Louisa introduziu um dedo no cós da calça de linho que usava, enquanto descia os degraus da escadaria que conduzia ao hall de entrada da mansão. Seria sua imaginação ou a calça estava mais apertada?
Os saltos finos das botas provocaram um ruído à medida que alcançava o piso de mármore do hall. O som ecoou no silêncio. Ela ergueu a cabeça pa*a observar o teto alto e abobadado, construído com telhas de vidro, que promoviam uma claridade natural ao ambiente.
Havia alguns retratos com molduras douradas pendurados na parede revestida com papel de seda pintado à mão. Poucas mobílias no estilo Chippendale estavam estrategicamente distribuídas e tão bem polidas que pareciam espelhadas.
Uma série de corredores seguiam em diversas direções. Alguns no próprio patamar e outros que conduziam ao subsolo. Luke não estava brincando quando disse que Havensmere possuía cerca de 60 quartos. Apesar da intensa claridade, o ambiente era frio. Magnífico mas intimidador, assim como o homem com quem iria se encontrar.
Ainda bem que ela conseguira terminar a maquiagem. Sentia-se mais segura quando estava bem produzida.
— É bom vê-la tão disposta, srta. DiMarco!
Louisa girou a cabeça na direção da voz suave e com um sotaque comum ao pessoal do lado oeste do país. Uma mulher robusta e com faces coradas caminhava na direção dela. Usava um avental branco e os sapatos de tecido praticamente deslizavam sobre o piso polido.
— Sou a sra. Roberts — prosseguiu a mulher —, governanta do sr. Devereaux — revelou com um sorriso gentil. E após secar a mão no próprio avental a estendeu para cumprimentar Louisa.
— Prazer em conhecê-la, sou Louisa DiMarco.
— O prazer é meu, querida — a governanta alargou o sorriso. — O sr. Devereaux está aguardando-a no terraço próximo da piscina. O chef preparou um belo salmão grelhado para o almoço. Vou avisar para Ellie que já poderá servir a refeição.
— Obrigada.
A governanta indicou o melhor caminho para chegar ao terraço e lançando um olhar discreto para o ventre de Louisa, declarou:
— O sr. Devereaux nos contou a novidade. E em nome dos funcionários da casa eu gostaria de parabenizá-la.
Louisa esboçou um sorriso sem saber o que dizer. Então Luke havia falado sobre o bebê para o pessoal. Sem saber exatamente a razão, Louisa sentiu-se desconfortável com a notícia.
— Estamos felizes em recebê-la aqui em Havensmere — a mulher continuou, mantendo o sorriso educado. — Se precisar de algo é só avisar.
— Obrigada, sra. Roberts. Eu farei isso.
Louisa assistiu a mulher se afastar e sentiu-se mais assustada do que nunca. Não que fosse completamente estranha ao estilo de vida de pessoas ricas e famosas. Como trabalhava para uma das revistas mais lidas pela alta sociedade, muitas vezes recebia convites para reuniões e coquetéis nas mais sofisticadas mansões de Londres. Contudo, nunca fora recebida em nenhuma delas como se fosse sua própria casa.
Embora tivesse crescido num lugar modesto e a família inteira se apertava em três pequenos quartos, ela nunca passara por privações. O pai era dono de uma doceria na parte Norte de Londres e ganhava o suficiente para garantir o pão de cada dia.
À medida que ela caminhava pelo extenso corredor que levava aos fundos do edifício, reparava nos aposentos enormes — e qualquer deles poderia conter o apartamento inteiro onde crescera — se perguntava se haveria lugar para ela e o seu bebê no mundo de Luke Devereaux.
Assim que abriu a porta envidraçada e avistou os jardins, sentiu-se como uma atriz, momentos antes de seu primeiro ensaio e que havia esquecido o roteiro. Ela inspirou o aroma delicioso das flores e preparou-se para atuar no papel principal de sua vida real.
Louisa avistou a água azul e convidativa da piscina enquanto subia os poucos degraus do terraço. Notou Devereaux de costas e acomodado à mesa esculpida em ferro forjado e protegida pela sombra de uma árvore frondosa. Uma jovem devidamente uniformizada distribuía os pratos e talheres sobre a mesa forrada com uma toalha de linho branca, enquanto ele lia o jornal.
Não fosse pelo jeans que Luke usava, a cena que Louisa via parecia semelhante a uma pintura antiga de Renoir.
Ela observou que Luke fez um breve aceno para a moça. Imediatamente ela fez uma reverência e retirou-se. Não era à toa que Devereaux tinha uma atitude tão arrogante. Com certeza ele crescera acostumado a dar ordens e ser obedecido no ato.
Quando os saltos das botas pisaram no chão de pedra polida, Luke girou a cabeça e a olhou por cima de um ombro. Depois dobrou o jornal e ergueu-se para recepcioná-la. O gesto cavalheiresco não a impressionou. Louisa sabia muito bem como as maneiras impecáveis poderiam desaparecer rapidamente sempre que ele se sentisse desafiado.
— Espero que esteja com fome. Leonardo preparou um prato que daria para servir um batalhão — ele gracejou e apontou um dedo na direção da enorme travessa que continha o salmão, acompanhado de uma salada variada.
Antes de se acomodar, Louisa percebeu que os expressivos olhos acinzentados a estudavam. O coração quase perdeu o compasso. Calma!, essa voz interior a aconselhava. Ele é apenas um homem. E você não é subordinada dele.
— Hum... Parece apetitoso! — exclamou ela, feliz pelo rugido do estômago ter sido disfarçado pelo barulho das folhas.
Devereaux tornou a se sentar e começou a se servir. Louisa o observou. Não era à toa que ela o achara irresistível na noite em que o conhecera. Suas maneiras refinadas e aristocráticas revelavam o homem acostumado a reinar.
Ela apanhou um guardanapo e o colocou sobre o colo.
Seria obrigada a enfrentar uma batalha se quisesse demonstrar para Luke Devereaux que ele não era o dono dela. E para que essa idéia surtisse resultados, Louisa teria que refrear seus próprios instintos. Ir para a cama com ele, no momento em que Devereaux apenas estalasse os dedos, não seria a melhor maneira de convencê-lo de que ela não era o seu mais novo brinquedo.
Luke assistiu Louisa garfar um pedaço de salmão e colocá-lo na boca. Uma minúscula partícula do peixe grudou em seu lábio inferior e ela estendeua ponta da língua rosada para lambê-lo. Ele se remexeu na cadeira e deu um meio-sorriso malicioso.
Louisa DiMarco era a mulher mais problemática que conhecera e também a mais fascinante.
Luke não estava habituado a ser confrontado da maneira como Louisa fizera. Da última vez que ela o rejeitara, estava claro que era apenas fingimento. Tudo bem que a gravidez ocasionasse uma mudança no equilíbrio hormonal mas, até onde ele podia perceber, ela ainda o desejava.
Assim que contornasse a diferença de opiniões entre eles, Luke pretendia se assegurar de que seu bebê tivesse a melhor assistência e Louisa DiMarco estivesse exatamente no lugar que ele desejava.
Demereaux ergueu a jarra que continha limonada gelada e serviu refresco a ambos.
Levou seu copo aos lábios e permitiu que o líquido refrescasse a garganta ressecada. Pela borda do recipiente ele observava a oponente. Luke já esperava que ela não aceitasse as idéias dele, contudo, ele já estava preparando uma nova estratégia. E dessa vez esperava que funcionasse. Ela o provocara tanto naquela manhã, que Luke perdera o controle da situação por um momento. Porém, não iria cometer o mesmo erro. Afinal, o caçador era ele e não estava disposto a perder o jogo novamente.
*****
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sempre Amor
RomanceO sexy milionário Luke Devereaux apareceu no escritório de Louisa, a arrastou para o médico e exigiu que ela fizesse um teste de gravidez. E, para seu total horror e consternação, o resultado foi positivo! Três meses antes, Luke dera a Louisa uma no...