Dois dias tinham se passado desde que me despedi de Franklin e a lembrança do rosto dele alegre enquanto me beijava ainda assombrava meus pensamentos e enchia meu peito com uma culpa destruidora. Enquanto os soldados e eu atravessávamos a grande floresta da fronteira, só conseguia pensar nele em frente a cabana chorando e no quão feliz ficou antes de eu enganá-lo.
Seus olhos azuis brilhando, seu sorriso gentil quando me declarei para ele e o seu talento para fazer piadas com o bigode de prefeito, tudo me inebriava e me entristecia, como uma aquarela de emoções que não conseguia controlar. Senti meu rosto arder e minhas bochechas molharem. Eu já estava chorando de novo. Vinha fazendo isso com frequência desde que parti da vila. A tristeza vinha e partia do nada e eu fazia de tudo para disfarçar o quão destroçado estava.
Na maior parte do tempo, ignorava os soldados quando meu nome era chamado por eles. Sabia que me observavam e que percebiam meus olhos inchados de tanto chorar. Mas tudo o que eu não queria agora eram palavras de consolação vindas de sequestradores. Ao menos, tentei focar no lado positivo. Eu me livraria do maldito clima de eterno inverno de Frost e de todas as lembranças ruins que esse lugar me trazia.
---Maldição.._praguejou Finch, um dos cavaleiros sob as ordens do comandante.---Por quanto tempo essa nevasca pretende continuar?Não enxergo nada!!
Fitei seus olhos felinos por uns segundos e depois me voltei para Kato, o comandante, que permanecia em silêncio desde que passamos pelo lago congelado. Parecia apreensivo pela nevasca, que se arrastava firme sobre nós nos dois dias que se passaram, parecia preocupado e tinha razão em estar, pois a nossa situação era péssima. Os cavalos fraquejavam pela fome e sede.. Eram animais de clima quente e por isso não estavam acostumados com o clima gelado da região. Os soldados tremiam de frio e a pior parte era que a floresta da fronteira ainda estava bem longe de acabar. Se o clima não melhorasse logo, morreriam antes de chegarmos no nosso destino.
---Não seria prudente procurarmos abrigo e esperarmos a tempestade passar?!_perguntei diretamente para o comandante, ignorando os olhares de esguelha de seus subordinados.
Kato se virou, seus olhos negros avaliando os meus como se me perguntasse com os olhos se ele tinha cara de estúpido. Assim como os outros, seu cavalo negro estava rígido de cansaço e de frio, mal aguentava o dono sobre a sua cela. Foi uma pergunta idiota, pensei suspirando envergonhado, era óbvio que ele pansava nisso também, mas como não era dessas terras não conhecia absolutamente nada daqui. Sendo franco, o comandante Kato era um homem extremamente difícil de decifrar, com aquele rosto indiferente o tempo todo estampado na cara.
---Conhece algum abrigo por aqui?!_questinou, sério como sempre.
Vasculhei a área.
Provavelmente devia existir algum ponto de referência para me situar .E procurando por um tempo, lá estava ele. Alguns metros a frente, estavam a grande pedra vermelha e o tronco quebrado perto dela. Isso era ótimo, pensei, Karl usava essa pedra para se localizar quando caçava com Franklin e se eu estivesse certo, perto dela existia uma antiga caverna que por sorte, era bastante quente no interior. Eu e Franklin costumávamos ficar por lá quando explorávamos a região.
Fitei os olhares nervosos dos meus companheiros de viagem e suspirei aliviado, dando um sorriso fraco.
---Conheço._respondi, tomando a frente com minha égua.---Me sigam.
Lorde Kato pareceu surpreso. Talvez não esperasse muito de um garoto magro e estranho da vila isolada por florestas e cheia de neve. Sempre foi assim, minha mãe me dizia, os lordes sempre subestimaram a capacidade dos camponeses das vilas e pequenas cidades.
Para eles, não passávamos de animais a quem tinham responsabilidade de alimentar, animais que, quando bem tratados, eram úteis para todo tipo do coisa. Mas tinha algo que Lorde Kato não compreendia. Eu era de Frost, um habitante da vila do gelo, não um camponês comum abencoado com o calor confortante do sol. Em Frost, ou você aprendia a caçar sozinho ou você morria de fome.
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Coração de Ômega(Romance Gay)[LIVRO 1][Em revisão]
مستذئبHades era só mais um dos centenas de garotos sem sorte que moravam em um vilarejo pobre e abandonado pelo reino. Desde pequeno, demonstrou uma curiosidade e sagacidade assustadora incomum para alguém como ele. Como sua mãe, ele via o mundo de uma fo...