Capítulo 15

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Voltei a Porto Alegre, terra que aprendi a amar. Adorava passear pela Redenção aos domingos tomando chimarrão com os amigos. Em setembro começaria o Festival PoA em Cena, era a época que só vivia teatro, meus olhos só viam teatro, as conversas eram sobre teatro, tudo era teatro, e por incrível que pareça não me empolguei mais com isso.

Rosinha me ligava com frequência, mas eu não podia mais voltar a fazer aqueles cursos, não depois de conhecer a Verdade, de experimentar o amor de Deus. Talvez por recusar tanto os seus convites acabei me afastando dela.

Comprei uma Bíblia, mas era difícil entender o que estava escrito nela. Falava com André pela internet e ele me explicava algumas coisas, ainda tinha muitas questões difíceis de acreditar como não haver reencarnação, e de aqueles espíritos que estavam comigo não eram bons, mas eram demônios. Porém, o amor de Jesus era inegável, nunca havia sentido nada igual, então eu me apeguei a isso. Dé me recomendou a ler o livro de João. Foi incrível ver Deus como Pai... eu que tinha tido a falta de um por tanto tempo me senti protegida por saber que tinha um pai que era o Criador do universo.

Frequentava uma igreja pequena perto de casa aos domingos, estava no período de terminar meu TCC e assim dias, meses se passaram.

O tempo me distanciava do passado.

O verão chegou abrasador em Porto Alegre, estava insuportavelmente calor, a umidade me fazia suar mesmo que não mexesse um músculo. Abri a janela do meu quarto, tive medo de entrar algum morcego, podia ser paranoia, mas eu sempre ouvia aquelas asinhas voando à noite. Valia correr o risco, estava muito abafado. Meu apartamento ficava perto de um viaduto que, incrivelmente, estava sem muito movimento.

Ventiladores ligados, água na cabeceira, celular no silencioso, traje de dormir.

"Preciso economizar para pagar meu cartão de crédito, queria colocar uma maçã na minha peça? Maçã... me lembrei de um exercício de teatro em que falava um texto do Caio Fernando Abreu... 'Sentada aqui desde não sei quando...' o que vinha depois? 'Sentada aqui...' Como será que o Nino está? Mas o que eu tô pensando, ele é passado, esqueci o gás ligado... ah, não... acho que fechei... Deus qual seu propósito na minha vida?... É tão difícil viver o evangelho... quero ir pra casa... que calor..."

Minha mente fervilhava com pensamentos desconexos até que peguei no sono às duas da manhã.

"Ah... o que eu estava sonhando? Uma estrada de terra... preciso dormir."

4 horas

"Ainda?"

Acordei. Levantei. Olhei a noite. Ouvia ora ou outra um carro passar.

Respirei fundo e ainda ouvia o louvor tocando, gostava de dormir ouvindo música, tinha colocado o CD do Jesus Culture que André havia me dado, então comecei a senti uma presença de paz invadir o meu quarto, como se uma luz suave pairasse sobre o ambiente. Concentrei-me na voz de Kim Walker. "I need you more, more than yesterday, I need you more... more than words can say..."

Ia cantando fazendo da música a minha oração.

Veio-me à memória o livro de Cantares, falava de uma história de amor, do noivo que anseia pela noiva e vice-versa, não parecia muito "espiritual", mas continuei lembrando de alguns trechos, a poesia era linda.

"Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho." "Esse casal estava apaixonado mesmo", pensei. O que Deus queria me revelar? De repente aquela vozinha brota no coração e começa a falar:

− O que é um irmão?

Quando Deus pergunta não é porque ele não sabe a resposta, mas porque quer nos ensinar alguma coisa.

Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora