Capítulo 6

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Luke engatou a segunda marcha do carro e seguiu na di­reção da Regenfs Park. Ao mesmo tempo espiou Louisa com o canto dos olhos, que se mantinha silenciosa no banco do passageiro.

Ela passara os últimos dez minutos olhando através da janela do carro. E não trocara mais do que algumas pala­vras, desde que saíram do consultório.

Luke começava a ficar aborrecido. Pelo pouco que co­nhecia sobre Louisa DiMarco, sabia que ela não era do tipo calado.

No primeiro e único encontro que tiveram, ele ficara fas­cinado com a maneira como ela falava animada e quase sem parar. É claro que ele precisou agüentar o lado afiado da língua dela quando revelou sua verdadeira identidade. Entretanto, ainda seria preferível ouvir-lhe as críticas do que aquele insuportável silêncio.

Sem querer, ele acelerou mais.

O limite de velocidade do parque fora com certeza ultra­passado, porém, às três da tarde de uma sexta-feira e com a previsão do tempo anunciando um sol glorioso por todo o final de semana, o centro da cidade se encontrava pratica­mente deserto.

Enquanto a majestosa avenida, cercada de árvores cente­nárias, passava rapidamente pela visão das janelas do carro, Luke contemplava a reação de Louisa. Talvez o silêncio dela fosse até útil. Ele precisava se concentrar na situação e firmar sua posição.

Até aquele momento ele estava chocado com o compor­tamento irresponsável dela. Não lhe ocorrera a possibilidade de que realmente ela não soubesse que estava grávida. Não era sabido que as mulheres possuíam um sexto sentido com relação à maternidade? Era o que Luke pensava. Mas, pelo visto, Louisa não tinha a menor suspeita de que estava es­perando um bebê.

No instante em que ele a viu deitada no diva para se submeter à ultrassonografia, parecendo ainda mais miúda no robe largo, o olhar assustado que ela exibia não demons­trava ser fingimento.

— Aonde estamos indo? — Louisa perguntou, interrom­pendo sem querer os devaneios dele.

— Para o seu apartamento.

Ela o olhou, surpresa.

— Ainda se lembra onde ele fica?

Ele apenas assentiu com a cabeça. Recusava-se a olhar para o rosto dela e demonstrar o quanto sofrerá naquelas 12 semanas. A angustiante lembrança daqueles olhos cas­tanhos, os lábios cheios, as maçãs salientes do rosto bonito e a pele sedosa tão macia quanto aparentava.

Luke se recordava tanto do endereço, como também de cada detalhe da noite em que fizeram amor. A brisa fresca da primavera enquanto rolavam no gramado do Regenfs Park, após terem se despedido de Mel e Jack. O calor do corpo feminino contra o seu. O aroma das pétalas de rosa que inundava o ar. O sorriso cativante que exibia a brancura dos dentes perfeitos e os braços estendidos no momento em que tentava alcançá-lo, enquanto ele fingia fugir dela. O sabor do cappuccino que compartilharam na Camden High Street e a maneira graciosa como ela lambera os resíduos da espuma do leite grudada nos lábios.

Porém, as lembranças mais devastadoras eram relacio­nadas ao que acontecera depois.

Os braços frágeis dela enlaçados em seu pescoço, en­quanto ele a carregava no colo para dentro do modesto apartamento. O sabor dos lábios dela, no mesmo instante em que ele lhe desnudava os seios, ainda nos limites do pequeno hall. Os suspiros de prazer quando Luke a condu­ziu ao clímax. E então, a musculatura apertada da intimida­de feminina que o levou à loucura... Sim. Ele se lembrava muito mais do que simplesmente só o endereço do aparta­mento dela.

Louisa tornou a olhar para a janela e murmurou:

— Eu preciso voltar para o escritório. Agradeceria se você me deixasse lá.

— Estou pensando em levá-la para Havensmere. Passa­remos no seu apartamento apenas para que pegue algumas coisas — Luke anunciou, sem nem mesmo se importar com o que ela acabara de dizer.

Louisa sentiu a cabeça girar como se estivesse prestes a sofrer um ataque. Cruzou os braços frente ao peito e res­pondeu com indignação:

— Sabe de uma coisa, Devereaux? Não sou obrigada a fazer o que você quer. Portanto, é melhor parar com esses planos agora mesmo!

Ele olhou rapidamente para o ventre feminino e falou com muita calma:

— Diante das circunstâncias, não seria mais apropriado se me chamasse pelo primeiro nome?

— Eu o chamarei pelo nome que me convier — Louisa sabia que estava sendo rude, mas não queria chamá-lo de Luke. Esse era o nome pelo qual ela o chamara naquela noite.

Ele não se importou com a provocação. Nem mesmo se deu ao trabalho de responder. Apenas a deixou fumegando de raiva até que estacionou o carro em frente ao prédio onde Louisa morava.

— Sei que está cansada e com o emocional abalado — Luke declarou no mesmo tom pausado que a deixava ainda mais irritada. — Posso entender que a descoberta da gravi­dez a deixou abalada.

Louisa permaneceu calada, mas fervilhava por dentro. Se ele pensava que a estava acalmando com aquela voz ma­cia, estava muito enganado.

— Não pretendo acusá-la de nada — prosseguiu Luke —, mas temos muito a discutir a esse respeito. E acho que Havensmere é o local ideal. Por isso é para lá que iremos depois que apanhar suas coisas.

Ela descruzou os braços e, apoiando-os nas laterais do banco, endireitou o corpo como se estivesse pronta para a batalha:

— Será que não entendeu? Não quero ir a lugar algum com você!

Ele soprou alguns fios de cabelo que lhe caíam na testa e, com um profundo suspiro, tirou a chave da ignição.

— Sei disso.

Pela primeira vez, ela prestou atenção nas linhas de fadi­ga que ele exibia ao redor dos olhos. E, quando ele olhou na direção dela, Louisa notou o quanto ele estava abatido. Será que Luke estava tão aborrecido quanto ela com a inespera­da gravidez?

Como se ele adivinhasse o que ela acabara de pensar, Luke discursou em tom ríspido:

— Quer gostemos ou não, produzimos um filho e tere­mos que arcar com as conseqüências. E a sua hostilidade não ajudará em nada.

"Perfeito!", ela pensou. Justamente quando começa­va a sentir alguma simpatia pelas atitudes dele, Luke re­tornava com a costumeira arrogância. Parecia que ele ti­nha o dom de mantê-la afastada. Contudo, algo que ele acabara de lhe dizer produziu um frio na sua espinha. O que Luke queria dizer por "arcar com as conseqüências"? Era um homem rico e influente. E já havia tomado a ini­ciativa de levá-la a um médico. E ela percebera que ele agendara um novo horário com a ginecologista. Será que estaria planejando pressioná-la a concordar em fazer um aborto?

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