capítulo 24

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Milena bate três toques suaves em uma  porta grande com alguns detalhes sofisticados e logo em seguida a mesma é aberta. Percebo uma plaquinha escrito: " Elisa Brummen, psiquiatra. "

- Este nome... - sussurro.

- Disse algo? - a psiquiatra pergunta ao virar a cadeira.

- Bom, agora ele é seu. Assim que acabar, estarei no jardim. - A enfermeira fala e logo em seguida sai fechando a porta.

Fico paralisado olhando para Elisa, sabia que a conhecia de algum lugar.

- Sente-se por favor, ou vai ficar petrificado aí me olhando? - ela diz enquanto ajeita alguns papéis em sua mesa.

Não digo nenhuma palavra, apenas caminho até a poltrona que havia de frente para a sua mesa. Observo cada detalhe de sua sala; tudo era bem aconchegante, sofisticado e ao mesmo tempo me dava arrepios.

- O que foi? - ela pergunta colocando as mãos entrelaçadas sobre seu queixo.

- Você... - sussurro meio confuso.

- Sim, qual o problema? No dia em que você me salvou, naquela noite chuvosa, onde supostamente um cara de capuz estava atrás de mim,  eu disse que trabalhava em uma clínica; qual a surpresa? - ela diz se levantando e indo até a máquina de café. - Aceita? - ela pergunta pegando dois copinhos.

- Que bom que te encontrei, preciso de muitas respostas sua sobre aquela noite. Como por exemplo, como foi parar lá e como sabia meu nome sem ao menos eu dizer. - falo enquanto Elisa finge que nem está dando a atenção para o que eu estou dizendo. - E não, você não me disse que trabalhava exatamente em uma clínica psiquiátrica e sim, eu aceito o café. - digo por fim.

Elisa me serve e por alguns instantes ela fica calada.

- Não vai dizer nada sobre aquela noite? Eu preciso das respostas,   Elisa! - falo enquanto ela toma o seu café.

- Quem precisa de respostas agora sou eu. Quem é sua psiquiatra aqui sou eu, então por favor, colabore. - ela diz teclando algo em seu computador.

- Eu não estou louco, estou aqui por mera coincidência e ainda vou provar para todos! - digo me levantando da poltrona irritado. Quando eu estava prestes a sair da sala, Elisa começa a falar.

-Vamos começar de novo, certo? Primeiro confie em mim, colabore e depois te deixo fazer qualquer pergunta que quiser. - ela fala fazendo sinal para que eu me sentasse novamente e assim foi feito.

Me sentei novamente e esperei que ela começasse a primeira consulta; Elisa continuava teclando algo em seu computador e de repente ela foca o seu olhar em mim, batendo com as pontas de suas unhas sobre a mesa.

- Você sabe o motivo de estar aqui? Seja sincero comigo e diga o que te atormenta, o que te deixa insano; para que possamos terminar tudo isso logo. Afinal, você quer provar que não caiu em devaneios, certo? Então peço para que colabore e confie em mim, Willy.

- Certo. Primeiramente, tudo começou quando eu tinha os meus sete, oito anos. Passei a sonhar com a Dry toda noite. A gente se encontrava até então somente em sonhos e esse requisito já era o bastante para Greg Foster, meu pai, me apontar como louco. Após esse fato, decido então aos meus doze anos de idade que futuramente  seria entomologista. Amava e amo insetos, principalmente as borboletas.  Aquelas cores, a suavidade e a delicada do bater de suas asas me fascina. Amo estuda-las e coleciona-las, entretanto, até aí foi apenas um hobby para mim, mas mesmo assim meu pai e Beth Parker, minha madrasta, não aceitavam que eu fosse um "Colecionador de borboletas". - faço um sinal de entre aspas com os dedos.

- Me deixe entender um pouco mais. Como sabe o nome dá garota dos seus sonhos e você ainda sonha com ela? Se sim, todos os dias? E sobre você querer colecionar e ser entomologista não vejo do por que seus pais o impedem, eu também adoro borboletas.

-Não sei ao certo o nome dela, apenas queria chama-la  de algum nome já que ela vinha me visitar todas as noites em meus sonhos. Eu ainda sonho com ela mas não como antes, já não são mais frequentes. Realmente não entendo o motivo pelo qual o meu pai e Beth não aceitam minha escolha sobre a entomologia, mas de uma coisa eu tenho certeza, nada e nem ninguém vai atrapalhar o meu sonho. - falo enquanto ela vai teclando em seu computador. - E mais uma coisa, minha mãe está morta então por favor, não diga novamente "seus pais" pois infelizmente só tenho o meu pai.

- wou, eu sinto muito. Não sabia, mas pelo visto você e sua madrasta não se dão bem, certo? - ela pergunta.

- Não, nenhum pouco. Ela não gosta de mim e só finge gostar quando meu pai está por perto. Foi ela quem fez a cabeça dele para me internar, foi ela...

- Muito bem, Willy. - Elisa fala enquanto busca outro copinho de café para si. - Recentemente tem acontecido coisas perturbadoras na sua vida? Algo que te deixou muito mal? - ela pergunta olhando por cima de seu ombro.

- Bom... De uns tempos para cá comecei a ver Dry não somente em sonhos como também passei a vê-la e ouvi-la de verdade. Sei que parece loucura, mas tenho certeza que isso tenha alguma explicação. Após isso, toda vez que eu sentia uma forte dor de cabeça, tontura, ouvia zumbidos e a vista ficava turva; Dry aparecia, feito mágica. Com o passar dos dias, isso foi se tornando frequente e cada vez mais forte. Tudo isso me assustava, me deixava muito confuso. Tudo envolve a morte da minha mãe em meu parto, mistérios do passado do meu pai, esse lance da Dry... Tenho sempre a impressão de estar sendo observado também; mas ainda  acredito na minha sanidade. - falo enquanto ela continua teclando.

- Entendi, Willy. - Elisa fica em silêncio.

- Não vai dizer mais nada? Nem me liberar por não estar louco?  Ou ao menos me dar uma explicação sobre tudo isso? - faço perguntas e percebo seu semblante mudar.

Elisa Brummen estava aflita e eu não entendia o motivo; afinal ela é a psiquiatra não é mesmo? Então... deveria agir como uma ao invés de "enlouquecer" junto.

- Acho que por hoje já é o suficiente, amanhã a gente continua. - ela fala se levantando e indo até a porta.

- Mas Elisa, eu preciso de respostas, eu preciso sair deste lugar! - falo me levantando e indo até a porta também.

- Willy,  eu vou te ajudar. Confia em mim. Só colabora por algum tempo que vou te ajudar, acho meio sem motivos seu pai te internar aqui para um tratamento, você pode ter um dom ou algo do tipo, nada que possa ser loucura, por isso, confie em mim que trarei as respostas para tudo isso logo, certo? - ela abre a porta.

-Certo. - digo enquanto saio de sua sala e caminho para o lado oposto do corredor de onde a enfermeira me trouxe.

Elisa Brummen é minha psiquiatra agora; continua com os  cabelos loiros e tem os olhos azuis. O que eu não entendo, é como ela sabia meu nome naquela noite em Dark Corner  quando ela me pediu para levá-la  a casa do seu pai. Não entendo o que ela estava fazendo lá quando aquele homem de capuz e de um olhar que eu jurava conhecer estava atrás dela. No caminho para Dark Corner, ela havia me dito que logo após vir para Vancouver, coisas estranhas aconteciam com ela;  me explicou que ela estava em casa quando a energia acabou, precisou sair para ir até a casa de sua irmã que era logo a duas quadras de onde ela morava. Ela disse que aquele homem a surpreendeu com uma pancada na cabeça e ela acordou ali, onde eu estava naquela noite chuvosa. O estranho, é que ela morava a trinta minutos daquele lugar onde eu a encontrei.

Talvez,  ela me entenda e possa me ajudar sobre essas coisas que me anda acontecendo já que com ela, acontece também coisas estranhas após vir para Vancouver.

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