Capítulo Dois - Basquete, pra que te quero?

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— Tony, você viu que as inscrições para a seleção do time de basquete já estão abertas? — digo olhando para o cartaz colado ao lado do meu armário, cujo papel ilustra um cara famoso da liga de basquete nacional fazendo um cesta em pleno ar. Acima, o símbolo do time da escola está estampado em letras grandes com um glorioso slogan: 'Hell's Bulls, Só para os campeões.'

    — É, eu vi. — ele dá de ombros, desinteressado .

    — Você deveria se inscrever. Eu vejo como você joga, você é muito bom.

    — Mas não sou bom o suficiente. Minha experiência de atleta se limita ao quintal de casa. Eu já me inscrevi uma vez, lembra? — uma ligeira tristeza atravessa seu rosto— eles disseram que eu precisava treinar mais.

    — Isso foi há 3 anos atras. Ainda era uma criança apaixonada pelo "Grande" Michael Jordan. Você mudou e evoluiu muito depois disso. Você pode ser um Michael Jordan perdido, então prove isso a eles.

    — Não existe Michael Jordan perdidos. Ele é único. Posso ser bom, mas nunca tão bom quanto aquele mito.

    — Bom, você que sabe. — pego os livros da próxima aula no meio da bagunça do meu armário. — Se deixar essa chance passar vai ficar o resto da vida se lamentando por não ter tentado.

    — Não vou não.— ele retruca e não convencida, reviro os olhos.— aliás, você estudou para a prova de matemática? Não sei nada daquele assunto que vai cair.

    — Mas é claro que estudei. Eu sempre estudo, ao contrário de você que só passa por causa das minhas colas.

    — Qual é? Não seja tão orgulhosa, isso acontece só algumas vezes. A professora Phoebe também não ajuda muito com aquela vozinha e cara de ratinha.

    Subitamente, ele incorpora os trejeitos da mulher e começa a imitá-la no meio do corretor movimentado. Ele junta as mãos à frente do corpo, como um coelho, e enruga o nariz farejando alguma coisa no ar.

    — olá, eu sou a professora ratinha Phoebe e gosto de comer queijo. — ele diz imitando de forma cômica a voz irritante da professora.— Elize Gênio Reynolds me responda a seguinte pergunta: se eu tenho três queijos e você me dá mais três com quantos eu ficarei?

    — Para com isso seu besta, tá todo mundo olhando — repreendo-o entre risadas. Ponho as mãos sobre o rosto na debil tentativa de não ser vista com o palhaço. — você não parece um rato e sim um coelho.

    — vamos lá, qual é a resposta certa?— agora ele põe os dentes de cima para fora da boca apoiando-os no lábio inferior.

Gargalho alto.

    — tá bom! Seis queijos! Você fica com seis queijos, senhora ratinha.

    — bannn! Resposta errada! Eu vou ficar com zero queijos, minha querida, porque comi todos eles enquanto você me respondia.

    Uma menina morena do segundo ano passa por nos fazendo uma careta ao franzir a testa.

    — essa foi boa. Não acredito que ri disso.— digo, enxugando os olhos. — preciso parar de andar com você ou vou ficar com fama de retardada.

    — você me ama que eu sei.
    — Iludido. Eu só te aturo porque não tenho opção.
                    
                        ****

    — Queria poder ajudar o Tony, mãe.— digo ao esfregar a panela cheia de gordura da carne comida no jantar.

    — Ajudar como?

    — Tento convencer ele a se inscrever pra seleção do time de basquete da escola, mas ele não me ouve. Diz que não é bom o bastante. Parece que ele tem medo de ser recusado outra vez.

    — Talvez seja isso. Ou talvez ele não queira mesmo.— ela sugere enquanto enxuga o prato molhado.

    — Mãe, ele ama basquete desde que eu o conheci, ele só vive em função disso. E ele joga muito bem só que não consegue ver isso. Queria poder de alguma forma mudar essa situação, ajudar ele a entrar no time. Mas como?

    — Se o técnico visse o quanto ele é habilidoso nisso, ele poderia ser aceito no time.

    — E como vou fazer isso acontecer?

    Ela arqueia uma sobrancelha e fecha a torneira que esqueci aberta por estar distraída em tirar a mancha engordurada e nojenta que não saia de jeito nenhum da frigideira.

    — Não faço a mínima ideia. Mas você é muito criativa, vai descobrir um jeito.

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