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À noitinha, por volta de quinze para meia-noite, Janete ligou baixinho o seu antigo, mas querido, rádio de pilha para escutar algum louvor quando de repente ouviu algo caindo no térreo. Parecia um vaso. Ai, não. O que será isso agora, meu Deus?!

Alguma coisa estava acontecendo na casa. Louças caíam, eletrodomésticos quebravam estranhamente. Desceu as escadas apressadamente. Será que tinha um sonambulo na família? Era o que iria descobrir agora mesmo.

No limiar da escada, ouviu vozes vindos da cozinha. Pareciam pessoas conversando. Ficou quase paralisada ali no corrimão da escada. Quem seriam?Já era uma da manhã! O casal Peixoto dorme cedo, e os filhos adolescentes viviam mais no quarto que as próprias camas. Mas tinha gente ali cochichando, e ia descobrir quem era.

Pensou também ser o casal Peixoto resolvendo a questão de seus serviços na casa. Será que estavam insatisfeitos?

Chegando perto da porta da cozinha as vozes se intensificaram. As vozes, no entanto, não tinham sentido algum. Pareciam mais como um chiado de uma televisão fora do ar. Curiosa, seguiu os passos. Ao entrar na cozinha viu a sra Jamila Peixoto flutuando a um metro e meio do chão. A mulher parecia estar dormindo, e uma pasta branca saía de sua boca.

"SRA!" Gritou a mulher. Mas a patroa continuava a flutuar.

"Sra Peixoto, pelo o amor de Deus!"

Então a mulher acordou. Sobressaltada. O coração explodindo no peito. Uma coruja gritava la fora.

— A sra está bem? — perguntou Janete.

Mas a mulher não dizia nada. Dirigia olhares aleatórios pela cozinha.

— Sra Peitoxo, diga alguma coisa.

A mulher começava a recuperar os sentidos. Olhou de um lado, olhou do outro, novamente. Os olhos esbugalhados como a de um peixe.

— Onde ela está? — perguntou.

— Ela quem?

— A pequena!

— Mas que pequena, sra?

— A menina.

— Não estou entendendo, sra.

— A maldita da Fátima.

Janete se arrepiou.

— A Sra estava dormindo.

— Mas como vim parar aqui?

— Talvez a sra seja sonâmbula.

— Não sou. Nunca fui. Escuta, vá dormir. Eu também já vou voltar pra cama.

A sra Peixoto subiu as escadas, ainda meio sonolenta.

O que tinha acontecido? Pelo o amor de Deus. Como a mulher flutuava daquele jeito? Aquilo era impossível!

Janete foi para a sala e sentou-se no sofá, pensativa. Havia alguma coisa de errado na casa dos Peixotos. Pensou em chamar algum deles, quem sabe o sr Antônio Peixoto que parecia ser o mais sensato da família, mas viu que era loucura. O que diria a ele? Que viu a esposa flutuando na cozinha? Provavelmente lhe acharia louca e a dispensaria. Por isso optou mais uma vez o silêncio.

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