Um mês se passou e as coisas cada vez mais estão complicadas. Estamos em uma grande batalha contra os rebeldes, que eu não imaginava que seriam tantos. Ganhamos 4 batalhas e perdemos duas. Mesmo ganhando as lutas, a vida de tantos guardas foram perdidos que eu via a tristeza de todos. Todos os servos sentiam medo de onde essa guerra poderia chegar.
Eu estava afetada com tudo isso, eu estava agindo por impulso e fazendo coisas que não deveria. Minha gravidez já chegou numa etapa menos arriscada, e talvez seja por isso que eu tenha sido tão impulsiva.
A verdade é que minha cabeça estava um ninho. Um ninho de confusões, incertezas e sofrimento.
A coisa que mais me acalmava era caminhar pelo castelo, pelas partes menos visitadas ou as que só os servos tinham acesso. Os nobres já não me olhavam com aquele olhar encantado de que eu poderia ser a salvação do país, eles me olhavam agora com o mesmo olhar que olhavam para o Rei Heitor. Aquele olhar de que na verdade, vê você como um fracasso. Eu era um fracasso aos olhos deles. A minha gravidez e meu casamento não mudavam esse fato. Para eles eu não estava fazendo nada de especial, e essa guerra piorava ainda mais a minha triste situação.
Eu estava chegando na cozinha quando escutei duas servas conversarem e decidi parar para escutar.
—Eu acho que ela está louca. Sério, ela só tem 17 anos, é muita pressão para uma pessoa só. —escutei uma falar.
—Louca? Se ela tiver louca ela é um perigo.
—O que foi, Saory? Você nunca reparou no jeito que ela anda pelo castelo? Os cabelos bagunçados, com qualquer roupa, os olhos fundos. Parece aquelas loucas que fugiram de um manicômio. —a primeira falou e eu senti meu sangue ferver.
—Talvez ela esteja mesmo enlouquecendo. Mas, não é culpa dela. —a outra falou e eu decidi interromper a conversa delas, que me olharam assustadas.
Elas se curvaram e mal levantavam a cabeça para me olhar, as duas claramente estavam com medo de que eu tivesse escutado o assunto delas.
—Louca... —indaguei soltando um riso irônico.
—Vossa Alteza... —uma delas tentou me interromper, mas eu levantei a mão em sinal que ela parasse de falar.
—Eu sou Isabel Victoria Accioli, 17 anos, quase 18. Nascida e criada em Mairan, família nobre e de sangue real. Crescida com uma educação exemplar, com sonhos e planos muito grandes. Nunca foi meu objetivo ser rainha, nunca sequer passou pela minha cabeça a possibilidade de um dia esse destino cair em minhas mãos. Eu pedia à Deus que abençoasse o Rei Heitor e que concedesse muitos filhos saudáveis à ele, mas não foi isso que aconteceu. A coroa caiu em minha cabeça. Eu não escolhi, eu fui escolhida. Com apenas 17 anos carregando o peso de um país em meu nome, com apenas 17 anos tendo que lidar com tantas coisas de uma vez. Ser rainha, casar, engravidar, enfrentar uma guerra. Por Deus! —pausei para respirar. —Eu sou humana! Eu sou como vocês. Eu tenho uma vida. Eu tenho sentimentos. Eu sou humana. Eu choro. Eu fraquejo. Eu sofro. Eu sou apenas humana. Se aos olhos de vocês eu sou louca... Tudo bem. Mas, quando se tem a minha idade e precisa lidar com tanta coisa, é difícil não enlouquecer.
Eu nem havia notado as lágrimas caírem pelo meu rosto. Apenas desatei a falar e os olhos delas também encheram-se de lágrimas. Não sei se foi empatia ou medo.
—Eu não vou despedir vocês. Isso prova que eu sou humana e que se vocês são servas, são porque precisam de dinheiro. Eu espero que vocês cresçam e que um dia possam proporcionar boa vida aos filhos de vocês. Com licença. —retirei-me da cozinha e limpei meu rosto enquanto caminhava para outro lugar do castelo.
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Palacintian
ChickLitO diferente nem sempre é bom. A riqueza nem sempre é uma maravilha. Usar uma coroa nem sempre é fácil. Reinar vai muito além de vestidos e sapatos bonitos, vai muito além de colocar uma coroa na cabeça. Reinar é governar um país e governar Palacint...