Capítulo 20

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Nino e eu nos encontrávamos com mais frequência durante a semana, nunca sabia se eu estava indo longe demais, o sufocando, então sempre esperava ele me procurar. Nino decidiu sair da banda sertaneja, entendeu que aquele ambiente o estava prejudicando demais, e assim passou a tocar nos bares da cidade sozinho. Eu o ajudava a transportar seus instrumentos, pois ele ainda não tinha carro. Não me importava de fazer isso porque era mais um motivo para estar perto dele.

Nos fins de semana ele sempre tocava, não gostava muito de ficar nesses bares, e acho que ele não queria a minha presença, era bem conveniente. No entanto, um dia que dei carona para ele, reencontrei um dos nossos velhos amigos e acabei ficando a noite toda. Tomei até uma cerveja, mas não gostava muito de beber, na viagem com Mila eu experimentei alguns drinques movida mais pela curiosidade do que pelo gosto, na minha vida diária eu raramente bebia. Notei que Nino pegava um saquinho com o amigo disfarçadamente e ia ao banheiro, voltava e entregava para o amigo que fazia a mesma coisa. Era cocaína.

Ele costumava me ligar "louco" de madrugada para encontrá-lo, isso nos aproximou mais, até me apresentava como esposa para os amigos, claro que era uma brincadeira, mas principalmente quando ele estava "loco" dizia:

− Kate, se um dia eu me casar vai ser com alguém como você. Quem sabe daqui a uns três anos? Porque agora estou indo atrás de gravadoras − Nino tinha o sonho de fazer sucesso com sua música. − Mas se daqui a três anos a gente não arrumar ninguém a gente se casa.

Eu queria muito acreditar que teríamos um elo tão forte assim, casamento, eu sempre sonhei em ter uma família, mas ao mesmo tempo aquela velha insegurança pairava. "Se a gente não arrumar alguém?" Nós estávamos juntos, e ele estava esperando encontrar outra pessoa?

Conversávamos muito sobre Deus apesar das suas raízes profundas no espiritismo, mesmo assim continuava pregando a Palavra, sabia que ela era viva e poderosa para quebrar qualquer sofisma, e em alguns momentos via esperança que poderíamos ser uma família feliz, alicerçada no amor de Deus.

O batismo seria no sábado e na sexta-feira que ele não tocou, saiu para o bar com os amigos, apesar de sua luta em querer largar o vício ele continuava frequentando esses ambientes, é muito complicado vencer um vício continuando com os mesmos hábitos, ele bebeu e cheirou a noite toda. Recebi uma mensagem pela manhã:

"Kate, vamos ao batismo comigo?"

Ir a um batismo cheirado e virado? Não sei se seria uma boa ideia, mas como não queria perder a oportunidade dele estar perto de Deus, o levei como estava.

Fazia um lindo dia de Sol, e a temperatura estava agradável, cumprimentei os amigos e logo o pastor iniciou os preparativos, havia uma piscina pequena já rodeada por uns cinco jovens vestidos com um camisolão branco, todos exibiam um sorriso no rosto e demonstravam uma certa ansiedade para aquele momento tão marcante na vida de um cristão, eles estavam dispostos a assumir um compromisso com Cristo. Tentei explicar em voz baixa todo o processo para Nino.

− O batismo é uma declaração para o mundo físico e espiritual que o seu velho homem morre e renasce para Cristo. Você se lembra da passagem que te expliquei sobre Nicodemos?

− Sim, lembro, você me deu uma aula sobre isso.

Ri, porque às vezes eu me empolgava em explicar a Bíblia.

− Pois é Nino, você está preparado para dar este passo?

Ele olhou para baixo como se precisasse encontrar a resposta certa, mas não deu tempo de responder, pois Chico já começava a dedilhar o violão e entoar um louvor, o pastor Breno se posicionou dentro da piscina com seu camisolão branco, ele era bem jovem e sabia falar a linguagem da galera, seu amor pela obra de Deus transbordava no olhar.

Um a um foram descendo as águas e todos saíam empolgados da piscina, alguns choravam de emoção, quando terminou o pastor perguntou:

− Alguém mais sentiu no coração a se batizar?

Nino meio sem graça disse:

− Eu quero pastor, mas eu estou muito louco.

− Nino, Deus quer você do jeito que está.

Então, num ímpeto, Nino tirou o tênis e se jogou na água com roupa e tudo. Quando levantou chorava e abraçava o pastor Breno, tirei uma foto com meu celular para registrar o momento para que ele nunca mais se esquecesse dessa atitude, ainda que movido pela emoção, sabia que Deus agiria com mais intensidade na vida dele.



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