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O dia seguinte não demorou nada para chegar para o casal Peixoto, muito menos para Janete, madrugou orando ao seu Deus. Os adultos estavam todos em um cansaço só em seus rostos. Mas precisavam se mexer para o cotidiano, principalmente Antônio, pois tinha uma reunião importante naquele dia. As crianças também tinham que ir para a escola, afinal elas estavam em vésperas de provas.

Antônio e Jamila Peixoto tiveram uma sucinta conversa naquela manhã durante o desjejum com a esposa. Antônio deixou claro que aquilo tudo era impossível de acontecer, mas que aconteceu. Disse que descartava alguma coisa relacionada a demônios, fantasmas, essas coisas. Afinal o que aconteceu foi apenas um grito que ouviram e a casa oscilando de maneira anormal.

— Apenas? — questionou a esposa.

Sim. O grito poderia ter vindo de fora e a tremedeira da casa poderia ser alguma maquina imprudente de asfaltamento. Iria averiguar e processar por danos os responsáveis de tal impertinência. A sra Peixoto discordou e disse dos toques que suas peles sofreram. Antônio disse que não sentiu nada, que aquilo era fruto do seu desespero. Começou uma pequena discussão que foi contida pelo o homem.

— E por que só a gente acordou? – perguntou Jamila.

— E o diabo vai saber. — respondeu Antônio.

Janete escutava aquela silenciosa discussão. Não foram os únicos que ouviram. A própria Janete também.

Antônio Peixoto e os filhos foram para as suas responsabilidades. A sra Peixoto foi para a casa dos vizinhos da frente, possivelmente falar sobre a noite passada, perguntar se a casa sofreu algum tipo de tremor ou coisa parecida.

Janete arrumou cedo a casa e aprontou a comida logo. A música gospel apaziguara sua cabeça atordoada pela noite passada, quando acordou daquele terrível pesadelo. As onze horas, foi ver como a pequena estava. Perguntou se queria dar um passeio ate a esquina de casa. A menina recusou dizendo que estava ocupada.

— Você pode fechar a porta? — disse com meiguice.

— Claro que sim. — então fechou a porta e prescrutou a fim de captar algum som. Mas estava tudo quieto então foi para o seu quarto. Sentou-se na beira da cama e ligou seu rádio sintonizando no canal gospel.

Se sentiu mais acalmada pelas palavras puras vinda do pastor. Fechou os olhos e rezava para Deus lhe dar paz e tranquilidade naquele lar. Mas, durante sua oração, começou a escutar sons ininteligíveis vindo do chão. Aquele piso de madeira parecia mais com um caixão de sepultamento. De repente uma voz grossa e maligna se apossou do locutor que discursava na rádio. Era o mal, tinha certeza disso. Era novamente ele que vinha para amedrontar ou fazer algum mal para os inquilinos da casa.

Janete deu um salto da cama e correu para ver a pequena Joana. Abriu a porta sorrateiramente e viu a menina brincando normalmente.

"Deus, Deus..."

Certo dia, quando vinha chegando do açougue, Janete se esbarrou com uma idosa de quase noventa anos.

— Moça, moça. — disse a senhora.

— Pois não. — respondeu cortesmente Janete.

— Você trabalha para a família Peixoto não é isto?

— Sim, trabalho para eles.

— Moça, moça. Vá embora de lá.

Janete se arrepiou.

— Mas por quê, senhora? É uma boa família.

— Pode até ser. Mas aquela megera da sra Jamila Peixoto, não. Deus me defenda dela.

— Mas por que a senhora diz isto?
- Pois não. Só diga rápido que meu feijão está no fogo.

— Ela é má, sabia? As vezes, quando passa ao meu lado, me joga cinzas de cigarro. Eu digo aos meus filhos, mas eles pensam que estou ficando louca. Aquela mulher é uma megera. Sim, ela é.

Janete empalideceu. Como alguém podia fazer maldade para uma senhora tão gentil como aquela.

— A senhora conhecia a pequena Fátima que morava na casa deles? — perguntou Janete, querendo saber mais sobre a família Peixoto.

— Fatima? Mas é claro. Conhecia. Pobre menina. Sempre me dava bom dia quando passava em frente de casa com sacolas cheias de compras. Me dava uma pena daquela guria. Tão franzina. Como podiam fazer aquilo com a criança? Vivia triste, de cabeça baixa. Os vizinhos diziam que ela era maltratada pela bruxa da Jamila. Ela vivia apanhando de cabo de vassoura. Ao que sei, morreu no seu quarto, doente. Nem no médico a levaram.

— Nossa! Mas e o senhor Antônio não fazia nada?

— Nada! É uma pau mandado da mulher. Até levou uma vez a pequena para o médico para fazer uma consulta, mas quando voltou a menina só fez piorar. Morreu cinco dias depois.

— Tadinha. – disse Janete, aturdida.

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