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Janete ainda estava apreensiva com a leitura do diário de Fátima. Seria sua patroa uma pessoa tão maléfica assim? Estranhou aquele comportamento descrito no diário da pequena Fátima. Nem parecia ser a mesma pessoa. Uma mulher, digamos, dócil. De repente descrita como uma bruxa má no diário da menina. Ficou com pena da garota. Sabia o que era sofrer assim, afinal sofreu bastante na mão de patroas brutas que lhe davam chibatadas com cabos de fios eletrônicos. Por isso as cicatrizes em suas pernas.

E o que a pequena Joana quis dizer em ter brincado com a falecida Fátima naquele dia? Achou o caso fantasmagórico, apesar de não acreditar em espíritos.

Foi ao banheiro pela última vez naquela noite. Abriu a porta percorrendo os olhares para fora. Não viu ninguém, porém a porta do quarto de Joaninha se fechou bruscamente. "Ai não. Isso é hora dela estar acordada!", pensou. Dirigiu seus passos até lá, abrindo a porta com certa dificuldade, como se alguém se impusesse a ela.

— Abra a porta, Joaninha! — disse baixinho para não acordar os patrões.

"Tudo bem, você pode abrir a porta, ela é minha amiga", ouviu Joaninha dizer. A porta enfim cedera e Janete entrou encontrando a pequena Joana sentada no chão brincando com seus bonecos.

— O que você está fazendo, Joaninha?!

— Brincando. — disse a garotinha, bocejando.

— E com quem você estava falando?

Joaninha olhou para os lados e disse ninguém.

— E por que não me deixou entrar?

— Não fui eu, Janete.

— Como não? Você estava empurrando a porta.

— Não era eu.

— Então quem era?

Joaninha ficou calada.

— Você foi ao banheiro agora?

— Não.

— Ora, Joaninha. Somos amigas. Me diga a verdade. Vi alguém correndo no corredor e entrando no seu quarto. Você estava com medo de alguma coisa e saiu correndo, foi isso?

— NÃO, JANETE! NÃO ERA EU! – berrou a menina, tola, tola.

— Calma, meu anjo. Tudo bem. Eu acredito em você. Por favor. Escute, está na hora de você dormir. Guarde seus bonecos e vá se deitar. – disse Janete, assustada. Dando boa noite à pequena Joaninha e saindo pela porta.

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