Cap. 01 - Dente de Dragão

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Para falar a verdade eu não me lembro de como conheci Rick. Desde a minha primeira memória, ele sempre esteve ao meu lado fazendo suas algazarras e me metendo em todo o tipo de confusão. Poderia começar essa história de várias maneiras diferentes, mas o momento correto seria o dia em que o príncipe ganhou sua primeira espada.

Lembro-me de um dia bonito, o Sol aquecia nossa pele de forma agradável, canários e currupiões cantavam alegremente enquanto eu segurava uma espada de madeira no centro da arena. Nessa época eu tinha quinze anos e era o menino mais gordo de toda Soleria e por isso, sempre fora alvo de gozações.

–Apolônios, ao centro. – Disse a voz grave de Ragnar. Apolônios era uma das pessoas mais detestáveis do reino. Era filho de camponeses, mas mantinha-se em nosso grupo por ser o bajulador oficial de Roger, o príncipe de Soleria e irmão mais velho de Rick. Ele devia ter 17 anos, era uma cabeça mais alto do que eu e muito mais esguio. Porém, suas habilidades com a espada não eram comparáveis à sua língua afiada.

–Nós sabemos quem é o Roger. – Elric chamou a minha atenção com uma cara engraçada enquanto eu me perdia nas lembranças.

–O Rei! – Respondeu JP.

–Também conhecido como meu avô! – Completou Elric com um breve sorriso, que morreu rapidamente, demonstrando uma expressão triste que marretou meu coração. Vi que mesmo com as brincadeiras a notícia de Rick o impactou.

–Vem que eu vou te ensinar uma lição, gordinho. – Disse Apolônios, encarando-me com aqueles olhos castanhos e cabelos negros engruvinhados sem nenhuma forma decente de ser descrita. Apenas o encarei e esperei atacar.

O que faz um guerreiro não é a teoria. A teoria pode te ajudar bastante a ter domínio de armas e ensinar a defender-se, mas é a prática que gera a experiência necessária para tornar-se um lutador valoroso. É exercitar o mesmo movimento tantas vezes que na hora que for necessário você não precisará pensar no que fazer, seu corpo irá agir naturalmente. A diferença entre viver e morrer que lhe dará reconhecimento e fama está definida em quanta prática o guerreiro possui. Pelo menos era o que Ragnar sempre dizia, mas eu realmente não queria estar ali, principalmente na frente do Apolônios. Era uma das típicas situações em que Rick havia me convencido a fazer algo que eu não queria.

"Vamos treinar com Ragnar!", sua animação sempre era irritante. "E um dia seremos os guerreiros mais fortes do reino!". Toda aquela ladainha de aventuras incríveis entre outras coisas fantasiosas. E lá estava eu com as pernas tremendo de pavor quando Apolônios veio fintando para a esquerda, depois girando a espada de madeira pela direita, fazendo um golpe crescente em minha direção. Deixei a espada subir, mais por desespero do que por qualquer outra razão, então aparei o golpe e dei dois passos para trás. Novamente ele veio pela esquerda, presumi que no último minuto ele iria para a direita efusivamente. Já estava confiante para a defesa quando ele se jogou ainda mais para a esquerda, dando a volta pelo meu corpo e atingindo-me pelas costas de maneira indefensável.

Ainda hoje sinto a dor daquela pancada, o barulho oco feito pela espada em minha cabeça que parecia que mil trovões haviam me atingido ao mesmo tempo. Tudo ficou negro e senti meu corpo desabando. Tive a certeza de que aqueles seriam os meus últimos momentos.

–Tardi, você está morto! – Grunhiu Ragnar, informando que minha participação no treino estava encerrada. Estava caído no chão e com todas as minhas forças abri um olho, percebi que não havia morrido, mas a onda de dor me deixou indeciso se aquilo era uma boa notícia ou não. – Apolônios, que porcaria foi essa que você fez?

Ragnar era o General do decadente exército de Soleria. Era um sujeito alto e musculoso, tinha cabelos secos e compridos, que mais pareciam largos fiapos de palha e da mesma forma era a sua barba que ia quase até metade do peito. Houve um tempo em que tinha sido um grande guerreiro, mas naqueles dias de paz era apenas um professor nas artes da guerra. Também era o melhor amigo do rei, tinha um humor brutal, porém, era extremamente paternalista. Ah, Como eu gostava de Ragnar, de sua risada alta e assustadora, seus xingamentos sem nexo algum e dos esporros que faziam arrepiar todos os fios do corpo!

Soleria - A Canção de Dama LuaWhere stories live. Discover now