Capítulo 18

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De volta ao Brasil na minha amada Poços de Caldas, tive um sonho estranho, num lugar escuro numa casa escondida, com as paredes rebocadas, estava me escondendo de algo quando Nino me achou, conversamos como se nunca tivéssemos nos separado, fui ao banheiro e pedi para me esperar, quando voltei não o encontrei, mas sabia que estava perto, me agachei chorando desejando que ele me consolasse, mas não era esse o feitio dele. Acordei suando com a sensação de alguém me observava.

Mal sabia eu que esse era o começo de uma série de sonhos, não queria mais encontrá-lo. Lembrei de minha falecida vó quando dizia que a roda da vida gira para frente e gira para trás, os mundos giram e acabam se alinhando novamente, tudo o que vai fatalmente volta.

No mesmo dia que tive esse sonho maluco vi o Nino num breve "tchau" dado pelo carro do amigo dele enquanto eu caminhava em direção ao teatro. Ele buzinou e parou no sinal fechado, olhei tentando reconhecer quem era, quando o vi um segundo virou um minuto, fiquei sem reação, simplesmente abanei tentando colocar um sorriso no rosto enquanto um fogo de emoção me queimava por dentro. Depressa desviei o olhar num sorriso e continuei andando. Era somente a lembrança do passado e lá ele deveria permanecer.

Recordei-me de quando pensava que o amava, eu o queria tanto, estava certa do que sentia. Nino não merecia mais nenhuma lágrima e estava determinada a não derramá-las mais.

Quando fui para Porto Alegre há anos decidi me afastar de tudo que me fazia mal. Encontrei o lado bom em dizer adeus. Era esquisito ver a pessoa que era seu mundo de repente se tornar um estranho, apenas um rápido e frio aceno. Ele se tornara apenas uma lembrança de um tempo que perdi meu coração pelo caminho e no fim isso não tinha a mínima importância.

Comecei a dar aulas de teatro numa escola e isso tomou bastante do meu tempo, minha mente estava focada em trabalhar. Assim, os meses foram se passando. Falava esporadicamente com André no Skype, seu filho Pedro tinha nascido e estavam muito felizes na Jocum, continuávamos os mesmos amigos de sempre apesar da distância e isso aliviou meu coração. Um belo dia vejo uma mensagem inbox no Facebook, no mínimo inesperada. Era o passado que batia à minha porta.

"Oi, alguém aí?

Então, às vezes me dá vontade de conversar com você, mas não sei se ainda guarda rancor de mim, bom é que tem hora que gostaria de alguém madura pra estar ao meu lado e se tiver a fim de trocar ideia sem blá-blá-blá, rsrsrs eu gostaria muito, se puder me liga, se for dar uma volta, mas se não quiser tudo bem, irei entender, no mais beijo e tudo de bom em sua vida. Nino."

Senti o coração gelar, e um arrepio correu da cabeça aos pés. O que pensar sobre isso? Minha vida estava completamente diferente neste momento. Depois de tanto tempo ele ainda estava sozinho? E se lembrou de mim? O que significava essa mensagem? Algo que sempre esperei ouvir de repente surge assim?

"Jugo desigual", lembrei de ter ouvido alguma pregação sobre isso, eu tinha um caminho e ele outro. A ligação entre nós sempre foi forte, mas agora não admirava mais seu estilo de vida, seria completamente incompatível com quem eu era agora.

Imaginei-me tentando levar minha antiga vida e me pareceu tão pequeno. Não poderia ficar com alguém que pensava tão diferente de mim.

Senti a alma se agitar e a carne gritar, a atração física ainda estava ali como um vulcão, era a velha química que poderia se tornar a minha perdição.

Eu não aguentaria encontrá-lo depois dessa mensagem. Era mais fácil continuar vendo-o como um estranho e estava tudo bem assim.

Por que essas palavras me perturbavam tanto?

Precisava de alguém apaixonado por Jesus assim como eu, com os mesmos princípios e ainda assim seria difícil manter um relacionamento. Não poderia confiar nele, ele já tinha feito a mesma coisa tantas vezes, quem garantiria que seria diferente dessa vez? Fato é que a atração permanecia.

Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora