Ahava- O amor é possível

Capítulo 17

Depois daquela experiência no meu quarto o Espírito Santo começou a me dar um discernimento diferente do ambiente espiritual, quando entrava em algum lugar já podia saber que tipo de influência estava ali.

Não sei se por causa disso, mas estava me sentindo extremamente cansada, o sono regular não fazia muito efeito, eu orava por um renovo, a dor da minha alma estava me angustiando e nem entendia bem porque estava tão pesado.

Aos poucos fui me afastando de André, ele já não ia mais com tanta frequência à igreja, pois estava preparando a mudança. Ele iria para a Jocum em agosto, estava triste, mas decidi não me preocupar mais, então entreguei toda situação nas mãos de Deus. Apesar de estar na igreja ainda, fui esfriando nas atividades que costumava fazer.

Acompanhei André e Ana até a rodoviária, eles iriam tomar um ônibus em Campinas e depois Curitiba, a mudança estava indo numa caminhonete levado por um irmão da igreja, eles não levaram muita coisa, pois não sabiam se iam precisar se mudar de novo, afinal eles agora estavam sob a total dependência do Espírito. Jesus nunca me abandonaria. Pessoas vêm e vão. Deus sempre estaria comigo 24 horas por dia, 365 dias por ano. Então comecei a juntar os caquinhos que ficaram depois da sua partida.

Aproveitando que estava perto do shopping, fui passear um pouco, talvez tomar um sorvete para refrescar as ideias, nada melhor que fazer compras para esquecer as tristezas. Aliás o shopping se tornou um bom refúgio para mim. Gostava de ficar andando por lá vendo as lojas, ou assistindo um filme no cinema.

Comecei a pensar na vida, não estava trabalhando. A verdade é que estava com medo de ter que trabalhar em um emprego normal durante 8 horas por dia fazendo a mesma coisa, casando, tendo filhos, vendo-os crescer e nunca mais sair dessa cidade, às vezes eu tinha a sensação que ela iria me engolir viva se permanecesse ali por muito tempo.

E os meus sonhos? E aquela chama que continuava queimando dentro da alma em sair pelo mundo, conhecer pessoas, ouvir suas experiências, ensiná-las, conhecer a Deus e fazê-lo conhecido? Muitas vezes eu queria ter esse desejo de ter uma vida normal, criar raízes, trabalhar como todo mundo faz. Eu costumava observar as pessoas na rua e reconhecia alguns rostos que nunca saíram daqui, não ousaram galgar novos horizontes, seus filhos cresciam e estava tudo bem, eu tentava me imaginar levando uma vida assim, porém quando fazia isso tinha a sensação de que estava caindo em um abismo profundo, o qual nunca mais poderia sair.

Peguei o celular para me distrair, qual não foi a minha surpresa quando vi a foto de Mila nas solicitações de amizade do Facebook, imediatamente comecei a falar com ela. Que felicidade em reencontrá-la.

"Kate, que bom saber de você, amiga. Quanta saudade."

Mila estava morando em São Paulo e estava trabalhando em uma agência de turismo, estava meio insatisfeita com a profissão, mas ganhava um bom salário, afinal ela ainda tinha uma filhinha linda para sustentar.

"Kate, que bom te reencontrar, você é a pessoa certa para aceitar fazer um mochilão pela América Latina comigo."

O quê? Um mochilão? Que superaventura ela estava me propondo e, claro, eu era a pessoa mais adequada para aceitar esse tipo de proposta, fazia tempo que não viajava para um lugar bacana, como as coisas estavam mais calmas, pedi um patrocínio para a minha mãe e com pouco dinheiro planejamos tudo pela internet, um amigo se foi e outro reapareceu, durante os meses que se seguiram nos preocupamos em planejar a viagem. Viajaríamos em março do próximo ano, estava um pouco longe, mas daria tempo para arranjar tudo, reservar passagens, pesquisar passeios, etc.

Procuramos sites de mochileiros e Mila conseguiu algumas passagens mais baratas por trechos a percorrer. Começaríamos por Santigo do Chile pegando um ônibus até o Deserto do Atacama e de lá iríamos de jipe até a Bolívia, pegaríamos um trem até La Paz, havia um ônibus turístico que nos levaria até Cusco, no Peru, terminaríamos de avião até Lima e dali de volta a São Paulo.