Capítulo 22

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Tudo que me lembro é de dar uma última olhada no relógio marcando 1h02 e de Renato Russo cantando um trecho da música Tempo Perdido.

"A tempestade que chega é da cor dos seus olhos... castanhos... então me abraça forte..."

Então... tudo ficou em silêncio...

A luz fraca desaparecia em uma imensa escuridão...

O ar foi ficando rarefeito...

Senti a presença de algo, uma sombra passou por cima de mim e antes que me desse conta, apertava meu peito como se quisesse me sufocar, não eram mãos de carne, era uma força, quase que uma sensação que apertava e ao mesmo tempo me puxava. Eu não estava dormindo ainda, ou já seria parte de um pesadelo? Tudo era muito real e conforme a pressão aumentava, senti que perdia a noção de espaço e tempo. Quando consegui abrir os olhos, percebi que estava em outro lugar, olhei à minha volta meio desconcertada ainda, pude ver como se fosse um enorme deserto, uma densa nuvem alaranjada se destacava no horizonte frio.

Alguém ria.

Ouvi um respirar pesado no ouvido se aproximando de mim, estava escuro, mas percebi que alguém fungava perto de mim. Era ele, o mal, tão diabólico com seu exército de seres negros atrás, podia ver os vultos das sombras, um deles se destacava por ser maior, ele vestia uma capa longa ao que me pareceu ser de couro. Vi seus cabelos cinzentos esvoaçando enquanto avançava em minha direção. Minha língua parecia estar travada, meu corpo paralisado como se tivesse levado um choque. Pensei em Jesus e repetia seu nome até que consegui dizer:

− O que você quer? − minha voz saiu fraca, sentia a presença gigantesca e pesada à minha frente me analisando, não podia ver seu rosto, somente seus olhos brilhando pelo capuz que o cobria.

− Você caiu direitinho na minha armadilha.

"Armadilha?", pensei enquanto o mal me cercava dando voltas ao meu redor.

− Ele não precisou nem te seduzir, você foi logo se abrindo, pensei que seria mais difícil manipular a sua mente, mas bastou meia dúzia de palavras bonitas no seu ouvido e você se derreteu.

− O quê? − eu estava completamente surpresa.

Minha cabeça começou a doer, quando passei a mão por entre os cabelos senti algo pontudo e fino como pequenos dardos que se espalhavam pelo couro cabeludo.

Aquela presença maligna me encarava angustiando meu coração, podia vê-lo sugando toda a alegria da minha alma.

− Onde está o seu Deus agora? − gritou maléfico.

Os dardos pareciam penetrar fundo no meu cérebro. Tentei tirá-los e não consegui, meus pensamentos ficavam confusos e a dor ficava cada vez mais forte.

− Eu te repreendo em nome de Jesus, aquele que tem todo o poder no céu, na terra e debaixo dela, Jesus a quem todo joelho se dobrará e que te venceu naquela cruz, Ele é o meu Deus e o meu libertador − murmurei quase perdendo a consciência, então um dos dardos caiu, um pequeno alívio para tamanha dor que os outros ainda causavam.

− Mas você não é digna mais do amor Dele, você o abandonou. Colocou outro no lugar sem nem pestanejar.

De certa forma só conseguia pensar em Nino naqueles dias, era algo meio involuntário, mas que de alguma forma me afastara da presença de Deus. Estava triste e com raiva por ter voltado a ser como antes.

− Sim, eu me afastei Dele, do seu amor e da sua graça − constatar algo assim contristava meu coração, me arrependi − Me perdoa, Pai.

Ao pronunciar essa oração todos os dardos caíram de repente. Comecei a recobrar aos poucos a sanidade.

Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora