Capítulo 14

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Mila me convidou para ir assistir a Sinfonia das Águas na sexta-feira, não estava muito empolgada porque ainda estava inebriada com a experiência de ver Jesus no dia anterior, mas não podia recusar. Era um evento meio brega, mas os turistas adoravam, acontecia sempre na praça atrás do Palace Hotel. Dani e o resto da turma iria tocar a pedido do maestro.

Estava frio, a orquestra estava elegantemente posicionada no palco, havia telões e jogos de luz, as pessoas se amontoavam para assistir ao evento que tinha como tema as trilhas sonoras de filmes famosos. Enquanto eles tocavam as cenas iam aparecendo comandadas pelo maestro que me pareceu ter um humor bem impertinente.

Consegui uma cadeira para Mila sentar, fiquei de pé ao lado dela. A praça já estava cheia de gente, o público na sua maioria era bem familiar para não dizer idoso. O evento começava, não pude deixar de rir internamente, pensando o quanto o povo gostava daquilo.

− Que tipo de música os meninos vão tocar aqui, Mila?

− Não sei bem. Dani estava precisando de dinheiro, afinal temos um bebê a caminho, às vezes a gente tem que se vender e fazer algo que não gostamos muito.

− Nem me fale, sei bem como é. Mas até que é engraçado.

Acho que passei tanto tempo estudando teatro que fiquei um pouco crítica demais em relação a esses eventos.

A banda tocou as duas primeiras músicas enquanto um grupo de dança fazia uma coreografia. De repente, um carro luxuoso para ao lado do palco, sai uma fumaça branca e distinguimos três figuras aparecendo, James Bond com duas mulheres com roupas de festa, a trilha do filme 007 se inicia, levando o público aos aplausos. E quando eu achei que não podia ficar pior, o mascarado fantasma da ópera desce por uma corda e encontra sua amada.

Eu estava me divertindo.

A orquestra tocava o tema de "... E o Vento Levou", eu amava esse filme, adorava ver a Vivien Leigh com seus vestidos rodados ignorando o pobre Rhett Butler, acho que eu queria ser forte como ela. A Scarlett O'Hara poços-caldense deixou um pouco a desejar, mas de qualquer forma era um bom tema.

− Kate, posso falar com você? – ouvi a voz de Nino, senti meu corpo gelar e não era de frio, não percebi que eles já tinham descido do palco.

− Claro − respondi meio seca enquanto nos afastamos um pouco da multidão.

− Mila, eu já volto.

− O Dani já está vindo aqui ver você, Mila − disse Nino.

Caminhamos em silêncio até a fonte, sentamos em um banquinho, esperei Nino começar a falar. Eu estava olhando firme para ele, avaliando a sua personalidade, seus gestos, senti cheiro de bebida, acho que ele estava meio alto àquela hora. Ele não disse nada e se aproximou de mim colocando seus braços por trás dos meus ombros.

− O que você está fazendo? − perguntei meio surpresa.

Nino não respondeu, só afundou a cabeça em meu pescoço.

− Eu pensei que finalmente a gente iria se entender. Afinal, você ficou atrás de mim por uma semana − falei tentando evitar que ele fizesse outra coisa.

− Ah, Kate, o que você quer de mim? − falou meio indignado e se afastando.

− Só queria saber o que você quer − falei quase com lágrimas nos olhos −, eu nem estava mais me importando com você, e de repente você aparece e bagunça minha vida.

− Kate, não tem como a gente ter um relacionamento, você vai embora logo.

"Agora tinha uma desculpa palpável", pensei.

Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora