Capítulo 23

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Acordei mais cedo que o esperado, o ônibus para São Paulo sairia somente à tarde, a viagem seria longa depois para Curitiba. Fiquei repensando o sonho, a visão do que acontecera. Sentia o corpo cansado, mas me acalmei porque sabia que Jesus estava comigo, não estava na guerra sozinha. Coloquei mais algumas coisas na mala, cachecol e um doce de leite para Ana.

André estava na base da Jocum em Almirante Tamandaré se preparando para sair em missão. Sabia que iria atrapalhá-lo, mas precisava dar um tempo para minha cabeça.

A viagem foi longa, peguei o ônibus em São Paulo às 23h. Viajei pela noite para não cansar tanto, tomei um Dramin e dormi quase a viagem toda me retorcendo na poltrona.

Eram seis da manhã quando o ônibus parou na rodoviária, fazia frio e logo pude ver meu amigo vestindo uma touca de lã velha com os braços abertos para me receber.

− Kate, às vezes você parece minha filha desajuizada.

− O que eu posso fazer se você é meu único amigo, irmão, pai e conselheiro espiritual − ri tentando não despejar o real motivo que me levava até ali.

− A Ana está esperando no carro, ela não achou vaga e estacionou em um lugar proibido.

Abracei meu amigo enquanto ele carregava minha mala vermelha de rodinha.

Entramos no carro e Ana foi contando tudo sobre a base, a escola que eles estavam fazendo, ela estava muito empolgada porque essa semana eles estavam tendo aula sobre sexualidade.

− Sexualidade? − perguntei curiosa.

− Sim, Kate − disse Ana. − A professora é muito boa, ela tem um ministério todo dedicado nessa área.

− Essa é nova pra mim, na igreja ainda é um tabu falar sobre isso.

− Pois é, e por isso muita gente tem caído porque é uma área que é pouco tratada no Corpo de Cristo.

− Isso é verdade, vemos muitos escândalos de pastores que adulteraram e perderam seus ministérios.

− Sim, mas o problema é mais profundo, há uma série de questões que deveríamos pensar e discutir. A mídia hoje faz propaganda 24h sobre sexo, e de uma forma distorcida, a igreja não pode simplesmente ignorar isso e fingir que está tudo bem. Nossos jovens estão se sentindo muito pressionados e muitos deles se desviam por causa disso.

− É verdade, Ana − concordei mais uma vez. − Temos uma cobrança de manter a santidade, mas não temos liberdade para falar sobre isso com ninguém, então tentamos reprimir os desejos, que às vezes é hormonal mesmo.

− Infelizmente hoje a igreja não consegue lidar com sua sexualidade. Estão viciadas e cheias de problemas com a sua identidade, existe muito preconceito e a tendência é esconder, não falar desse assunto. Você sabia que existe um grande índice de pessoas com DST e Aids entre os crentes?

− Sério?

− Sim, além do maior índice de divórcios entre os cristãos.

− Imagino, esses dias eu vi uma mulher que se dizia evangélica posando nua numa revista masculina − disse me lembrando de ter visto a notícia na internet.

− Sem falar no pole dance gospel, filme pornográfico gospel.

− Pornografia gospel? Isso é ridículo − André se indignou.

− Chegamos, Kate.

Ana passou por um portão meio enferrujado, os muros estavam envoltos em uma bela trepadeira, tudo era muito simples, ela dirigia devagar cumprimentando as pessoas que estavam no caminho, parece que todos ali acordavam cedo, parou em frente a uma casa pequena no estilo colonial feita de madeira e pintada em marrom forte.

Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora