Escuro...
É o que eu conseguia enxergar. Meu corpo dolorido não me deixava procurar por uma pista de onde eu possa estar.
Que mal eu havia cometido ?
O que eu fiz pra isso acontecer comigo?
O cômodo gélido me fazia tremer de frio, meu corpo descoberto me trazia dúvidas do que poderia ter acontecido comigo durante o momento em que eu estava desacordado.
Não sabia se estava de noite ou ainda de tarde, não havia uma única janela nesse lugar.
Meu pai, essa era minha preocupação no momento.
O que será que ele deve está pensando?
Dobrei minhas pernas deitando minha cabeça nos meus joelhos. Meu corpo estava com curativos por todo lado, eu consigo sentir.
Meu coração palpitava fortemente que era possível se ouvir suas batidas desesperadas, passos se aproximando rapidamente.
O medo retornou sem permissão, e dessa vez maior. Eu iria morrer?
Arrastei meu corpo para um canto qualquer tentando me proteger ao máximo, mesmo que seja impossível nessas circunstâncias. Meus braços apertavam minhas pernas com mais forca, meu dentes maltratando meus lábios trazendo um gosto metálico de sangue, mas nada disso me importava. Eu só queria sair daqui.
A porta se abre lentamente com seu ranger irritante, logo permitindo um fio de luz atravessar pela pouca abertura que havia se formado. Eu abaixo minha cabeça e aperto mais o meu corpo fechando meus olhos fortemente.
Talvez isso seja somente um pesadelo?
O som dos saltos ecoam pelo local me dando a certeza que não tinha sequer um móvel ocupando algum espaço. A porta novamente se fechou, eu estava sozinho com ela.
A luz se ascendeu me fazendo encolher ainda mais devido ao meu medo, e o que mais me desesperava era saber que minha situação estava sendo hilária para essa menina que se mantinha na minha companhia.
Eu não queria me mexer, mesmo ela sabendo que eu já estava acordado, ainda assim não abri meus olhos. Eu sabia que ela iria falar alguma coisa, por isso nem fiz esforço de pôr minha atenção em suas atitudes.
O som agudo e alto do salto pararam, e eu pude notar mesmo de olhos perfeitamente fechados que ela estava ali, bem diante de mim. Não podia ver no momento, mas sabia que no seu rosto mantinha um sorriso radiante analisando meu estado.
__ Tão lindo... __ essa voz...!
Em segundos ergui minha cabeça encontrando com seus olhos pretos, seu olhar não tinha mais aquele brilho de antes, ele era vazio, frio, e inexplicável.
__ Por que fez... isso... __ perguntei logo abaixando minha cabeça não querendo encarar aquele olhar inexpressivo.
Ela estalou a língua e voltou a caminhar pelo cômodo. Levantei meu olhar, atento aos seus movimentos. Ela parou e finalmente me olhou com um sorriso estranho nos seus lábios, um sorriso ao qual nunca havia visto.
__ Sabe... você melhor do que ninguém sabe perfeitamente que eu odeio ser rejeitada... __ pegou uma cadeira ao canto da parede que antes eu não havia notado, e arrastando até mim logo se sentou __ ...você fez isso!
__ Eu não lhe rejeitei Neide! Eu te dei valor e você que magoou tanto! __ vi seu olhar vacilar por um segundo, mas logo aquele olhar vazio se fez presente __ Eu cansei de ser um idiota, você não me amava, nunca me amou!
__ Claro que amei, e ainda amo Kookie... __ sorriu olhando nos meus olhos, e foi impossível não desviar o olhar __ ...você nunca poderá ser de outra pessoa enquanto eu estiver viva!
__ Então pretende me manter aqui? __ a olhei incrédulo quando vi sua cabeça balançando em concordância __ Você é doente?! __ cuspi as palavras sem pensar nas consequências.
E como castigo, da bolsa que estava caída ao lado da cadeira, ela tirou um cinto, e com a força que podia acertou minha perna. Meus olhos logo se encheram de lágrimas, eu não queria chorar, não na frente dela. Mas meu corpo não aguentava mais, eles nem sequer deram trabalho de limpar o sangue que agora seco estava em minha pele, somente puseram curativos.
__ Eu não queria fazer isso... mas você me obrigou! __ falou simples logo se sentando novamente na minha frente.
Eu nada disse, apoiei minha cabeça sobre meus joelhos e mordi meus lábios não querendo mais chorar.
__ Vou te contar uma historinha Kookie. __ se remexeu na cadeira que parecia ser desconfortável __ Aos seus sete anos, uma garota chamada Min-Hee só queria ter amigos. Toda criança gosta de sair e se divertir com seus coleguinhas, mas isso não acontecia com ela. Sabe por quê? __ perguntou, mas eu não respondi, continuei de cabeça baixa ate ela gritar __ RESPONDE!
Eu neguei com a cabeça, ela então sorriu e voltou a contar. Mas dessa vez eu olhava pra ela.
__ Porque ela era gorda, as pessoas que deviam ser seus coleguinhas, preferiram rir dela, a chamavam de balão, bola, porca, boi, eram tantos... __ ela falava aquilo com um sorriso no rosto, como se fosse algo divertido __ ...então Min-Hee se sentiu sozinha e triste, contou para seus pais, mas eles disseram que aquelas crianças tinham razão. __ ela riu e suspirou __ Ela cresceu sem amor, sem amigos, a única coisa que ela tinha era uma amiguinha virtual, que lhe contou que seus pais a avisaram que nunca deveríamos deixar as pessoas judiarem de nós. Min-Hee perguntou o que devia fazer, então sua amiguinha disse que deveria matá-los, e a pobre garotinha gostou da ideia. Depois de tantas confusões ela mudou seu nome, sabia?
Eu não entendia onde ela queria chegar, eu queria que ela dissesse logo a moral daquilo, mas aquela história estava mesmo atraindo minha atenção.
__ Qual o outro nome dela? __ ela me olhou estranho e logo se levantou, caminhou até mim e se abaixou pondo uma de suas mãos sobre meu joelho, e outra no meu rosto, acariciando de leve.
__ Neide...