Capítulo 25

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No fim de semana seguinte teria um Congresso de Jovens e Nino concordou em participar, o tema seria Gênesis, ele estava lendo mais a Bíblia que havia dado para ele. Tomei coragem e contei tudo para minha mãe, pois ela já estava querendo me mandar para um psiquiatra por causa das minhas instabilidades emocionais. Apesar do susto e da preocupação, ela tentava aceitar a situação e preparou um jantar de reconciliação.

Quando Nino voltou a me procurar acho que ele sabia das consequências, ele voltou para ficar. Fui buscá-lo, ele me pediu para passar na casa do maestro amigo para entregar uma música que tinha composto.

Era um lindo condomínio. Quando o maestro perguntou quem eu era, Nino respondeu:

− É minha na-mo-ra-da − disse engasgando.

Achei graça do enrosco em falar com todas as letras: NAMORADA.

Estávamos namorando finalmente.

Mamãe recebeu Nino muito bem, ele elogiou bastante o jantar. E daí pra frente surgia uma grande parceria, minha mãe cozinhando e Nino comendo, saboreando cada tempero como se fosse a melhor comida do mundo, realmente a comida dela era a melhor de todas.

Logo depois do jantar fomos à igreja, seria a abertura. Já havia participado desses congressos e sabia que haveria um momento bem especial chamado Holy Place, pode-se dizer que era um dos mais emocionantes, mas tinha que pegar senha, pois era bem concorrido, durante a tarde eles se reuniriam em um auditório e alguns pastores e obreiros vinham orar individualmente com cada um. Ao fundo uma banda cantava os louvores criando um ambiente para trazer a atmosfera do Santo dos Santos, para trazer a presença de Deus.

Falei para Nino correr para pegar a senha, tinha certeza que ele ia conseguir. Pareciam formigas atrás de doce. Nino se dirigiu tranquilamente e esticou o braço, o papelzinho veio parar na sua mão.

− Parece que Deus quer falar com você.

− Eu nem ia pegar, mas ouvi algo dentro de mim dizendo: "Vai lá."

Talvez Nino já estivesse ouvindo a voz de Deus. Estava ansiosa para ele ter essa experiência com Deus, sei que não adianta ter argumentos bons se o Senhor não se revelar, se não tivermos um encontro pessoal, sobrenatural com a pessoa de Cristo, nada muda. "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."

A pregação do sábado de manhã foi fantástica, nada que eu já não tivesse falado para Nino, foi bom ouvir de uma outra forma por um pastor como o pecado entrou e como Jesus nos salvou.

− Kate, acho que estou começando a entender o que você sempre tentava me explicar.

− Que bom, sei que a Bíblia parece loucura às vezes, mas para nós que somos salvos é como o perfume de Cristo.

Nino me olhou de maneira esquisita. Sorriu e me abraçou.

− Obrigado por estes momentos.

Como gostava de vê-lo me abraçar sem receios. Acho que Deus estava fazendo brotar no coração dele algum sentimento mais profundo em relação a mim, é como se Deus assoprasse uma pequena brasa para fazer o fogo pegar. Eu era paciente, esperaria o fogo aumentar a seu tempo.

Almoçamos, o dia estava mais quente, logo as pessoas começavam a fazer fila para entrar no Holy Place. Os portões abriram depois de uma meia hora, entramos até uma salinha com uma luz mais amena, esperaríamos ali enquanto ouvia a banda tocar, até alguém nos chamar e nos direcionar para os lugares que os obreiros estavam preparados para nos receber, entraríamos de 10 em 10 conforme íamos recebendo as orações.

− Kate, eu não entendo como essas pessoas choram desse jeito. Por que isso acontece?

Havia uma menina adolescente ajoelhada ao nosso lado chorando e dizendo o quanto amava o Senhor.

− Nino, elas estão sentindo a presença e o amor de Deus.

Ele me olhou com uma cara de dúvida, e tentou se concentrar. Entrei primeiro, e o perdi de vista, estava me sentindo bem com Deus naquele momento, e nem lembro muito o que a obreira falou comigo, não demorei e saí, esperei Nino do lado de fora. Todos saíam chorando ou sorrindo de uma maneira diferente. Eu só queria saber o que estava acontecendo com Nino.

Meia hora depois ele sai cambaleante.

− Não consigo abrir os olhos.

− Senta aqui − nos acomodei perto da grama do pequeno jardim que rodeava o auditório.

Esperei mais um pouco até ele conseguir falar.

− Kate, quando estava me dirigindo para onde iam orar por mim, nós vimos aquela menina e eu falei com Deus que não estava aguentando mais, não entendia porque as pessoas choravam daquele jeito, não conseguia sentir o que aquela menina sentia. Então a obreira me chamou, no caminho ouvi uma voz interior me dizendo: "Você não me aceita por causa do seu pai." Você sabe que meu pai não é mal, mas ele é meio liberal, não é um pai que quer saber como eu estou, se preciso de ajuda, não me deu limites, também nunca foi de falar "eu te amo". Um casal de pastores começou a orar por mim, ele dizia que estava vendo muita enfermidade na minha família, que Deus estava me dando um coração novo, uma armadura nova, mas eu estava resistindo, não queria chorar, a esposa do pastor me olhou e me disse: "Nino, deixa esse orgulho de lado, aceita Jesus na sua vida", de repente, o pastor me pegou e disse: "Meu filho, me dá um abraço".

Nino parou e começou a chorar.

− Quando ele disse isso, eu não aguentei, chorei muito porque para mim chamar Deus de pai era muito difícil, eu nunca vi Deus como uma pessoa, muito menos como um pai, e ele não é como o meu pai, ele é um pai de verdade. O pastor continuou falando: "Deus te escolheu com essa cara de maluco porque você vai tirar os malucos das drogas, você vai arrastar multidões com a sua música." Kate, como ele sabia que eu era músico? Como ele sabia o que eu estava pensando antes?

Nino chorava ainda, eu o abracei.

− Agora as escamas dos seus olhos caíram, você teve uma experiência com Deus.

Aquele momento valeu por todo o Congresso. Nino começou a se apaixonar por Jesus. Queria saber tudo pela nova ótica de Deus. Tudo o que Deus precisa é um coração sedento e arrependido.


Ahava- O amor é possívelOnde histórias criam vida. Descubra agora