Depois do tempo em Curitiba meus pensamentos estavam mais claros e o coração mais leve. Peguei os inúmeros livros que tinha começado a ler com o objetivo de terminá-los, assisti algumas séries de TV e alguns filmes que há tempos queria ver, lia mais a Bíblia e sempre ouvia alguma pregação, resgatei o projeto de reensaiar uma personagem que surgira no trabalho de conclusão da faculdade, era um monólogo que falava sobre o fim do mundo, "A Profetisa", foi exilada na ilha de Patmos, mas essa era uma ilha de edição, onde ela tentava fazer contato com o mundo exterior para transmitir a mensagem de que o mundo iria acabar, me divertia muito com ela, pois trazia meu lado clown e bufanesco, um ser híbrido que acabei criando.
Procurei me preencher de coisas que eu amava, fortalecendo as minhas colunas. A estreia foi no final de julho em um festival de teatro que acontecia uma vez por ano na cidade, o clima frio da montanha atrai muitos turistas e a prefeitura aproveita para apoiar eventos culturais para esquentar a economia local.
Reestreiar uma peça que era tão eu foi um grande desafio, um monólogo, é só você e o público, refazer o cenário, figurino, contratar um iluminador para afinar a luz, treinar uma pessoa para fazer a trilha, gosto muito do elemento musical para mexer com as emoções do público, ensaiar novos textos que inseri deu muito trabalho, o teatro é uma arte que exige muito de quem se aventura a trilhá-la, algumas pessoas pensam que é só fingir, chorar e depois ir fazer novela e ficar famoso, mas é algo muito além, temos que ser extremamente verdadeiros conosco e com a plateia, nenhuma apresentação é igual a outra, sempre dividimos um segredo cada vez que subimos ao palco, o coração batendo esperando o terceiro sinal até que as cortinas se abrem e damos a primeira fala. O teatro é emoção, é ser humano no sentido mais profundo da palavra.
O público foi bem receptivo, apesar de serem poucos assistindo, a maioria dos colegas teceu elogios, outros, criticaram arduamente meu trabalho, o que também serviu para firmar minha identidade, ainda que eu precisasse ser reconhecida, eu abri mão para fazer algo legítimo do meu coração. Críticas virão em qualquer coisa que faça, seja ela boa ou ruim, basta filtrar as fontes e reter o que realmente podemos mudar no sentido de dar excelência ao trabalho. Meu termômetro era a paz no coração e o esforço que empreendi em deixar tudo lindo para aquele momento, me expondo e não mais ficando invisível. Foi incrível como sempre é quando apresentava. Eu amo ser atriz.
E assim se passaram mais de dois meses, à noite sempre batia a saudade e a esperança de receber um sinal de vida. Até que um dia recebi uma mensagem no celular:
"Preciso te ver, você pode se encontrar comigo? Nino"
Já era madrugada, talvez ele estivesse "louco", mas não me importei muito, acabei atendendo ao pedido. Era estranho revê-lo depois de tanto tempo, não falamos muito no primeiro momento, só ficamos juntos. Parei o carro no monte onde dava para ver a cidade silenciosa lá embaixo.
− Que saudade − ele disse me abraçando.
Senti uma certa alegria em saber que ele pensou em mim.
− Eu também estava com saudade.
− Kate, às vezes eu sinto minha alma queimar depois que bebo ou uso droga.
− É que você assumiu um compromisso com Deus quando se batizou, naquele momento o Espírito Santo habitou em você. O que você está presenciando é sua carne lutando contra o Espírito. Você não sabe que agora é templo do Espírito Santo? Ele está te convencendo do pecado gerando arrependimento no seu coração. Por enquanto, as águas do Espírito estão batendo nos seus tornozelos.
Lembrei da visão de Ezequiel no capítulo 47, Nino me olhou sem entender.
− O profeta Ezequiel − expliquei − teve uma visão em que ele é levado a um rio e depois de andar 500 metros, as águas batiam nos tornozelos, andou mais 500 metros e as águas batiam nos joelhos, mais 500 metros rio adentro e as águas batiam na cintura e finalmente andando mais 500 metros batia nos ombros até não ser mais possível ficar de pé e ele ter que atravessar o rio a nado. O rio é o Espírito Santo, ele trabalha em cooperação com a gente, quanto mais adentramos na sua presença, mais o rio fica profundo, mais ele nos inunda. Onde as águas do Espírito percorrem tudo passa viver, ele emana de Deus e faz o que só Deus pode fazer.
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Ahava- O amor é possível
RomanceKate se apaixona por Nino. Porém, o amor não correspondido a faz encontrar um amor maior. Mas o destino ainda poderá surpreende-la. Leia o primeiro capitulo desse livro que foi inspirada em uma história real.