Capítulo 21

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Depois de alguns meses eu estava sentindo necessidade de mudar meu status de relacionamento no Facebook para: "em um relacionamento sério". O pecado já estava me pesando demais, apesar de estarmos juntos com frequência, não era um compromisso, às vezes saíamos só como amigos, sem qualquer intimidade maior.

Sempre tinha a sensação que Nino ia desaparecer, ainda mais quando ele se despedia de mim e dizia: "Tudo de bom viu!" Esse "tudo de bom" parecia o fim para mim. Até que um dia quando fui levá-lo para casa, parei o carro e o pressionei.

− Nino, já faz mais de 6 meses que estamos "juntos" – fiz um gesto de entre aspas −, estou me sentindo muito insegura, às vezes tenho a sensação que você vai desaparecer.

− Mas Kate, o que você quer? Eu não estou ficando com ninguém, só com você.

− Ainda bem − respondi surpresa. − Nino, não estou aguentando essa insegurança, acho que precisamos assumir nosso relacionamento, eu nunca sei quando posso te abraçar ou te mandar mensagem, não sei quando você só quer conversar ou ficar comigo...

Antes que eu terminasse ele me interrompeu:

− Kate, todos os meus amigos quando começaram a namorar, as mulheres deles mudaram, ficaram controlando, fazendo chantagem emocional, outro dia eu estava tocando e um cara me disse bem assim: "Ou você tem uma vida ou arruma uma mulher."

Eu não podia acreditar que estava ouvindo aquilo. Nino tinha pavor de compromisso, ou seria um compromisso comigo em particular?

− Nino, você acha realmente que eu vou ser esse tipo de mulher bruxa? Não ia mudar muita coisa no nosso relacionamento, a gente só ia assumir que estamos namorando.

− Kate, mas eu achei que a gente já estava mais ou menos assim.

− Como assim? − me admirei mais ainda. − Eu nem posso dizer que sou sua namorada, porque eu não sou, e quando alguém me pergunta o que somos, eu não sei o que responder, porque amigos nós não somos.

− Kate, você sabe que eu tenho sonhos, estou mandando minha música para algumas gravadoras no Rio, e tem minha família, meu pai... − parou pensativo, alguma coisa nele queria ficar comigo e outro lado parecia inventar mil desculpas. − E se você se mudar comigo?

− Eu não vou mudar, Nino, eu te dou liberdade para sair com seus amigos quando você quiser, eu também tenho outros amigos. Eu só preciso de segurança.

Nino ficou pensativo. Mas eu já sabia o que vinha pela frente.

− Ah! − suspirou. – Kate, eu não quero assumir nada agora. Eu tenho medo de algum dia estar com você e de repente me der vontade de desaparecer.

Senti o choro engasgar na minha garganta.

− Tudo bem, Nino, mas eu não posso continuar assim. Acho melhor a gente terminar tudo então.

Terminar algo que nem era, falei tudo aquilo tentando provocá-lo a mudar de ideia, a ficar realmente comigo. Mas sabia que ele não lutaria, estava inventando desculpas. Ele não me amava. Um homem quando ama não inventa desculpas, ele simplesmente faz. Dentro de mim queria que ele reagisse e dissesse sim, tudo bem, mas o conhecia muito bem para saber que ele não assumiria nada. Sabia que quando Nino tomava uma decisão seria definitivo. Ele estava me deixando ir.

− Está tudo bem, Nino. Só quero que você saiba que não vou poder mais ser sua amiga, não consigo agir como se nada tivesse acontecido. Eu te amo muito, e te ver sem poder ficar com você está além das minhas forças.

− Kate, eu gosto da sua presença, mas não dá para eu assumir nada agora.

− Você gosta da minha presença − tentei entender o que aquilo significava, minha presença seria diferente de mim? − Mas você não me ama. Eu devia saber que você nunca mudou, continua o mesmo Nino de sempre − falei com raiva por ele estar agindo assim.

− Kate, sinto muito, sempre fui sincero com você, nunca te prometi nada, eu só não sinto o mesmo que você − falou com certo pesar.

Eu não sabia se desabava a chorar na frente dele ou se implorava para ele ficar comigo mesmo sabendo que não gostava de mim. Um estranho silêncio pesou no ar.

− Adeus, Nino.

− Tchau Kate, tudo de bom.

Assim que ele saiu e fechou a porta, eu vi sua figura esguia se afastar na escuridão, entrando pelo portão sem nem olhar para trás. Como ele conseguiu ficar comigo por tanto tempo e não sentir nada?

Mudei a marcha e acelerei enquanto o pranto desabava, voltei para casa chorando. Parecia que tinham tirado o meu coração de dentro do peito. Adeus. O fim mais uma vez chegara assim, gelado, seco. Dormi pouco, e quando acordava sentia o peso da realidade. Acabou. Fim. Lembrava dos beijos, dos carinhos, das conversas, das noites que passamos juntos tudo acabou num instante, não haveria mais abraços, nada, nenhum futuro. Nada.

De repente ouvi o sinal de mensagem no celular:

"Fiquei muito mal pelo que aconteceu, não queria que fosse assim, eu tentei me apaixonar por você, mas não consegui, você é muito especial. Vou sentir falta da sua amizade."

O que se faz diante de uma mensagem dessas?

Apesar da tentação não respondi, o que eu iria dizer? "Vamos ser amigos de novo?" Eu nunca seria amiga dele sentindo o que sentia. Então, na manhã seguinte, liguei para a única pessoa que poderia me ajudar: André.

− Alô − ouvi a voz serena do meu amigo.

− Dé? − mal consegui dizer o nome do meu amigo e as lágrimas já saíram descontroladas.

− Kate, o que foi? O que aconteceu?

Continuei chorando.

− Alguém morreu? Pelo amor de Deus, fala...

− Dé, posso ir à sua casa? Preciso sair daqui − eu só queria desaparecer de Poços.

− Claro, a hora que você quiser. Mas o que aconteceu?

− Nada, só meu estúpido coração que teima em bater pela pessoa errada. Amanhã então eu pego um ônibus para Curitiba, estamos em recesso na escola − era mês de julho − minha mãe me empresta um dinheiro, depois dou um jeito de pagá-la.

− Ok, me avisa direito a hora que você chegar que vou te buscar.


Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora