Capítulo 7

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O pensamento de que ele poderia não querer o bebê ela até poderia entender, mas a idéia de um aborto era insuportável.

Em um ponto ela teria de admitir que ele estava certo: ela estava cansada e abalada emocionalmente. E por isso mesmo, não estava a fim de discutir qualquer coisa no mo­mento. Principalmente com um homem acostumado a con­seguir tudo que queria, a qualquer custo.

A primeira coisa que Louisa precisava seria uma boa noite de sono para recuperar as forças. Talvez o fato de ir com Luke para Havensmere pudesse fazer com que ga­nhasse tempo para pensar, em vez de ficar discutindo. Entretanto, havia algo que ela gostaria de deixar claro, antes de acompanhá-lo:

— Para ser franca, acho seu comportamento muito pos­sessivo.Talvez, se parasse de me tratar como se eu fosse sua propriedade, eu não teria razão para ser hostil.

Luke ergueu as sobrancelhas e Louisa notou que ele não gostara nem um pouco da observação dela em relação ao seu caráter. O queixo masculino se enrijeceu como se esti­vesse censurando o que desejava dizer.

De repente, Louisa teve um lampejo de memória do que acontecera naquela noite. Luke fizera a mesma expressão quando se esforçara para segurar o orgasmo enquanto per­mitia que ela explodisse de prazer. A reação física que se seguiu à lembrança a deixou surpresa. Sentiu a musculatura das coxas relaxarem e os mamilos enrijecerem. E isso só poderia significar uma coisa: excitação.

O que havia de errado com ela? Como poderia ainda es­tar atraída pelo homem que a usara apenas para vingar-se e agora pensava em forçá-la a um aborto?

— Há algo errado? — a voz de Luke soou preocupada.

— Está doente?

— Não. Estou bem — murmurou e esforçou-se para não demonstrar o estado de pânico em que se encontrava.

Luke tocou uma das bochechas dela com a ponta de um dedo:

— Parece tão pálida! Ainda está sofrendo daqueles en­jôos?

— Não — ela negou e apressou-se em disfarçar o cho­que eletrizante que o toque dele lhe provocara. Contudo, o aroma da colônia dele a torturava. Devia ser isso! De repen­te ela deduziu. A súbita excitação que sentira deveria ter acontecido por causa dos hormônios da gravidez. Havia lido em algum lugar que as mulheres grávidas reagem ins­tintivamente quando sentem a essência usada pelo pai de seu filho. Algo a ver com feromônios. Ela se sentiu alivia­da. Não estava atraída por Luke. O que acabara de sentir era apenas resultado de uma reação química.

— Mantenho uma equipe de empregados em Havensmere — informou Luke. — A mansão tem cerca de 60 aposen­tos e uma área de lazer gigantesca. Será o lugar ideal para você descansar e nos proporcionará espaço e privacidade para discutirmos as providências necessárias.

— Não estou com disposição para conversar esta noite

— Louisa respondeu tentando uma evasiva. Estava apavo­rada com a idéia do que ele estaria querendo dizer com "providências necessárias".

— Entendo. Eu também não estou disposto. Porém, como pretendo ir para lá agora, gostaria que fosse comigo. Por favor.

Louisa imaginava que passar o final de semana com ele não seria a decisão correta, entretanto, o olhar suplicante quando ele pediu "por favor" a deixou hesitante. E tinha que admitir que não era somente por isso. A maneira como ele pedira a fizera sentir-se como se tivesse conquistado uma grande vitória. Além disso, estava começando a sentir-se exausta e não teria a mínima disposição de iniciar outra discussão com ele.

— Está bem. Eu o acompanharei. Mas só se for por ape­nas uma noite.

Luke concordou gesticulando com a cabeça e saiu do carro.

Após contornar o veículo, ele abriu a porta do passageiro e ajudou-a a descer apoiando um cotovelo de Louisa.

Ela procurou ignorar essa gentileza. Seria uma tola, caso se deixasse enganar outra vez pelas boas maneiras de Luke.

— Eu preferiria que você me esperasse no carro — pe­diu Louisa. A última coisa que desejava naquele momento seria que ficassem a sós no apartamento dela. As memórias daquela noite ainda estavam muito presentes. — Posso pe­dir ao porteiro que consiga um cartão de estacionamento, caso você não tenha nenhum.

— Não se preocupe. Eu me arranjo com isso. Só não demore demais.

— Vou demorar o quanto precisar, Devereaux.

Louisa tentou conter a irritação enquanto galgava com passos firmes os dois lances de escada que conduziam ao seu apartamento.

Após acomodar algumas roupas e artigos de toalete na mochila de couro, ela suspirou profundamente. Estava con­trariada por ainda sentir os efeitos da excitação inesperada.

Trancou a porta de entrada do apartamento e desceu a escadaria na direção da rua.

Assim que pisou na calçada avistou Devereaux apoiado na lataria do extravagante veículo esportivo, com as pernas cruzadas na altura dos tornozelos e falando ao celular. Na­quela distância ela não podia distinguir o que ele dizia, mas parecia relaxado e confiante, o que fez Louisa ficar ainda mais furiosa. Ali estava ela, enfrentando o maior e mais assustador desafio de sua vida, enquanto o homem que pro­vocara tudo isso, conduzia seus negócios de maneira habi­tual. O mundo dela havia se transformado no espaço de uma tarde e ele demonstrava não ter nada com que se preo­cupar. E o fato de ele parecer tão tranqüilo a deixava à beira de um colapso.

Esforçando-se para controlar o ressentimento, Louisa começou a caminhar na direção do carro.

— Chegaremos por volta das oito da noite — Luke avisou para a governanta. — Prepare a suíte conjugada. Nos vere­mos logo mais, sra. Roberts. — Após aquelas palavras, ele encerrou a ligação, alertado pelo barulho dos saltos altos das botas de Louisa.

Ele se afastou do carro e preparou-se para encontrá-la:

— Tudo resolvido?

Ela entregou a mochila e abriu a porta do lado do passa­geiro. Antes de entrar, respondeu:

— Vamos acabar logo com isso.

Luke socou a mochila no porta-malas e entrou no carro pelo lado do motorista.

— Pensei que tivéssemos combinado encerrar as hos­tilidades — ele resmungou, enquanto dava a partida no veículo.

— Combinamos? Devo ter me esquecido. Sinto muito. Luke sorriu. Não conseguia ficar zangado com ela por muito tempo. A maneira como Louisa ficava bonita corada e os lampejos de ira nos olhos castanhos faziam sentir-se ainda mais excitado.

— Acha o que está acontecendo engraçado? — ela reba­teu com fúria.

Luke reprimiu o riso. Ela estava certa. O comportamento dele estava mais do que inadequado.

— Desculpe-me. É que você fica tão linda quando está zangada que eu não consegui resistir. Notei isso naquela primeira noite e continuo achando o mesmo.

— Se isso significa um elogio, eu tenho pena da mulher que tiver a infelicidade de se envolver com você!

— Assim como você? — retrucou ele, ironizando e ao mesmo tempo ignorando o insulto.

— Um rápido contato sexual não quer dizer exatamente um envolvimento — ela devolveu.

— Pelo que me lembro não foi tão rápido.

Louisa não disse uma palavra enquanto ele freava o car­ro no semáforo que exibia o sinal vermelho para quem de­sejasse dirigir-se para a Westway. Luke aproveitou para pressionar o botão que erguia a cobertura do conversível.

— Não quero falar sobre aquela noite. — Por fim, ela se manifestou. — Tenho tentado esquecê-la nos últimos três meses.

— Parece que teve tanto êxito quanto eu — revelou ele, percebendo a confusão nos olhos dela quando o encarou. — E acho que agora não será permitido a nenhum de nós dois esquecer o que aconteceu naquela noite, não é?

Louisa suspirou.

— Tem razão. Mas isso não significa que tenhamos que repetir o mesmo erro de novo.

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