Capítulo 17

14.3K 959 40
                                    


Louisa inalou o suave perfume das flores do campo e abriu as pálpebras.

Olhou surpresa as pesadas cortinas de veludo vermelho e o raio dourado de sol que penetrava através de uma fresta deixada no espaço de união entre os dois lados da cortina.

Ela piscou algumas vezes, porém a cortina continuava no mesmo lugar. Ergueu os olhos notou a cobertura da cama, ornamentada com o mesmo veludo da cortina. E en­tão reparou nas pilastras.

"O que ela estava fazendo naquela cama em estilo me­dieval?"

Ergueu o corpo levemente e apoiando-se nos cotovelos correu os olhos ao redor do ambiente. O quarto era enor­me. Pelo menos duas vezes maior que seu apartamento inteiro. Os móveis eram antigos, mas de excelente qualidade. Ela nunca imaginara existir um quarto tão grande em algum lugar.

Quando baixou o olhar para o vestido amarrotado, algu­mas imagens do que acontecera no dia anterior lhe vieram à mente, como um filme programado para avançar rápido: o olhar furioso de Luke enquanto se inclinava sobre a mesa de trabalho dela; a imagem tridimensional do bebê na tela do aparelho de ultrassonografia; os dedos longos e fortes de Luke apertando o volante; a pressão do corpo dele contra o dela no posto de gasolina...

Louisa saltou da cama e disparou na direção de uma das janelas. Os pés descalços afundavam na maciez do carpete. Afastou as cortinas e piscou quando a claridade repentina a ofuscou. Quando conseguiu abrir os olhos novamente ficou espantada com a paisagem que podia distinguir através da vidraça. Podia ver South Downs à distância. A antiga flo­resta que agora se reduzia a extensos gramados. Colocou-se na ponta dos pés e espiou para baixo e avistou os jardins que circundavam a casa.

Aquilo não era um sonho. Estava mais para pesadelo.

Luke tivera a ousadia de a sequestrar!

Louisa dobrou as mangas do robe de cetim que havia en­contrado num armário e após ter escovado os cabelos, veri­ficou como estava sua aparência no espelho do banheiro. Parecia mais jovem e extremamente miúda no robe, muito maior que ela. Não era exatamente esta imagem que ela gostaria de ostentar para enfrentar Devereaux. Pelo menos tivera uma boa noite de sono e um banho relaxante. Agora só lhe restava colocar as próprias roupas e procurá-lo. E, quando o encontrasse, ela o deixaria bem ciente do que pensava a respeito de crimes como o que ele acabara de cometer. Depois iria para casa. Não sabia exatamente como conseguiria fazer isso, já que estava descalça, sem carro e sem dinheiro. Pensaria em alguma coisa. O que não supor­tava era ser tratada dessa maneira.

Quando Louisa saiu do banheiro, ainda de robe, foi sur­preendida pela presença dele no quarto.

— Bom dia, Louisa!

O som grave e intimidador da voz dele a enfureceu. Luke parecia completamente à vontade ocupando uma das pol­tronas junto à mesa de café. Vestia calça jeans e uma cami­seta pólo azul. O traje casual a fez lembrar-se da noite em que ficaram juntos. Ela notou que as botas dela estavam acomodadas ao lado dos pés dele.

— O que está fazendo no meu quarto?

— Já é quase uma da tarde — ele se ergueu e caminhou na direção dela. — O almoço está pronto. Achei que pode­ríamos almoçar juntos no terraço.

Ela empinou o nariz no momento que ele estacou na sua frente.

— Não tenho nenhuma intenção de almoçar com você. E assim que me vestir, irei embora daqui.

Luke curvou os lábios num sorriso sarcástico.

Louisa sentiu o sangue subir ao ver que ele a media da cabeça aos pés. Como Demereaux tivera a ousadia de en­trar no quarto dela sem o seu consentimento?

Ela nem mesmo havia colocado suas roupas e terminado a maquiagem. Poderia até estar nua! O que não daria agora por um pouco de gloss!

— Pense com calma — ele aconselhou, sem tirar os olhos do abdômen dela. — Precisa comer alguma coisa. Principalmente nessas condições. Não a deixarei ir embora sem se alimentar primeiro.

O tom de ameaça na voz dele a irritou ainda mais.

— Não pode me impedir! — ela anunciou e, passando por ele, escancarou a porta da suíte:

— Agora, saia do meu quarto!

Luke cruzou os braços contra o peito, recostou um om­bro numa das pilastras da cama e ergueu uma sobrancelha. Não moveu um músculo sequer para obedecer o comando dela.

— Por mais que eu goste de suas pequenas explosões, Louisa — ele prosseguiu no tom arrogante que ela tanto odiava —, tenho de admitir que estou faminto. Por isso, por que não para de agir como uma criança mimada e me acompanha no almoço e então poderemos conversar como adultos?

Ela suspirou e retirou a mão da maçaneta da porta.

— Sinto informar que a criança aqui é você e não eu!

Louisa repousou as mãos nos quadris e estufou o peito.

Estava pronta para a briga. Só então reparou a atenção dele voltada para o seu busto. Baixou o olhar e notou que os movimentos bruscos que fizera afastaram as lapelas do robe e os seios estavam praticamente expostos. Louisa apressou-se em ajustar o robe. Sentiu os mamilos rijos se evidenciarem por baixo do cetim, reagindo ao olhar cobiçoso de Luke.

— O que estava dizendo? — Luke perguntou, distraído. Ela limpou a garganta, tornou a cruzar os braços frente ao peito e falou tentando demonstrar sua indignação:

— Não vou me sentar tranqüilamente e almoçar com você, depois de me seqüestrar!

Ele bufou e depois riu com incredulidade:

— Não acha que está dramatizando demais?

— Não. Não acho! — ela berrou com toda a força dos pulmões. Depois interrompeu-se para tomar fôlego. Arre­pendeu-se de ter gritado. Agir com histeria só serviria para adular o ego masculino. — Não estou dramatizando — re­petiu com a maior calma que conseguiu. — Você concor­dou em me deixar na primeira estação de trem que encon­trasse. Você mentiu para mim.

— Eu nunca lhe disse que concordava com essa idéia — replicou ele, com uma certeza absoluta.

Louisa vasculhou a mente tentando lembrar-se do que ele dissera ou não. Então recordou que ele deliberadamente apenas balançara a cabeça.

— Não importa o que você disse ou não. O fato é que sabia que eu não queria vir para Havensmere e por isso não deveria ter-me trazido. Simplesmente isso!

— Não é tão simples — ele retrucou e endireitou o corpo. Louisa deu um passo atrás quando o viu aproximar-se dela.

— Não chegue mais perto! — ela avisou com as palmas das mãos erguidas num gesto defensivo.

Luke prosseguiu avançando e ela recuou até recostar na parede. As mãos tocaram no tecido de algodão da camisa que ele usava e Louisa pode sentir-lhe a tensão dos músculos.

— Você estava exausta e abalada emocionalmente. E grávida do meu filho... — Luke acariciou-lhe um lado do rosto com o dorso da mão. A ternura que podia ver nos olhos dele a desconsertaram. — Acha que eu teria coragem de deixá-la sozinha num trem, nessas condições?

— O que eu acho é que você invadiu meu espaço pes­soal — ela tentou argumentar com a voz ofegante por cau­sa do calor que se espalhava rapidamente pelo corpo.

Ele lhe aprisionou o rosto entre as palmas gigantes e deu um sorriso eletrizante.

— Essa era a minha idéia — confessou Luke, enquanto inclinava a cabeça para um sussurro:

— Sabia que seus olhos ficam mais escuros quando está excitada?

***

Sempre AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora