Capítulo Nove - pagando papel de trouxa

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O sinal toca. O barulho estridente ecoa por todos os cantos da escola fazendo meus ouvidos doerem. No meio da multidão, me sinto uma idiota procurando e analisando cada rosto para ver se encontro aquele que não sinto mais prazer em ver.

    Desisto de procurar e ando em direção a sala de aula. Lá encontro todos os alunos já sentados e o professor parado em frente a turma pronto para começar a aula. Constrangida pelo atraso peço licença e sento em meu lugar. Procuro a minha volta pelo novo capitão do time de basquete e vejo sua carteira vazia. Ele ainda não chegou.

    — Turma, vou passar de carteira em carteira pegando o trabalho de vocês. Aos que fizeram, meus parabéns, não era mais que sua obrigação. E aos que não fizeram, bem, perderam parte da nota do bimestre. — Senhor Andersen anuncia, forçando a piada sem graça com uma risadinha.

    Olho para Natasha, que está sentada atras de mim e ela me cumprimenta.

    — parece que ele não vem, ein. — ela observa. Mas dessa vez não sinto o familiar tom de sarcasmo, apenas um ligeiro e sincero pesar. Odeio isso, odeio quando sentem pena de mim, seria melhor ouvir seus costumeiros comentários ácidos a ser alvo de pena.

    Quando penso em respondê-la a porta se abre e um rapaz alto e forte irrompe na sala.

    — desculpe pelo atraso senhor Andersen.

    — Sente no seu lugar Sanders. Estou passando recolhendo os trabalhos de divisão celular.

    Antony obedece e se desloca ao seu lugar, a carteira vazia ao meu lado.

    — Achei que você não viria hoje. De novo. — sussurro mal-humorada

    — Aqui estou eu, baby. Não precisa sentir minha falta. — ele abre um sorriso sínico.

    Retiro a cartolina caprichosamente desenhada e um pouco amassada de dentro da mochila.

    — Toma aqui. Fiz seu trabalho como combinado.

    Ele me olha surpreso e um cintilar de confusão transparece em seus olhos. Antony se inclina e de dentro de sua mochila também tira uma cartolina. Entendo na hora do que se trata.

    — caramba, Elize, eu esqueci que tinha te pedido pra fazer o meu trabalho também. Foi mal.

    — O que...? — sussurro surpresa e franzo a testa, ignorando o 'também' de sua frase — você fez o trabalho?

    — Na verdade não. — ele se explica — foi a Nikki.

    Ele então vira a cabeça para o lado e na fileira seguinte uma garota de feições asiáticas sorri timidamente em sua direção e acena um tchauzinho. Ele pisca pra ela.

    — Como assim você se esqueceu? Eu passei a noite toda fazendo essa porcaria porque você me pediu! Disse que tava sem tempo por causa dos treinos, mas incrível como isso não te impediu de sair com aquela garota morena ontem! — o tom da minha voz sobe e não consigo esconder a frustração. Sei que estou chamando a atenção dos colegas em volta mas não consigo evitar reprimir o sentimento da raiva que está consumindo o meu bom senso.

    — Qual é ? Foi mal. Não precisa ficar estressada.

    — Estressada?! Você acha que estou estressada? Depois de tudo, você realmente acha que estou com estresse? — as palavras saem da minha boca e não consigo evitá-las. Ele não parece se importar, seu semblante demonstra puro desinteresse com um misto de impaciência. — eu cansei  disso. Cansei de ser feita de trouxa.

    — Estou interrompendo alguma coisa aqui ? — subitamente a voz do professor irrompe e quebra o clima tenso pairando no ar. Me obrigo a recompor e balanço a cabeça negativamente.

    — Ótimo crianças, na minha aula não. Cadê o trabalho de vocês?

    Entrego a cartolina amassada sem olhá-lo nos olhos e empertigo me virando para frente, fitando o quadro. Sem demora o professor volta para frente e começa sua aula. Entre uma frase e outra, ele solta uma piadinha e a turma inteira ri. Exceto eu. Não só consigo prestar atenção no que ele está falando, como também não consigo entender nada do que ele fala. E Não me esforço para ouvir o que diz. Minha mente está vazia.

     Não sinto mais nada.

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