Capítulo 20

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Louisa introduziu um dedo no cós da calça de linho que usava, enquanto descia os degraus da escadaria que condu­zia ao hall de entrada da mansão. Seria sua imaginação ou a calça estava mais apertada?

Os saltos finos das botas provocaram um ruído à medida que alcançava o piso de mármore do hall. O som ecoou no silêncio. Ela ergueu a cabeça pa*a observar o teto alto e abobadado, construído com telhas de vidro, que promo­viam uma claridade natural ao ambiente.

Havia alguns retratos com molduras douradas pendura­dos na parede revestida com papel de seda pintado à mão. Poucas mobílias no estilo Chippendale estavam estrate­gicamente distribuídas e tão bem polidas que pareciam espelhadas.

Uma série de corredores seguiam em diversas direções. Alguns no próprio patamar e outros que conduziam ao sub­solo. Luke não estava brincando quando disse que Havens­mere possuía cerca de 60 quartos. Apesar da intensa clari­dade, o ambiente era frio. Magnífico mas intimidador, assim como o homem com quem iria se encontrar.

Ainda bem que ela conseguira terminar a maquiagem. Sentia-se mais segura quando estava bem produzida.

— É bom vê-la tão disposta, srta. DiMarco!

Louisa girou a cabeça na direção da voz suave e com um sotaque comum ao pessoal do lado oeste do país. Uma mu­lher robusta e com faces coradas caminhava na direção dela. Usava um avental branco e os sapatos de tecido prati­camente deslizavam sobre o piso polido.

— Sou a sra. Roberts — prosseguiu a mulher —, gover­nanta do sr. Devereaux — revelou com um sorriso gentil. E após secar a mão no próprio avental a estendeu para cum­primentar Louisa.

— Prazer em conhecê-la, sou Louisa DiMarco.

— O prazer é meu, querida — a governanta alargou o sorriso. — O sr. Devereaux está aguardando-a no terraço próximo da piscina. O chef preparou um belo salmão gre­lhado para o almoço. Vou avisar para Ellie que já poderá servir a refeição.

— Obrigada.

A governanta indicou o melhor caminho para chegar ao terraço e lançando um olhar discreto para o ventre de Loui­sa, declarou:

— O sr. Devereaux nos contou a novidade. E em nome dos funcionários da casa eu gostaria de parabenizá-la.

Louisa esboçou um sorriso sem saber o que dizer. Então Luke havia falado sobre o bebê para o pessoal. Sem saber exatamente a razão, Louisa sentiu-se desconfortável com a notícia.

— Estamos felizes em recebê-la aqui em Havensmere — a mulher continuou, mantendo o sorriso educado. — Se precisar de algo é só avisar.

— Obrigada, sra. Roberts. Eu farei isso.

Louisa assistiu a mulher se afastar e sentiu-se mais as­sustada do que nunca. Não que fosse completamente estra­nha ao estilo de vida de pessoas ricas e famosas. Como trabalhava para uma das revistas mais lidas pela alta socie­dade, muitas vezes recebia convites para reuniões e coque­téis nas mais sofisticadas mansões de Londres. Contudo, nunca fora recebida em nenhuma delas como se fosse sua própria casa.

Embora tivesse crescido num lugar modesto e a família inteira se apertava em três pequenos quartos, ela nunca pas­sara por privações. O pai era dono de uma doceria na parte Norte de Londres e ganhava o suficiente para garantir o pão de cada dia.

À medida que ela caminhava pelo extenso corredor que levava aos fundos do edifício, reparava nos aposentos enor­mes — e qualquer deles poderia conter o apartamento intei­ro onde crescera — se perguntava se haveria lugar para ela e o seu bebê no mundo de Luke Devereaux.

Assim que abriu a porta envidraçada e avistou os jardins, sentiu-se como uma atriz, momentos antes de seu primeiro ensaio e que havia esquecido o roteiro. Ela inspirou o aro­ma delicioso das flores e preparou-se para atuar no papel principal de sua vida real.

Louisa avistou a água azul e convidativa da piscina en­quanto subia os poucos degraus do terraço. Notou Deve­reaux de costas e acomodado à mesa esculpida em ferro forjado e protegida pela sombra de uma árvore frondosa. Uma jovem devidamente uniformizada distribuía os pratos e talheres sobre a mesa forrada com uma toalha de linho branca, enquanto ele lia o jornal.

Não fosse pelo jeans que Luke usava, a cena que Louisa via parecia semelhante a uma pintura antiga de Renoir.

Ela observou que Luke fez um breve aceno para a moça. Imediatamente ela fez uma reverência e retirou-se. Não era à toa que Devereaux tinha uma atitude tão arrogante. Com certeza ele crescera acostumado a dar ordens e ser obedeci­do no ato.

Quando os saltos das botas pisaram no chão de pedra polida, Luke girou a cabeça e a olhou por cima de um om­bro. Depois dobrou o jornal e ergueu-se para recepcioná-la. O gesto cavalheiresco não a impressionou. Louisa sabia muito bem como as maneiras impecáveis poderiam desapa­recer rapidamente sempre que ele se sentisse desafiado.

— Espero que esteja com fome. Leonardo preparou um prato que daria para servir um batalhão — ele gracejou e apontou um dedo na direção da enorme travessa que conti­nha o salmão, acompanhado de uma salada variada.

Antes de se acomodar, Louisa percebeu que os expres­sivos olhos acinzentados a estudavam. O coração quase perdeu o compasso. Calma!, essa voz interior a aconselha­va. Ele é apenas um homem. E você não é subordinada dele.

— Hum... Parece apetitoso! — exclamou ela, feliz pelo rugido do estômago ter sido disfarçado pelo barulho das folhas.

Devereaux tornou a se sentar e começou a se servir. Loui­sa o observou. Não era à toa que ela o achara irresistível na noite em que o conhecera. Suas maneiras refinadas e aristo­cráticas revelavam o homem acostumado a reinar.

Ela apanhou um guardanapo e o colocou sobre o colo.

Seria obrigada a enfrentar uma batalha se quisesse de­monstrar para Luke Devereaux que ele não era o dono dela. E para que essa idéia surtisse resultados, Louisa teria que refrear seus próprios instintos. Ir para a cama com ele, no momento em que Devereaux apenas estalasse os dedos, não seria a melhor maneira de convencê-lo de que ela não era o seu mais novo brinquedo.

Luke assistiu Louisa garfar um pedaço de salmão e colo­cá-lo na boca. Uma minúscula partícula do peixe grudou em seu lábio inferior e ela estendeua ponta da língua rosa­da para lambê-lo. Ele se remexeu na cadeira e deu um meio-sorriso malicioso.

Louisa DiMarco era a mulher mais problemática que co­nhecera e também a mais fascinante.

Luke não estava habituado a ser confrontado da maneira como Louisa fizera. Da última vez que ela o rejeitara, esta­va claro que era apenas fingimento. Tudo bem que a gravi­dez ocasionasse uma mudança no equilíbrio hormonal mas, até onde ele podia perceber, ela ainda o desejava.

Assim que contornasse a diferença de opiniões entre eles, Luke pretendia se assegurar de que seu bebê tivesse a melhor assistência e Louisa DiMarco estivesse exatamente no lugar que ele desejava.

Demereaux ergueu a jarra que continha limonada gelada e serviu refresco a ambos.

Levou seu copo aos lábios e permitiu que o líquido re­frescasse a garganta ressecada. Pela borda do recipiente ele observava a oponente. Luke já esperava que ela não acei­tasse as idéias dele, contudo, ele já estava preparando uma nova estratégia. E dessa vez esperava que funcionasse. Ela o provocara tanto naquela manhã, que Luke perdera o con­trole da situação por um momento. Porém, não iria cometer o mesmo erro. Afinal, o caçador era ele e não estava dispos­to a perder o jogo novamente.

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