checar a saúde do bebê e ter uma idéia mais precisa do tempo de gestação.

Louisa clareou a garganta e tentou conter o pânico antes de falar:

— Deve haver algum engano. Eu não estou grávida. Fiz um teste caseiro e, além disso, tive um ciclo... — interrom­peu-se ao notar o quanto revelaria de sua inexperiência se prosseguisse. Encorajada pelo sorriso da profissional, Loui­sa resolveu prosseguir. Pouco lhe importava que Luke sou­besse que ela não fizera sexo com outra pessoa depois do dia em que se encontraram. — Tive um ciclo — ela repetiu — após a minha última relação sexual. O que aconteceu há três meses.

A médica tamborilou os dedos sobre a mesa de trabalho e indagou:

— Qual o laboratório que fabricou o teste de gravidez que usou e qual a data em que o utilizou?

Louisa hesitou em responder. Não lembrava o nome do laboratório, só sabia que ficara muito aliviada quando a tira de papelão se revelara limpa e clara.

— Não lembro o nome do laboratório. Quanto ao teste, eu o realizei uma semana após o nosso... — ela engoliu a saliva para conter o embaraço — nosso encontro. — Con­seguiu finalizar, odiando ter de fazer isso.

— Tudo bem, Louisa — respondeu a profissional com delicadeza. Alguns kits de testes caseiros são eficientes. Outros nem tanto. E na maioria das vezes, um resultado negativo pode ser falso se for feito cedo demais. Agora me responda — quis saber a doutora apoiando os cotovelos so­bre a mesa e lançando um olhar inquisitivo para Louisa. — Como foi o ciclo e quando ocorreu?

— Uma ou duas semanas depois e foi fraco.

— O que você teve não foi um ciclo e sim um leve sangramento. O que não é muito raro no início da gravidez.

Naquele ponto da explicação, Luke resolveu se pro­nunciar:

— E esse pequeno sangramento pode significar algum dano ao bebê?

Louisa manteve o olhar fixo na médica, determinada a nem mesmo olhar para Luke. Toda aquela situação lhe pa­recia irreal. Era como se ela estivesse experimentando uma experiência "fora do corpo". Como ela poderia estar grávi­da daquele homem? E justamente ela, que não pretendia ter filhos, pelo menos nos próximos dez anos. Tinha apenas 26 anos de idade e trabalhara duro para conseguir a posição profissional em que se encontrava.

Quase se matara no colégio para tirar notas altas e se escravizara em trabalhos humildes para conseguir pagar as mensalidades da faculdade, além de turnos noturnos e horas extras no magazine London Nights, tendo que enfrentar o mundo masculino que liderava as reportagens locais. E, finalmente, conseguira se estabelecer como redatora de ar­tigos do Magazine Blush. Ela estava orgulhosa do que ha­via conseguido. 

Escrevia para uma revista de grande reper­cussão e que fatalmente a levaria ao sucesso que tanto ansiava. E justamente agora estava colocando a carreira em risco por causa de uma grande tolice. Tinha se deixado se­duzir por um homem que não dava a mínima para ela, po­rém, deixara uma semente como lembrança. 

Parabéns, ela pensou com ironia. Dessa vez ela havia conseguido se su­perar nas besteiras.

— Não se preocupe com isso, Lotde Berwick — aconse­lhou a profissional. — Tenho certeza de que seu bebê está bem. Como eu já disse, o resultado dos testes mostram que a gravidez está plenamente confirmada. Contudo, uma ultrassonografia nos deixaria ainda mais tranqüilos. — E, di­rigindo a atenção para Louisa, sugeriu:

— Se quiser, pode se dirigir agora mesmo para a sala ao lado, srta. DiMarco.

Louisa hesitou entre recusar ou aceitar o próximo proce­dimento médico. Contudo, ao verificar o olhar determinado de Luke, ela resolveu se conformar.

— Está bem — ela concordou e ergueu-se. Em seguida caminhou na direção da sala indicada pela médica. Ainda mantinha uma pequena esperança de que tudo não passasse de um engano. Quem sabe a ultrassonografia revelasse que não havia bebê algum?

***

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