Era só mais uma aula chata e cansativa de educação física na qual o professor começava com os aquecimentos e logo depois dava a bola para os meninos jogarem, enquanto as garotas ficavam sentadas nas arquibancadas observando o jogo e esperando o tempo passar.Tony e eu estávamos sentados em um dos degraus analisando a partida de basquete que se desenrolava na outra quadra do ginásio, ocupada pelos jogadores do time que treinavam intensamente. Ao meu lado Tony se contorcia a cada erro dos atletas e comentava o que cada um deles devia melhorar em suas performances.
— caramba, esse McGuire é bom mesmo. Olha como ele se mexe com velocidade e equilíbrio quando recebe a bola dos outros. Só não gosto quando ele pula na hora de fazer a cesta. Ele deveria se aproximar mais do painel antes de lançar a bola. Por isso ele nem sempre acerta. Quando fica longe, fica mais difícil ter precisão.
— Quem será que se sairia melhor em um jogo entre vocês dois?
— Com certeza eu. Acerto 80% das cestas enquanto ele só faz metade.— Tony afirma convencido e eufórico quando a bola é arremessada por McGuire e cai fora da cesta.
— Você é realmente um menino muito ousado e convencido. Ele é o capitão do time, não está ali a toa.
— Que foi? — ele olha pra mim, divertido — nunca disse que ele era bom, só disse que sou melhor.
O apito do técnico soa e a partida acaba. O time de McGuire ganhou por 5 pontos a mais. Mas o técnico não parece feliz e dá uma bronca nos rapazes dizendo que eles precisam melhorar se quiserem vencer o campeonato municipal.
De repente uma ideia geniosa e diabólica me ocorre. Destemida, aproveito a distração de Tony no celular e, criando coragem, digo alto ao capitão dos Hell's Bulls:
— Bom jogo, McGuire.— o grandalhão suado abre um sorriso convencido — Mas meu amigo aqui disse que sabe fazer melhor.
Na mesma hora seu sorriso desfalece e seu rosto toma um ar de desdém. Os colegas do time soltam um provocante 'Iiiihhhh' e Tony me lança um olhar surpreso e acusatório.
— duvido muito, docinho. Ninguém é melhor que eu.— desdenha o atleta.
— Se eu fosse você não deixava, Josh. — comenta um
— Mostra pra ele, cara, quem sabe jogar de verdade— incita outro
— N-não! Ela tá inventando. Eu não diss...
— é, McGuire, quem será que joga melhor?— questiono, por fim.
Do outro lado da quadra, o técnico Rey observa o desafio que intencionalmente implantei nos atletas. Curiosamente, ele parece estar interessado quando diz ao meu amigo:
— mostre do que você é feito, garoto. Se for tão bom quanto fala, talvez eu te coloque no time.
Com isso, Tony se empertiga. Ele parece inseguro e assustado ao se levantar. Mas a menção de entrar no time o fez ganhar uma certa confiança e coragem.
— Vai lá, Tony. Mostra pra ele como se faz. Eu acredito em você.— sussurro e pisco o olho pra ele conforme vai descendo pela arquibancada. Ele engole em seco e não responde.
— Vou acabar com você, magricela.— McGuire provoca.
— É o que vamos ver.— devolve Tony.
E o jogo começa.
****
Minhas mãos estão trêmulas. Sôo frio. Mal consigo respirar. Não ouso sequer piscar. Tenho a forte sensação de que meu traiçoeiro coração agitado sairá a qualquer momento pela boca.
De pé na arquibancada, vejo Antony e Joshua McGuire se moverem ferozmente pela quadra. O jogo está empatado e eles estão a cerca de 10 minutos dando o melhor de si naquela partida a qual todo o time dos Hell's Bulls e o técnico assistem atentamente, e até mesmo os alunos da nossa enfadonha aula de educação física pararam suas atividades e vieram marcar presença.
Apenas um ponto, um mísero ponto, irá determinar quem será o vencedor dessa partida e decidirá se Antony ficará ou não com a sua tão sonhada vaga no time de basquete da escola.
— VAI ANTONY! PEGA ESSA BOLA! — Grito com toda a força dos meus pulmões quando vejo meu amigo perder a posse do objeto para McGuire e ficar em desvantagem.
De início, a torcida era voltada apenas para o capitão do time. Seus colegas atletas gritavam alto seu nome e incentivos à cada vez que ele se sobressaia no jogo. Entretanto, Antony não se deixou intimidar e logo provou seu devido valor e talento perante o público. Por conseguinte, tanto vozes conhecidas de meus colegas assim como a de outros integrantes do time dos Hell's Bulls passaram a torcer para Tony, fazendo com que ele cada vez mais brilhasse em sua performance e acertasse a bola na cesta continuamente.
McGuire também não ia mal, mas seu desempenho foi sendo ofuscado aos poucos na medida em que percebeu que seu oponente estava altura e fora subestimado por ele. Seus esforços em tentar recuperar a bola e tentar avançar na frente de Tony eram visíveis e até de certo modo cômico. Afinal, quem diria que a sorte daquela partida estaria a favor de um principiante magricela e desconhecido?
Aflita, observo que Antony está, dessa vez, com a bola e McGuire está inclinado em sua frente tentando impedir que ele avance. Mas Antony, mais esperto e perspicaz, finge avançar pela direita e o capitão cai nesse velho truque bloqueando seu avanço. Em seguida, velozmente, Tony avança pelo outro lado enquanto McGuire, tarde demais, enfim percebe o estilo da manobra e antes que ele numa tentativa desesperada consiga arrancar a esfera alaranjada da mão do oponente, gira e cai no chão. Antony não perde a chance e eu não contenho meus gritos de excitação. É agora ou nunca, o caminho está livre para a vitória.
Sem demora meu melhor amigo corre em direção ao placar salta incrivelmente e alto e faz a cesta.
O apito do técnico soa estridente e o jogo finalmente acaba. Antony estira as mãos para o alto num gesto de vitória enquanto eu corro das arquibancadas em sua direção. A nossa volta as pessoas que torciam a seu favor comemoram, e os que não torciam batem palmas discretas e reconhecem que foi uma boa partida. O rosto de McGuire exibe fúria e inveja, os amigos tentam consola-lo mas ele se desenvincilhada deles e sai caminhando a passos pesados para fora do ginásio.
— Consegui, Elize, eu consegui! — Tony exclama.
Pulo em seus braços, tomada pela emoção e alegria, e lhe dou um abraço apertado, ignorando seu corpo cheio de suor.
— Eu sabia que você conseguiria, Tony. Nunca duvidei de você. — sussurro em seu ouvido em meio à multidão que se amontoa a nossa volta.
— Valeu mesmo, Elize. Eu não conseguiria sem você. Eu não poderia ter uma melhor amiga melhor.
Dito isso ele me dá um beijo rápido na bochecha e se desfaz do meu aperto para ser parabenizado pelo técnico da equipe.
Sinto minhas bochechas corarem violentamente. Um sentimento de ternura e timidez preenche até o último espaço vago dentro de mim. Talvez ele tenha feito isso inconscientemente, levado pelo calor do momento. Talvez nem se lembre depois. Mas eu prometo a mim mesma que não vou esquecer e guardo essa lembrança com todo cuidado num pequeno espaço dentro do meu coração .
Acho que nunca mais vou lavar a bochecha.
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Diverso
Teen FictionElize é uma garota comum, com uma vida comum, que vive em um lugar comum. Contudo certas escolhas que ela faz mudam sua vida de cabeça para baixo, fazendo desmoronar tudo aquilo que ela construiu e no que ela acredita. Por isso, nunca subestime uma...