Capítulo 16

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Luke observou os pesados portões de ferro de Havensmere serem abertos e, depois de acenar para o velho Joe, dirigiu devagar até passar pelo cattle gride, uma espécie de barreira de metal que impedia os animais de atravessarem, quando ouviu o clique do mecanismo se fechando atrás do carro.

A noite de verão estava agradável e a brisa suave movia as folhas das árvores que circundavam o caminho que leva­va até a imensa mansão construída no estilo paladino. Em menos de cinco minutos, Luke estacionava o carro em fren­te à majestosa construção. Um par de escadarias idênticas e semicirculares conduziam ao primeiro andar. Pilastras de pedra mantinham no topo um par de leões esculpidos em bronze e adornavam as laterais da porta dupla da entrada principal. Ele notou que os jardineiros haviam plantado lobélias azuis nos canteiros que adornavam as sacadas, con­forme solicitara. O trabalho de recuperação e remodelagem do exterior do prédio estava agendado para começar no mês seguinte. E já não era sem tempo, Luke pensou ao observar que as molduras do segundo andar estavam praticamente se esfarelando.

Luke apertou o volante com força. A reação que sentia ao ver a antiga residência era sempre confusa. Quando ele a vira pela primeira vez, cerca de 23 anos antes, ficara fas­cinado pela beleza e surpreso com tamanha grandeza. Para uma criança que vivera os sete primeiros anos de sua vida em um apartamento de dois quartos no lado pobre da cidade de Las Vegas, Havensmere parecia magnífica e assustadora ao mesmo tempo. A imensidão do lugar lhe trazia um sentimento de tristeza e solidão. E quando foi conduzido ao es­túdio de Berwick, o estranho sentimento de abandono aumentou ainda mais. O homem sentado atrás da escrivaninha lhe parecera muito orgulhoso em possuir Havensmere.

Quando Luke fora chamado de volta ao lugar, no ano anterior, para a leitura do testamento de Berwick, ainda carregava os antigos ressentimentos. Até que vira Havensmere de novo. Com as molduras arruinada, canteiros ressecados e caminhos esburacados. Não era mais o sentimento de dor que experimentava e sim de tristeza. O lugar, agora, nem de longe lembrava seu passado glorioso. Ele supunha que fora por um sentimento de pena que resolvera pagar do próprio bolso uma recuperação tão dispendiosa. Contudo, assim que o trabalho estivesse terminado, Luke pretendia retornar para sua cobertura em Chelsea.

O que exatamente faria com o lugar depois que partisse, ainda não tinha a mínima idéia.

Suspirou fundo e olhou para Louisa, que se encontrava encolhida e adormecida no banco do passageiro.

Com o motor do carro desligado, podia ouvir a respira­ção dela. E uma coisa era certa: Luke teria um problema maior do que Havensmere para lidar logo mais. E seu pro­blema estava dormindo como uma criança inocente bem ao lado dele e se chamava Louisa DiMarco — a mãe de seu futuro filho. Com certeza ele ouviria o diabo pela manhã, quando ela acordasse e descobrisse onde estava.

Luke sorriu. Apesar da explosão de nervos que teria de assistir, ele não se arrependia de ter decidido trazê-la para Havensmere assim que a viu adormecida. Ele pretendia de­monstrar o quanto levava a sério suas responsabilidades.

E agora Louisa era sua responsabilidade, quer ela con­cordasse ou não.

Luke notou os cílios dela vibrarem e ouviu um gemido fraco. Porém, a respiração permanecia profunda e constan­te. Ele considerou que ela estivesse muito cansada, para dormir tão profundo, em uma posição desconfortável como aquela. Permaneceu por algum tempo acompanhando o arfar do peito feminino sob o tecido de algodão e lembrou-se da maciez do busto farto pressionado contra a rigidez do seu tórax, quando estavam no posto de gasolina.

A recordação o inquietou e ele foi forçado a admitir para si mesmo que o bebê não era a única razão de tê-la trazido para Havensmere. Tudo em Louisa o encantava. Desde o corpo voluptuoso até os olhos amendoados, que pareciam esconder segredos sensuais que nenhum homem seria ca­paz de resistir.

Contudo, Luke sabia que Louisa nunca seria sua compa­nheira ideal. Ela era inconstante e impetuosa demais para o seu gosto.

Ele retirou as chaves da ignição e seus lábios se curva­ram num sorriso insinuante. Mas, para uma amante de curta temporada, com certeza o potencial dela era enorme.

Após dez anos dirigindo um império financeiro, Luke estava acostumado a ver as pessoas se curvarem diante do seu poder e fazerem exatamente conforme ele lhes ordenas­se. Talvez por Louisa agir de maneira completamente opos­ta é que tenha atraído a atenção dele. Luke adorava desafios e jamais encontrara uma mulher que o enfrentasse daquele modo. Talvez a novidade acabasse perdendo a graça, mas até lá, ele aproveitaria a diversão.

Após colocar as chaves num bolso da calça, ele saiu do carro. Como suspeitava, ela mal se movia enquanto a erguia nos braços e a carregava para dentro da mansão. Albert, o mordomo, manteve a porta aberta e fez uma reverência no momento em que Luke passou por ele e seguiu na direção da escadaria pra chegar ao primeiro andar.

Louisa era mais leve do que ele imaginava para uma mu­lher daquela altura. Contudo, ele sabia que não seria assim por muito tempo. A imagem dela com o ventre proeminente o incomodou por um instante. Mas também o encheu de orgulho e um estranho sentimento de proteção.

No instante em que ele entrou na Rose Room, a suíte que a camareira deixara preparada para acomodar Louisa, Luke ficou satisfeito com a eficiência da sra. Roberts.

Ele acomodou Louisa cuidadosamente na cama kingsize sustentada por quatro pilastras brancas.

Descalçou as botas e as colocou embaixo do braço. Fica­ria com elas por enquanto para garantir que Louisa não acordasse no meio da noite e cometesse a tolice de querer fugir.

Quando ele puxou as cobertas para agasalhá-la, notou que os seios estavam quase expostos por conta da blusa apertada. Ela não parecia confortável dentro das roupas inadequadas para dormir. Porém, não cometeria a tolice de despi-la. Havia um limite para o quanto nobre poderia ser. Fechou as cortinas das imensas janelas e, antes de sair, resolveu dar mais uma espiada em Louisa. Afagou uma me­dia dos cabelos sedosos, aproveitando a calmaria enquanto a tempestade não chegasse. Talvez estivesse ficando louco, mas sentia-se ansioso pela discussão que provavelmente aconteceria pela manhã. Sabia que ela o censuraria por tê-la trazido para Havensmere sem o seu consentimento, porém acreditava que conseguiria vencê-la com argumentos. E, quem sabe, poderiam comemorar juntos a compreensão dela.

***

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