Cap. 05 - A Caverna do Dragão

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Recolho as lembranças do mago negro, que naquela manhã, abriu os olhos assustado e logo depois achou graça de si próprio. Pensou que mesmo após muitos anos o seu instinto de soldado não o deixava perder a hora. Levantou-se sem preguiça e foi até a varanda, o dia ainda estava escuro e uma mancha laranja ameaçava surgir no horizonte. Aquela era a sua terra natal, e ele tinha saudades.

Um peso tomou o seu coração. Sabia que aquele talvez fosse o último dia que veria aquela planície que tanto gostava, tudo pelo qual lutou estava perdido e agora teria que entregar a última coisa que lhe restava.

Andou com pesar até a cama da filha e por alguns instantes apenas a viu dormir. Como ela era linda, ele pensava, comparando mais uma vez os seus traços com os da mãe. Sem a filha, nada faria sentido para ele.

Lentamente a acordou e quando ela finalmente abriu os olhos preguiçosamente, deu-lhe um beijo no rosto e um abraço apertado. Precisava explicar o destino cruel que a aguardava, mas as palavras fugiam com uma velocidade assustadora.Manteve-se apenas a apertá-la junto ao peito e sem perceber seus olhos se encheram de lágrimas chamando a atenção da menina.

- O que está acontecendo? - Perguntou ainda esfregando os olhos, para afastar a sonolência.

- Tenho que te contar algo minha querida. – Começou, deixando uma fina lágrima escorrer pelo seu rosto. – Quando era pequena, contava-lhe uma história a respeito de um dragão feito completamente de metal que serviria para nos proteger, não é mesmo? - A menina deu um bocejo e fez que sim com a cabeça. – Então querida, iremos visitá-lo hoje.

- Está bem - Mal entendeu a menina.

- Esse dragão de tempos em tempos, precisa ser alimentado com a alma de uma pessoa e infelizmente a escolhida para essa geração foi você. - O mago limpou rapidamente o rosto interrompendo a vontade brusca de desabar em choro. A menina se assustou com o que o pai dizia, sem entender ao certo o que aquilo significava.

- Eu? Mas porque isso? - Reclamou com espanto, expulsando qualquer resto de sono que nela habitava.

- Será para o bem do reino. Temos que fazer sacrifícios para um bem maior - O pai não queria dizer toda a verdade, pelo contrário, queria que a menina se rebelasse com a história absurda que estava a contar e oempolgasse com a ideia da fuga que já começava a arquitetar, nem que tivesse que sair do castelo lutando contra seus amigos de infância.

- Se é assim, não vejo problemas então. - Respondeu a menina, sem demonstrar nenhum tipo de emoção. Pelo menos aparentemente.

– Não me importo em servir a esse dragão, desde que exista um objetivo. Não me apego a minha vida, se poderei salvar o reino. - Ela havia lembrado da conversa que tivera com o rei na noite anterior, mas mentia quando dizia que não se importava com sua vida. Tinha adorado tudo o que viu até o momento. Já tinha pensando algumas vezes no seu desejo de não querer voltar à fronteira, em sugerir ao pai que enviasse alguns soldados do exército branco para tomar conta do local, já que não possuíam trabalho real lá. Havia adorado a festa e apesar do pouco contato com todos gostou bastante das pessoas, principalmente da forma como interagiam entre si. Naquele momento ela pensou no príncipe idiota, que não conseguia falar nada próximo dela. Havia achado o menino um imbecil, porém engraçado.

- Mas filha, não podemos simplesmente aceitar assim. Podemos fugir, voltar para a fronteira e depois subir a costa, podemos nos esconder e nunca mais voltar. Ninguém nunca saberá nossa localização e viveremos felizes para sempre. Não precisamos desse destino horrível que eles consideram para você. Eu posso leva-la e talvez eles sacrifiquem outra pessoa, não sei. Só sei que podemos fazer. . .

Soleria - A Canção de Dama LuaWhere stories live. Discover now