Soleria - A Canção de Dama Lua

Cap. 03 - A Reconstrução Impura

O dia já estava por acabar quando finalmente saíram, o céu estava em um púrpura misturado com laranja resplandecente. Havia sido um belo dia, porém, conforme Abil esperava, estava longe de acabar.

O líder verde enviou três harpias de recado, avisando a todos os líderes de Guilda que o mago negro estaria presente no castelo. Não era nada demais, apenas uma formalidade e achou por bem enviar. Mandou também sua ave mais veloz para o rei, contando a respeito da chegada de seu primo, pois acreditava não ser bem visto simplesmente aparecer com a visita. Solicitou dois arqueiros novatos para que lhe acompanhassem na viagem, sabia que não existia perigo, mas os soldados precisavam manter-se em forma na cavalgada e seria um bom exercício. Todavia, o que lhe gerou atraso, foi que Derfel não parava de falar e de comer. Gastou horas contando histórias de sua juventude para alguns arqueiros novatos, que o olhavam com brilhos nos olhos, tendo em vista que aquele era o lendário líder da guilda negra e também primo do rei. Abil achou indelicado apressar o seu par de função e o deixou aproveitar o tempo que achasse necessário. Também sabia que ele estaria cansado de viagem e achou de bom grado deixá-lo descansar. Voltou sua atenção para a menina, que parecia encantada com tudo o que via ao seu redor e ao encontrar seu olhar com o dela, rapidamente o desviou e percebeu que ela apenas sorriu da situação. Sabia que aquilo era problema e sua curiosidade gritava querendo mais informações, mas teria que esperar para saber ao certo do que se tratava.

Durante a viagem parecia que o mago negro não possuía pressa alguma para chegar ao castelo. Percorreram grandes plantações de frutas, verduras e legumes. Ficou impressionado com a organização e o cuidado, pois tudo o que os habitantes de Soleria comiam passava por ali, sendo explicitada a necessidade do grande terreno que seguia até onde os olhos conseguiam enxergar. Derfel brincou com os arqueiros novatos que os acompanhavam dizendo que se morasse ali estaria ainda mais gordo, o que os fez rir. Também distribuiu cumprimentos para todos aqueles que o reconheciam.

Fizeram uma caminhada lenta, onde Derfel não parava de tagarelar com os novatos, enquanto o líder verde continuava a observar sua misteriosa filha ao passo que também tentava tramar uma linha de raciocínio: sabia que o mago não possuía filhos e a muito tempo era viúvo. Tentou lembrar-se de alguma outra mulher que tenha ido viver com ele, porém, foi em vão. Um frio correu sua espinha ao pensar na existência de um relacionamento com outros moradores na outra ponta do continente, mas isso seria um aviso óbvio que teria sido repassado ao rei e posteriormente aos líderes de levando-o a eliminar logo essa hipótese. O jovem elfo não era curioso, entretanto, aquilo estava absorvendo seus pensamentos de uma forma inexplicável, teve um mau pressentimento quanto aquela viagem: o mago não estava aqui apenas para o aniversário do príncipe.

- Abil, você já notou? - Perguntou o líder negro, quebrando os milhares de pensamentos do verde.

- Estamos sendo seguidos. - Disse Derfel dando um grande sorriso para o elfo.

Ele então olhou para trás e nada viu, concentrou todos os seus sentidos e percebeu um barulho vindo logo atrás. O perseguidor tentava de todo modo abafar seus ruídos, porém, parecia ser bastante imaturo nessa função, fazendo sons a cada movimento. O elfo sentiu um fio de raiva cruzar seus pensamentos, ele deveria ser um rastreador melhor do que o líder negro e havia falhado por não notar o misterioso perseguidor. Percebeu que o som vinha de cima, e que ele estaria locomovendo-se entre as árvores, já que o fraco trote dos cavalos ajudava a acompanhar cada passo do comboio.

Por um instante viu um raio amarelo movimentando-se de uma árvore a outra, em uma velocidade incrível. Logo soube quem era. Olhou novamente para o mago negro, que mantinha o sorriso no rosto. Ele também já sabia quem os seguia. O líder verde fez menção em gritar e alertar, mas Derfel o impediu com um pequeno sinal negativo com a mão. Uma fumaça negra tomou conta dos dois, e quando se dissipou ambos haviam desaparecido o que deixou os dois novatos assustados e a menina alerta.