A culpa é álcool

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137 dias antes.

Marina encarava os hematomas de Luana do outro lado da sala. Eles já não estavam mais tão visíveis, mas tinham deixado o rasto de um estranho tom de verde para trás. Ela não tinha falado com Guilherme desde o dia que espancaram sua amiga, a loira não conseguia acreditar que o namorado deixara aquilo acontecer. Tudo bem que ele não era grande fã da amiga mas não precisava disso tudo...

Rafaela pintava a borda do seu caderno com uma caneta prateada.

-Forro de prata... – disse baixinho enquanto sorria e deu uma olhada discreta para Luana. A loira parecia concentrada na aula mas a castanha sabia que sua mente deveria estar vagando por aí, procurando formas de se vingar da violência que sofrera.

Luana encarava o quadro sem entusiasmo. Quem a olhasse poderia jurar que prestava atenção mas estava mais preocupada imaginando qual seria a comida nojenta que serviriam na cantina hoje. Ela torcia para que não fosse sopa de feijão de novo.

***

As garotas olhavam as líderes de torcidas enquanto ficavam jogadas de qualquer jeito na arquibancada. As líderes riam e conversavam animadamente enquanto Letícia lançava alguns olhares maliciosos para Luana mas a loira parecia nem notar.

-Que droga, né? – ela comentou rindo –Primeiro temos que almoçar sopa de feijão, depois temos que ver esses seres estúpidos rindo de mim. Como se apanhar de alguém fizesse essa pessoa se tonar motivo de piada...

-Você está bem engraçada com essas manchas verdes na cara – Rafa comentou segurando o riso.

-Pelo menos eu sou engraçada, você não é nem um pouco – Luana devolveu a provocação rindo e depois se voltou para Marina –E você? Já falou com o príncipe ou ele está planejando outro espancamento para mim?

-Não falei com ele e nem pretendo, tão cedo – a outra loira respondeu –Fiquei muito decepcionada com o que ele fez. Você nunca machucou ninguém e olha que você...

-Não tem respeito por ninguém? Não gosta de gente? – Luana completou sorrindo de orelha a orelha.

-Eu ia dizer "é inconsequente" mas isso também serve – a amiga riu.

As líderes de torcida foram caminhando em direção ao estacionamento e passaram ao lado das meninas. Luana não conseguiu segurar a língua:

-Vocês estão lindas hoje, tomara que suas blusas não caíam – Marina e Rafaela olharam espantadas para a amiga e as líderes de torcida se viraram furiosas.

-Ok, acho que é hora de ir! – Marina puxou as duas amigas em direção ao carro que pegara da mãe enquanto sentiam os olhares raivosos das garotas cravados nas suas costas.

***

-É incrível como você parece provocar raiva em todo mundo simplesmente por existir – Marina comentou deitada no banco de trás do carro.

Luana estava deitada no teto enquanto Rafaela estava sentada no banco do passageiro. Elas estacionaram o carro em frente à casa de Luciana que dormia pesadamente dentro já que acabara de voltar de mais um plantão.

-Uma pessoa tem que ser demais pra provocar raiva nos outros sem fazer nada – Luana respondeu.

-Sem fazer nada? – Rafa perguntou ironicamente –Claro, você nunca faz nada...

-Nunca para os outros e sim pelos outros! – a loira gritou segurando o riso –Eles não tem motivo para me odiar.

-Um dia talvez a gente entenda as coisas que você faz – Marina comentou sorrindo –Até lá vamos tentar te manter inteira.

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora