Capítulo 6

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Dias depois, ao sair do New York subimos o Cristo para ver o nascer do Sol que demoraria a aparecer, a vista à noite lá de cima é realmente fantástica, você ouve o silêncio das pessoas dormindo e as estrelas aparecem aos milhões, estávamos eu, Nino, Ju, Mila e Dani apertados no carro, paramos num lugar mais isolado. Estava ventando muito, mas nos aventuramos a sair e olhar as estrelas.

− Uh! Que vento − gritou Mila se agarrando a Dani.

− Sempre quis andar de disco voador − eu disse.

− Meu, em São Tomé eu vi uma luz muito estranha quando estava na pirâmide − disse Dani.

− Sério, cara? − Nino fingiu acreditar. − Daí ela disse: "Venha para luz Daniel..."

− Foi o ET de Varginha que estava desesperado, apontou o dedo para você e disse ET, telefone, minha casa − Ju brincou.

Rimos.

− Está frio aqui − reclamou Mila mais uma vez.

Eu detive minha atenção em Nino imaginando mil possibilidades de me aproximar e impressioná-lo, mas é claro que quase nunca dava certo, as pessoas sabem quando você veste uma máscara, infelizmente só tempos mais tarde entendi o que é ser eu mesma sem precisar me validar no reconhecimento de qualquer pessoa.

− Vocês já leram aquele livro "O universo numa casca de noz"?

− Já − respondeu Dani tentando acender um cigarro no meio da ventania. − Muito massa.

− Noz moscada, Kate − era Nino quem ria da minha cara.

− Daaarrr, para de fazer gracinha, tô falando sério, é um livro muito legal – tentei dar mais seriedade à ocasião.

− Legal é esse céu, essa energia − falou abrindo os braços.

− É muito loco mesmo, Nino − comentei desviando os olhos, eu quase não falava o nome dele diretamente, porque parecia que quando eu falasse ele iria descobrir o que estava sentindo.

− Você quase não olha nos meus olhos, Kate − ele disse num tom mais baixo fugindo da atenção dos outros.

Sorri olhando para cima, meio sem graça. É claro que eu não olhava nos olhos dele, quando fazia isso minha vontade era de me jogar nos braços dele sem pensar em mais nada, então era algo perigoso de se fazer.

− Hey?!

− O quê? − respondi voltando o olhar e tremendo de tanto nervoso quando o encarei.

− Você está com frio?

− Um pouco.

Nino se aproximou me abraçando.

− Vamos fugir daqui − sussurrou no meu ouvido.

Eu não sei se tinha ouvido bem, fiquei sem saber o que responder, será que as meditações com a kundalini realmente estavam fazendo efeito? Imediatamente dispensei todo mundo e fui levá-lo para casa. Quando parei o carro ele disse:

− Vem, vamos entrar um pouco.

− Ah, não sei Nino.

− Vem gatinha, não vou fazer nada que você não queira, sério.

Achei a frase mais manjada de todos os tempos quando o que se queria era realmente fazer tudo o que eu não queria, ou queria, mas não naquela hora.

Entramos em silêncio, pois estavam todos dormindo, avançando lentamente até chegar ao quarto dele, de uma certa forma me senti entrando na sua intimidade, era como se ele estivesse me deixando ir mais profundamente, não só abrindo o seu quarto para mim, mas as portas do seu coração. O cômodo era pequeno e a janela dava para uma vista de várias casas ao longe, logo percebi seus instrumentos perto do aparelho de som e sua cama com uma colcha meio velha. Sentei.

− O que você quer ouvir? − perguntou já tirando os sapatos.

− Não sei, você escolhe − respondi quase sem raciocinar direito.

− Norah Jones, gosta?

− Sim, muito − perfeito para a meia-luz do abajur que ele ligara.

− Posso acender um incenso? − perguntei, vendo a caixinha ao lado da cabeceira da cama, fazer alguma coisa poderia aliviar a tensão.

− Claro − falou me entregando o isqueiro e me olhando profundamente, estremeci por um momento. Eu estava no quarto dele, num lugar secreto de intimidade.

− Obrigada − sorri.

Eu percebi suas intenções assim que aceitei entrar no quarto dele, sabia que não era apenas para conversar. Bem, aquele momento era perfeito, a paixão me cegava completamente, eu estava convencida de que o amava, mas lembrei que compromisso era a última coisa que ele queria. Resolvi não pensar e simplesmente viver, carpe diem.

− Vem cá − disse ele me puxando delicadamente para dançar.

Podia sentir suas mãos passeando pelas minhas costas e seus lábios em meu pescoço e depois na minha boca. Um calor começou a brotar em meu ventre e me sentia embriagar de paixão. Olhei em volta e parecia ter visto um vulto, poderia ter sido a sombra de algum carro passando na rua. Então ele começou a tirar minha blusa.

− Nino, eu não sei se é uma boa ideia − soltei me afastando.

− Kate, você é legal, é minha amiga. Me sinto à vontade com você. Você é bonita, culta, inteligente e se você não fosse inteligente nem ficaria contigo... − deu uma pausa − e eu curto você. Então? Quer continuar? − me perguntou sorrindo e beijando minha mão.

− Eu não sei − respondi.

Eu era amiga dele, mas às vezes ele mal me enxergava. Estava realmente confusa, por outro lado viver aquele momento com ele seria mágico. Ele tinha um lado sensível, não saía transando com qualquer uma por aí.

− É que eu te amo, Nino − pronto, confessei algo que saía do fundo do meu coração.

Nino então se jogou em cima de mim na cama e foi uma confusão de sensações que eu sentia, um misto de medo e excitação.

Minha imaginação e meus sonhos de menina estavam esperando a felicidade infinita, a união cósmica de duas almas apaixonadas, só que a pessoa apaixonada era somente eu. Nino sabia ser carinhoso quando queria, foi uma noite maravilhosa, a fusão de almas era real, mas o amor verdadeiro e a felicidade infinita eram conto de fadas.

Cheguei em casa num misto de alegria e tristeza. O que eu tinha feito? Ao mesmo tempo que estava feliz por ter estado com Nino, a culpa de ter feito algo errado brotou em meu coração, porque eu sabia que ele nunca namoraria comigo e me trataria como qualquer pessoa no outro dia. Nada de telefonemas românticos, nem flores no café da manhã, isso só existia em filmes.

Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora