Fazia alguns dias que não falava com André, ele parecia estar levando a sério a história de ser crente, conheceu uma garota chamada Ana e estava orando para namorá-la. Eu já tinha feito simpatia para ficar com alguém, mas orar para namorar era estranho. Meu amigo estava se afastando cada vez mais, mas não estava prestando muita atenção neste fato porque outro motivo preenchia meus pensamentos.
Vi Nino outras vezes em que saímos, nossos amigos eram comuns o que tornava inevitável nos encontrarmos. Ele me tratava como uma amiga normal como se nada tivesse acontecido entre nós, será que foi tão ruim ficar comigo? Eu o seguia com o olhar por onde ia e uma ansiedade começou a brotar em meu coração, comecei a inventar atividades e estava saindo com mais frequência na tentativa de me aproximar dele, aumentando assim meu círculo de amizade que eram seus amigos.
Aparentemente ele não estava ficando com ninguém, compartilhei meus sentimentos com Mila, estava sofrendo com a indiferença, às vezes ele me olhava, conversávamos, mas não evoluía, isso me angustiava, precisava sempre estar perto dele, mesmo sem tocá-lo. Mila se dispôs a me ajudar, Dani às vezes ia a um centro de umbanda e incorporava algumas entidades, mas nunca levou muito a sério, ela me convidou para ir e conversar com a Pombajira, que tratava de assuntos amorosos.
Eu gostava de conhecer o oculto, estudar sobre os chacras e questões mais filosóficas sobre a vida, fazia meditação e gostava da religião oriental, mas umbanda tinha um certo preconceito, era um pouco pesado demais. Recusei o convite e tentei à minha maneira abrir os caminhos para que Nino me enxergasse, na verdade não queria que ele gostasse de mim forçado por um encantamento, então teria que exaltar os meus encantos. Pesquisei na internet sobre maneiras de despertar a kundalini e fui logo contar a novidade para Mila.
Mila tomava um café antes de começar a aula de inglês, estava sentada no sofá verde esperando o professor chegar, me encostei perto dela num assento inesperado assim que a vi:
− Mila, estou despertando minha kundalini.
− Despertando o quê??? Traduz por favor − disse bebericando o café.
− Kundalini é uma grande força magnética, vou ler um artigo que achei na internet: "É o princípio universal de vida que existe latente em toda matéria. Também chamada de 'fogo serpentino', é a vida que flui através dos centros vitais ou chacras. Princípio ativo que tanto pode criar como destruir, o Fogo Serpentino, como algumas vezes é chamado, o poder criativo feminino que está adormecido dentro de uma cavidade, dentro de um útero, despertando para o movimento rítmico da impetuosa subida e para a emissão de torrentes de fogo. Ela é uma palavra que significa o aspecto feminino da força criativa da evolução, força esta que jaz adormecida, em sua potencialidade específica."
− Hã?? − respondeu Mila sem entender muita coisa.
− O poder da Kundalini − continuei encenando para ela entendesse − brilha como uma haste de um pequeno lótus; como uma cobra, enroscada em si mesma. Ela segura a sua cauda em sua boca e se prostra descansando, meio adormecida na base de nosso corpo. C. G. Jung dizia que a serpente é um vertebrado que encarna a psique inferior, o psiquismo obscuro, aquilo que é raro, incompreensível, misterioso. O despertar desta serpente e a manifestação de seus poderes é o objetivo primário da prática da Kundalini Yoga.
− Que é isso, Kate? − perguntou André, sentando no sofá à minha frente.
− Oi, não vi você chegando André − disse meio irritada por ele se meter na conversa.
− Você está falando sobre a serpente?
− Sim, estou pesquisando sobre a kundalini.
− Kate, você sabia que Satanás entrou no jardim de Deus, no Éden, na forma de uma serpente, e enganou Adão e Eva fazendo-os comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, é importante saber a condição de Satanás e como ele passeia pelas religiões e se funde na cultura de um país. Seu linguajar é inteligente e astuto, mas incapaz de enganar quem tem o Espírito Santo de Deus.
− Tá legal André, lá vem você com esse papo de crente. Mila vamos entrar − falei arrastando minha amiga para dentro da sala deixando meu amigo a ver navios e logo continuei a ler o artigo.
− "O despertar da kundalini é reconhecido como uma versão macrocósmica do poder feminino de Shakti. Os tântricas identificam o poder de Shakti com a consciência cósmica, uma vez que ela projeta a unidade bilateral dos princípios masculino e feminino. Para conseguir este objetivo foi desenvolvida uma série de práticas psicofísicas que requerem o mesmo tipo de disciplina requerida na meditação. De acordo com o Tantra, a Kundalini pode ser despertada pelos ásanas do Tantra Yoga. Os tântricas, entretanto, perceberam a imensa potencialidade da energia sexual, e através dos tantra ásanas, transformaram a energia do sexo e a libertaram para um novo plano de consciência cósmica. O sexo é visto como divino e uma fonte inesgotável de energia vital capaz de agir com uma força tremenda no estado psicofísico que por sua vez reage num plano cósmico superior."
− Ah, tá... todo esse rodeio para falar de sexo?
− Que é isso, Mila! – corei meio envergonhada. − Eu tô falando uma coisa séria. Saca só: a união sexual tântrica é um apaixonar-se com o cosmos, numa total entrega. Ao nos entregarmos, as profundezas femininas de nossa psique transcendem em uma total experiência de unicidade e uma energia imensurável é liberada. Do ponto de vista tântrico, o ser humano consumado é homem e mulher fundidos em uma só unidade. Quando a ideia da unidade básica, que os dois são inseparáveis, surge o estado de felicidade infinita.
− Infinita? Quer dizer, você tem orgasmos múltiplos? − soltou em voz alta, ainda bem que não tinha mais ninguém na sala.
− Você prolonga o ato sexual − falei baixinho com medo de alguém mais ouvir.
− Hum, até que não é má ideia, acho que eu tô me interessando por isso. Mas felicidade infinita não é um pouco pirlimpimpim demais não?
− Isso é o ápice do amor − disse imaginando como seria sentir algo tão intenso.
− Ápice do amor, Kate? − interrompeu André novamente, eu queria fuzilar a cara dele. − O amor não é nada disso, o amor é paciente, não inveja, não procura seus interesses, não guarda rancor, não se vangloria, ele tudo sofre, tudo espera, tudo suporta, o amor é a própria natureza de Deus, é eterno, não morre. Jesus foi a maior expressão do amor de Deus, ele deu a sua vida por nós, seres humanos pecadores, que temos o coração mais corrupto do que qualquer outra coisa.
− Aff, André... − nem consegui respondê-lo de tanta raiva, ainda bem que a aula já ia começar, assim eu não precisava discutir mais. Eu nem prestei muita atenção porque todas aquelas informações teciam um ideal de amor na minha imaginação. O parceiro perfeito? Era Nino, mas ele não sabia disso ainda.
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Ahava- O amor é possível
RomanceKate se apaixona por Nino. Porém, o amor não correspondido a faz encontrar um amor maior. Mas o destino ainda poderá surpreende-la. Leia o primeiro capitulo desse livro que foi inspirada em uma história real.