Capítulo 5

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— Vejam! Já dá para perceber a cabeça e a espinha dorsal do bebê — a doutora revelou com entusiasmo.

— Incrível! — exclamou Devereaux. — Está perfeita­mente nítido!

— Temos o mais moderno equipamento do Estado. E estamos muito orgulhosos de...

Louisa nem mesmo prestava atenção na conversa que Luke mantinha com a médica. Sua atenção estava concen­trada na imagem exibida na pequena tela. A sensação de frio que lhe causava o gel, a pressão do bastão do aparelho sobre o seu abdômen e o som das batidas rápidas do cora­ção do bebê pareciam distantes à medida que ela observava os minúsculos braços e pernas que se moviam inquietos.

Estou vendo o meu bebê!

Aquelas palavras brotavam em sua consciência, segui­das por um atordoado senso de autopiedade.

A médica ajustou alguns botões e um close revelou a face do bebê como mágica. Os olhos estavam fechados e um pequeno punho cobria-lhe o nariz e a boca.

— O que ele está fazendo? — perguntou Louisa, sentin­do como se a voz viesse de muito longe.

A doutora riu.

— Acho que está tentando chupar o polegar.

"Oh, Deus!", exclamou Louisa em pensamento e tentou impedir as lágrimas que ameaçavam irromper. Até aquele momento ela havia pensado apenas em si mesma e em como aquela situação poderia afetar sua vida. O bebê não lhe parecia real até aquele instante. Agora, porém, o remor­so a invadia. Qualquer que fosse seu problema com Devereaux e apesar de que essa gravidez pudesse acabar com os seus sonhos, estava consciente do milagre da vida que sabia estar gerando em seu ventre. E se estava destinada a trazer essa nova vida ao mundo, pelo menos lutaria para que seu filho tivesse o que ela gostaria de ter tido. Um lar estável e cheio de amor.

Por um instante ela se lembrou da própria infância e algumas lágrimas rolaram. Se ela pudesse falar com a mãe apenas mais uma vez... Louisa estendeu um braço para al­cançar um lenço de papel, quando os dedos fortes de Luke agarraram-lhe o pulso. Ela ergueu os olhos e notou que Devereaux a observava com a expressão séria. Ele apa­nhou do bolso um lenço de linho branco e enxugou as lá­grimas do rosto dela. Em seguida, colocou o lenço entre os dedos trêmulos de Louisa.

— Você está bem? — ele quis saber.

"Não muito", ela pensou. E soluçando, enterrou o nariz no lenço para ganhar tempo. O que menos esperava agora era que ele se tornasse tão gentil a ponto de deixá-la sem voz.

— Sim, é claro — Louisa respondeu, assim que con­seguiu falar. Esforçou-se para que o tom de voz soasse natural, embora interiormente estivesse extremamente sentimental.

Naquele instante a voz da médica os interrompeu:

— Ótimo. Já chequei os órgãos vitais e parece que está tudo bem. Devo acrescentar que o feto está um pouco além do comprimento para o tempo de gestação. Poderia me di­zer qual é sua altura Lorde Berwick?

— Por favor, me chame de Luke. Eu tenho l,85m de altura.

— Ah, então está explicado — concluiu a doutora, en­quanto retornava o bastão ao receptor do aparelho e secava o gel do abdômen de Louisa. —A srta. tem idéia de quando o bebê foi concebido?

— O bebê — interveio Demereaux — foi concebido no dia 25 de maio.

Louisa tornou a fechar o roupão assim que a médica ter­minou de retirar o gel. A arrogância daquele homem era realmente insuportável! Mas, infelizmente, tinha que admi­tir que a pequena criatura que aparecia na tela do aparelho era, sem dúvida alguma, filho de Luke. E não havia nada que pudesse fazer para mudar aquela realidade.

Louisa ouviu pacientemente enquanto a médica começa­va a prescrever-lhe vitaminas e cuidados que deveria ter dali em diante.

Devereaux não perdia uma só palavra do que a doutora dizia. A face bonita dele parecia iluminada de alegria pelo que acabava de ver na tela do ultrassom.

A imagem do seu filho!

Louisa suspirou. Ela esperava um filho de Devereaux e não importaria o que fizesse, teria que enfrentar pelo resto da vida uma ligação com aquele homem.

O homem rude e dominador que a ferira tão profunda­mente.

Um homem que a havia enganado e fingido ser o "prín­cipe de seus sonhos" e então a abandonado.

Que tipo de pai ele seria?

As lágrimas ameaçaram brotar novamente. Ela não pre­cisava pensar nisso agora. Era uma questão muito difícil e ainda era cedo demais para se aborrecer com isso.

Contudo, ela não poderia ignorar a ironia do aconteci­mento. O que deveria significar o momento mais incrível de sua vida, também era o mais devastador.

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