Capítulo Sete - Nada é mais como era antes

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*Dias atuais*

Estava prestes a sair de casa para ir a escola quando encontrei tia Rose, em frente a sua casa, indo por o lixo pra fora. Sendo uma típica doceira, seu cabelo e sua pele estavam um pouco sujos de farinha e sob os seus olhos haviam sobressalentes olheiras arroxeadas.

— Bom dia, Elize! Está indo para escola? Quer esperar o Tony vir e te dar uma carona? Ele já está saindo também.

— Bom dia, tia Rose. Eu não sei... eu gosto de ir pedalando . Não quero atrapalhar. — respondo

— Ah que isso! Somos sua segunda família, você sabe. Você é uma menina de ouro. Não atrapalharia nunca. — ela comenta com um sorriso aberto— e o negócio do seu pai como anda ?

Com a menção ao falido restaurante do meu pai, meu animo se esvai, no entanto, não deixo o sentimento ruim transparecer e emendo:

— Fechamos o Sabor Libanês semana passada. Não deu certo.

— Oh! Mas que pena! Sinto muito! Eu sei o quanto seu pai estava empolgado com o novo negócio.

O 'novo negócio' tinha se tornado um verdadeiro desastre e tinha deixado um rastro de imensas dívidas para nossa família. Meus pais começaram a vender nossos móveis e os carros, desesperados com as ameaças do banco de tomarem nossa casa. O pouco que minha mãe ganhava como enfermeira em três hospitais diferentes, era o que nos sustentava e nos permitia que não passássemos fome. Todavia, já havíamos aberto mão das regalias como comprar coisas supérfluas e não tão importantes para dar prioridade às necessidades. Cada centavo era contado, nada mais era gasto sem pensar na dívida a ser quitada ou em economizar. Estamos à beira da desgraça.

Forço um sorriso torto e menciono que preciso ir antes que me atrase.

— Meu doce, eu insisto que você vá com o Tony. Aliás queria conversar com você sobre ele. Tenho andada preocupada com meu filho. — o seu adorável rosto se torna sombrio de repente e as olheiras aparentam ter ficado ligeiramente mais escuras— desde que ele entrou no time de basquete ele mudou. No início achamos que era o calor do momento por conta dos novos amigos, mas ele está tão diferente que às vezes mal o reconheço.

Ouço atentamente e ela continua com desgosto.

— ele tem faltado as aulas e tem chegado tarde em casa. Outro dia senti um cheiro forte de cerveja em seu quarto. Vocês não tem mais se falado, não é? — balanço afirmativamente a cabeça — você nunca mais veio aqui em casa comer meus biscoitos e não vejo mais o Antony com você. Eu acho que ele está assim por conta dos novos amigos que ele arranjou. E estou muito preocupada com as más influências.... que ele possa fazer alguma besteira... Prometa que vai ficar de olho nele pra mim, meu doce, por favor tome conta dele quando eu não puder estar por perto.

— Senhora Sanders... — ela me olha tristonha e desolada, seu pedido não admite recusa então cedo — tudo bem, vou ficar de olho nele.

Uma pequena centelha de esperança reflete em seus olhos castanhos miúdos, tão iguais, tão pertubadoramente iguais, aos de Antony.

A porta da casa dos Sanders se abre e um garoto alto e ligeiramente forte sai por ela. Ele parece surpreso em me ver parada ali em frente à sua residência e conversando com sua mãe.

— Filho amado, leve a Elize com você para a escola, sim ?

— Tá bom, mãe. — ele retruca e lança um meio sorriso forçado em minha direção.

— Até mais senhora Sanders. — me despeço.

— Tchau, Elize. Vão com Deus. — ela me dá uma piscadela em conluio e entra.

— Vamos — Antony chama e o sigo desconfortável.

Ao entrar na garagem sinto falta da velha picape cinza e reparo que em seu lugar há estacionado um conversível vermelho muito bonito e novinho em folha. Ele aperta o botão da chave e o carro destrava com um barulho ruidoso me fazendo dar um salto de susto.

— Gostou da minha nova menina? — ele pergunta prepotente.

— é um belo carro — murmuro ao sentir o cheirinho de carro novo quando abro a porta — como você conseguiu ele? Isto é, o que aconteceu com a velha picape cinza?

— Me livrei naquele troço velho que só quebrava. Esse daqui, eu consegui com o patrocinador, ele disse que posso conseguir muito mais se o nosso time vencer o campeonato municipal.

— Legal. — resmungo ao sentar no banco de couro.

Ele põe um óculos de sol muito estiloso e liga o som num rap pesado. Vejo o antigo terço que outrora ficava pendurado no espelho do teto no mesmo lugar nessa nova máquina. Não consigo evitar que um sorrisinho leve escape de meus lábios com a boa lembrança. Ele dá a partida e avança para a estrada, eu me seguro no poio do carro com a alta velocidade.

— E então, Antony, como anda sua nova vida? — alfineto

— como você pode ver, melhor do que nunca. — declara

— Tão boa que anda faltando as aulas e chegando tarde em casa.

O sinal fica vermelho e ele para.

— Andou falando mesmo com minha mãe, Ein. Isso não é da sua conta.

— Antony, ela se preocupa com você e eu também. Éramos melhores amigos, lembra?— comento com desgosto — o que aconteceu com você? Como pode mudar tanto por causa de um time?

O sinal abre, ele arranca. Me seguro de novo no apoio com a força da aceleração. Inércia. Faço uma nota mental pensando na prova de física na sexta sobre as leis de Newton.

— Você não entende. Você nunca entenderia. Você é uma pseudonerd que tira boas notas da escola e me passava cola quando eu precisava. Eu nasci pra isso. Essa é a minha nova e real vida agora.

— Antony! Dirige mais devagar, senão vai matar a gente!

— Eu sei o que eu tô fazendo.

— Não, não sabe! Eu sempre estive do seu lado pra te guiar e não te deixar fazer besteira, mas agora você me afastou por causa dos seus novos amigos e do seu time! Eu que sempre fiz tudo por você! — grito ao botar pra fora todo o ressentimento preso no meu peito durante todo aquele tempo.

— Não preciso que você banque ser a minha babá. Não preciso de mais ninguém controlando a minha vida! Eu sou o novo capitão do time de basquete e faço o que quero e quando quero e você não tem mais nada a ver com isso!— ele rebate irritado

Fico atordoada e sem saber o que falar. Aquele não pode ser o meu melhor amigo Antony James. Tento me conter e reprimir a revolta no meu coração, engulo toda a raiva e ficamos em silêncio apenas ouvindo as batidas pesadas do rap até o final do trajeto.

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