Dando empurrões nada educados nas pessoas para abrir caminho por dentre a multidão, me afasto do caos fervente e consigo chegar até o banheiro imundo da boate.
Por sorte, lá dentro há somente duas mulheres, uma lavando as mãos e outra passando um batom roxo neon nos lábios. Ignoro-as e entro em uma das cabines com pressa. Tranco a porta, fico de joelhos e espero, paciente, a boa vontade do meu estômago em caos jogar o que foi todo o meu jantar para fora. Quando sinto uma erupção involuntária subindo pelo esôfago, me seguro com vigor e abaixo a cabeça quase dentro da privada e libero uma torrente de vômito amargo e espesso, o qual consome quase todas as minhas forças.
Quando termino o espetáculo, trêmula sento no chão encardido do banheiro e espero alguns minutos até que eu finalmente pare de tremer e sinta a dor de cabeça dando uma folga. Passo as mãos sobre o rosto e os cabelos impregnados com vômito e engulo outra ânsia vindo quando vejo o grude fétido nas mãos.
O que estou fazendo?
O que estou fazendo?
O que estou fazendo?
Céus, se eu chegar nesse estado deplorável em casa meus pais vão me matar, e com razão.
De repente, estremeço com a força do baque da porta ao lado sendo fechada. E sem demora começo a ouvir o som de uma troca intensa de beijos, o arfar de respirações pesadas, e por últimos gemidos altos e agudos.
Fecho os olhos e sem conseguir me controlar rio da situação. Uma lembrança do dia em eu e Natasha executamos nosso plano de roubar as chaves do laboratório que estavam na sala do diretor perpassam em minha mente. Por ironia do destino estou revivenciando a cena que tentei criar naquele dia com um gravador me dado por Natasha. Todavia, aquilo não passava de uma travessura e não envolvia nada mais do que um áudio pego da internet. Mas agora isso é real. Estou sentada no chão imundo de uma boate imunda depois de vomitar as tripas e de brinde estou ouvindo a sinfonia de uma casal tendo momentos íntimos bem apimentados na cabine mais próxima. Posso até sentir as pancadas do meu lado da parede divisória.
Que idiota eu sou. A que ponto eu cheguei? Como faço pra acordar desse pesadelo?
Em seguida, saio da cabine como se não tivesse ouvido nada e lavo as mãos. Ao me olhar no espelho tenho vergonha do que encontro. Uma garota de cabelos bagunçados e emaranhados, com olhos de panda borrados por conta da maquiagem preta escorrendo, a boca e o queixo borrados de batom rosa escuro e a testa cintilando com gotas de suor. Penso em Natasha e em Mike. Será que eles estão se saindo melhor que eu?
Tiro o celular de dentro da bolsinha pendurada no ombro que milagrosamente não perdi na pista de dança e ligo para Natasha umas três vezes antes de desistir. Ela não atende, provavelmente porque ou está drogada demais para prestar atenção ou o barulho da música alta sobrepõe o do toque, ou então os dois.
Ah, que se dane. Vou mandar uma mensagem para ela dizendo que fui para casa e nós duas nos vemos depois.
Quando termino de enviar o aviso e saio do banheiro, mal dou três passos para fora dele quando sinto uma mão puxando meu braço. Franzo as sobrancelhas e me viro para trás. Mike.
— Achei você. — ele diz trôpego sem me soltar — Você é difícil de achar gata, acho que mereço um prêmio por isso.
— O que?— indago confusa. Onde está Natasha?
No entanto, antes que eu possa me livrar de sua mão asquerosa sobre mim, ele me empurra de encontro à parede e fico presa entre os dois.
— Mas o que você tá fazendo?! — esbravejo ao me ver encurralada. Tento empurra-lo para trás, mas ele não se move um centímetro. Meu coração acelera.
— Shhhh — sibila e põe os braços com as mãos espalmadas na parede por sobre os meus ombros. — O que você acha que eu estou fazendo? — ele fala e sinto o cheiro de seu hálito alcoólico no meu rosto — Sua amiguinha chata não está por aqui pra atrapalhar a gente.
— Seu porco. Me solta! — digo com raiva, mas me encolho quando ele se aproxima de mim a ponto de me fazer sentir o calor emanando de seu corpo e o cheiro do suor na pele.
— Mas que merda é essa? — vocifera uma voz feminina familiar e nós dois olhamos ao mesmo tempo na direção que ela veio. Contudo, aproveitando a distração, lanço-lhe uma joelhada entre suas pernas, atingindo bem no alvo.
— Vadia! — Mike urra de dor e se contorce, pondo as mãos no local atingido. Mais uma vez, sinto o sangue ferver e não perco a chance acerta-lo outra vez. Incorporando todos meus instintos de auto defesa, fecho a mão direita em punho e esmurro seu nariz. Em seguida, ele cai no chão de forma dramática, provavelmente pela confusão de sentidos causada pelo entorpecente correndo em seu sangue. Meus dedos, agora, latejam e doem com a pancada, mas valeu a pena.
Natasha se aproxima, com um copo na mão e o vira para baixo, derramando toda a bebida em cima dele.
— Seu escloto. — ela xinga com a voz meio engraçada e depois olha pra mim com uma expressão de fúria — e você sua falsiane! Como pôde fazer isso?
— Natasha, eu... — tento argumentar, mas as palavras se recusam a sair da minha boca. Embora eu tenha sido surpreendida por ele, me sinto culpada.
Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, aos seus pés, Mike murmura algo indecifrável.
— Cala a boca! — ela resmunga e chuta sua barriga, fazendo-o arfar de dor. A essa altura, alguns curiosos já se amontoam a nossa volta, formando uma plateia para o show.
De não muito longe, vejo os seguranças se aproximando de nós e sem pensar duas vezes, dou as costas à confusão e corro para a saída. Por sorte, avisto um último táxi em frente a boate que está prestes a ser alcançado por um grupo de três garotas. Mas sem me importar em ser politicamente correta e em esperar a minha vez chegar, entro dentro do carro, ignorando os palavrões e os protestos das jovens e peço ao motorista para irmos para bem longe dali.
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Diverso
Teen FictionElize é uma garota comum, com uma vida comum, que vive em um lugar comum. Contudo certas escolhas que ela faz mudam sua vida de cabeça para baixo, fazendo desmoronar tudo aquilo que ela construiu e no que ela acredita. Por isso, nunca subestime uma...