Capítulo Cinco - Um novo alguém

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     Era só mais uma manhã enfadonha de aula quando o professor de biologia nos levou ao laboratório para estudar o sistema sanguíneo através dos experimentos com anti coagulastes e amostras de sangue tiradas dos alunos.                    

     Sento em minha cadeira sob a bancada formada para duplas. Melancólica, lembro que Antony costumava ser a minha dupla e sempre que se sentava ao meu lado fazendo suas gracinhas com os experimentos até levarmos uma bronca do professor. Hoje, porém, ele faltou o que vem se repetindo estranhamente nos últimos dias. Não tive a chance de perguntar mesmo, então não sei o motivo. Olho para o assento vazio e me sinto solitária quando vejo as pessoas se sentarem em seus lugares e formarem suas duplas, sinto tanta falta de Tony que chega a doer.

Logo mais, o professor entra na sala trazendo ao seu lado uma aluna cujo rosto não reconheço, concluo que deve ser nova na escola.

      A jovem tem um estilo originalmente punk, exibindo algumas tatuagens nos braços e um piercing no nariz na parte cartilaginosa entre as fossas nasais. Ela tem estatura mediana e a pele clara, a boca está pintada com um batom tão escuro que de longe parece ser preto. Os olhos estão contornados de lápis preto borrado e as pálpebras são preenchidas por uma sombra preta toscamente esfumada. O cabelo exótico é escuro da raiz até a metade com as partes mais extremas pintadas de roxo púrpura, além disso, um dos lados da cabeça é raspado. Ela veste uma camisa preta rasgada nas laterais com um desenho de uma banda simbolizada por uma boca carnuda vermelha com uma língua para fora. A calça jeans detonada vem até os joelhos cujos rasgões exibem partes da meia arrastão usada por baixo. 

    O toque final fica pelo coturno preto de cano curto e os acessórios de tarrachas pontiagudas que adornam os pulsos e o pescoço. Intrigada, analiso minuciosamente a figura incomum parada na frente da turma ao lado do professor. Ela me pega olhando e sorri provocante. Desvio rapidamente o olhar e coro de vergonha.

— Bom dia, pessoal. Temos uma nova aluna na escola, essa é Natasha Sullivan. — o professor Andersen informa.

Com ela parada ali na frente da sala, todos ficamos completamente imersos num incomodo silêncio. Todos parecem terem esquecido os bons modos de receber calorosamente um novo estudante na classe. Eu, no lugar de Natasha, sob o escrutínio e julgamento de toda uma turma, teria ficado muito acanhada e desconfortável. Porém, ela não exibe nada disso, um pequeno sorriso divertido brinca em seus lábios, e ela masca despreocupadamente um chiclete como se nada a afetasse.

— Tem um lugar vago ali, do lado de Elize.— ele aponta na direção da minha bancada — Pode se sentar lá, Natasha, e seja bem vinda.

Me encolho com sua aproximação e tento esboçar indiferença à presença do meu novo par.

     Não estou muito segura de que tive sucesso.

     Ela puxa a cadeira e se senta, joga a mochila aos pés e apoia o anti-braço estendido sobre a mesa na bochecha, entediada. A aula inicia e o professor faz sua anotações no quadro começando o falatório. Abro meu caderno e copio as informações expostas no quadro. A garota ao lado não se quer mexe um dedo. Tento me concentrar no que o professor diz, mas alheia a presença da nova aluna, fico rígida e meus pensamentos vagueiam.

— eu não mordo sabia? — ela sussurra de repente — a menos que você queira.— ela acrescenta maldosa e pisca.

Engulo em seco e movo meus olhos para o canto em sua direção, permanecendo com a cabeça olhando para frente.

— Mas não acho que você queira isso. — continua — E mesmo se quisesse, não faz meu tipo.

Não respondo. Sinto que começo a suar frio.

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