Capítulo 3

62 1 0
                                    

A semana voou até chegar sexta-feira. Lua cheia. Precisava sair, meus hormônios estavam à flor da pele, queria curtir a noite, sair para dançar. Infelizmente todos estavam ocupados, algo que raramente acontecia; Ju tinha ido visitar a namorada, Mila e Dani foram a uma festa de casamento de uma prima dele, André estava na igreja e já não saía muito comigo, me lembrei da Lara, uma colega de cursinho, não era a melhor opção, porque ela era meio inconstante, meio topa tudo por dinheiro, ela havia comentado comigo que queria ir a uma festa da faculdade em uma boate num bairro mais afastado da cidade.

Combinamos e ela foi me pegar em casa, queria evitar sair sem carteira, minha mãe estava me aterrorizando com medo da polícia. Quando chegamos na tal boate percebi que na verdade era uma casa antiga que fora alugada para angariar fundos para a formatura de algum curso da faculdade, o lugar era bacana com uma piscina de um lado e do outro o palco, também havia sofás velhos espalhados pelos cantos. Essas festas eram bem frequentes, mas não esperava que estivesse tão vazia. Uma banda bem ruim tocava, e para não perder a noite comecei a beber. Quem sabe chegariam mais algumas pessoas.

− Acho que não demos muita sorte − disse Lara com sua voz fina.

− Pois é, você não disse que era uma festa da faculdade?

− E é, nem sei porque não tem ninguém − falou acendendo um cigarro.

Não tinha muito assunto com Lara, tentei puxar conversa sobre o vestibular que estava se aproximando e outras banalidades, mas logo sugeri chegar perto da banda, havia uns gatos pingados na pista.

Lá pelas tantas já tinha bebido umas cervejas para animar o ambiente, vi Lara conversando com garoto ruivo, meio bobo, me era familiar, olhando mais apuradamente o reconheci da escola, era Teodoro. Não pude deixar de achar graça, ele fazia parte do grupo de pessoas que sempre me zoavam quando ia parar na diretoria, aliás, quem deveria ser zoado era ele com aquele nome ridículo, acho que ele estava no curso de engenharia, pois o ouvi dizendo qualquer coisa sobre números, como não queria que ele me reconhecesse, me sentei em um dos sofás que ficavam perto da porta, torcendo para que o lugar enchesse.

De vez em quando um ou outro chegava, acendi um cigarro, nos fins de semana eu arriscava fumar, não gostava muito, mas como a situação estava por demais desesperadora acabei comprando um maço no bar e fiquei observando o movimento, gostava de imaginar como era a vida das pessoas, analisar seus comportamentos e trejeitos, coisas de atriz, a banda que tocava era de uns adolescentes se metendo a reagueiros, e se achando os discípulos do Bob Marley. Lara começou a beijar o ruivo. Uns garotos bem vestidos e lindos demais para mim bebiam no balcão, incrivelmente não conhecia ninguém naquela "boate", devia ser festa de calouros.

À 1h30 da madrugada quando me senti entediada o bastante, um garoto de olhos amendoados e estranho entra sorrindo para mim, não reconheci quem era de imediato, talvez pelo efeito da bebida, fixei meu olhar e na verdade ele não era tão estranho, só não conseguia me recordar onde o tinha visto.

− Oi, e aí? – disse ele me dando um beijo no rosto.

− Oi – respondi tentando demonstrar intimidade, não queria que ele desconfiasse do meu lapso de memória.

− Cadê o povo?

− Então... sou só eu hoje – falei meio sem graça enquanto tentava me lembrar de onde conhecia aquela figura.

Silêncio, essas pausas sempre me incomodavam profundamente, coloquei a minha técnica samurai para ter assunto: o tempo.

− A Lua está linda hoje − falei quebrando o gelo. Ufa!

− Sim. Maravilhosa.

− E tá bem quente, né, parece verão já − falei oferecendo um gole da minha cerveja que estava mais quente que o tempo.

Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora