Capítulo 10

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Março era o mês escolhido para ir a Porto Alegre. Então resolvemos fazer uma festa de despedida no New York uns dias antes da nossa partida. Separar-me dos meus amigos seria difícil, ir para uma cidade distante e sem muito dinheiro parecia loucura, mas se tinha algo que eu amava tanto ou mais que Nino era o teatro.

Apeguei-me ao meu sonho numa tentativa de não enlouquecer, ao menos pela arte valeria a pena sofrer qualquer sacrifício. Quem sabe longe dele meu coração poderia se curar.

No sábado estávamos todos lá e embora eu disfarçasse sempre ficava espreitando a porta para ver se ele entraria para se despedir de mim. O bar foi enchendo de gente e a maioria eram nossos convidados, bebemos, tiramos fotos, brincava maliciosamente com todos, fumando um cigarro atrás do outro, e eu nem gostava tanto de fumar, mas o nervosismo me fazia buscar este recurso, estava ansiosa.

− Lady Kate, vou sentir sua falta − disse Dani me abraçando.

− Ainda vamos nos ver no Faustão relembrando nossas loucuras – falei.

− E aí, o Nino vem? − perguntei tentando parecer o mais natural possível, como se falasse do tempo.

− Então, Kate − ele começou a falar meio sem graça.

− Que foi, Dani?

− Ah, Kate, a namorada dele não quer que ele fale mais com você.

− O quê? − perguntei indignada.

− É, parece que ela comentou que você estava apaixonada por ele, então ele contou tudo que aconteceu entre vocês, daí ela ficou com ciúmes. E outro dia na faculdade ela disse que você ficou rindo da cara dela e ele achou isso uma infantilidade sua.

− Eu rindo dela? Eu a vi na faculdade sim, no dia que fui com a Mila pegar um requerimento dela, mas estava rindo era de outra coisa, de um certo flagra que seu irmão deu em você − falei brava.

− Então Kate, sei lá... − Dani cuidava ao falar as palavras, afinal Nino era seu amigo.

− Eu notei que ele me evitava mais do que o normal. Quer dizer que ele não vem e se viesse não ia falar comigo?

− Aham − respondeu Dani meio desconcertado.

− Maravilha – disse sentando em outra mesa e engolindo um longo trago de cerveja. Além de perder o amor também perdi a amizade dele.

− Kate − André me chamou.

− Oi Dé...

− Que entusiasmo em me ver − falou ironizando pela maneira que eu havia respondido.

− Desculpa.

− Já sei, está triste porque vai ficar longe de mim? − brincou.

− Claro, que bom que você veio pensei que tinha me esquecido − disse dando um abraço forte no meu amigo.

− Nunca te esqueço, guria desmiolada.

Sorri tentando disfarçar minha tristeza.

− Que foi? Está sofrendo ainda por aquele cara?

− Sempre. Fazer o quê, a gente não escolhe quem vai amar.

− Amor? Um dia você vai entender o amor. Mas só vim te dar um abraço e dizer que vou orar por ti.

− Valeu, Dé.

Iria sentir muita falta dele em Porto Alegre, apesar de tudo ele ainda era meu melhor amigo.

Nosso grupo apresentou um esquete de despedida. Gravei uns depoimentos para me consolar quando estivesse fora. Nino não apareceu, chorei quando me despedi de Mila. Ou foi só o disfarce perfeito para chorar por Nino? Eu iria sentir muita falta de todos meus amigos. Mas era necessário ir embora, mudar de ares.


Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora