Pode me levar embora daqui?

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103 dias antes.

Luana podia ouvir os pássaros começando a cantar mas não ousou se mexer. Estava sentada na beira do lago, molhada até os ossos. Seu corpo parecia ter espasmos de frio mas ela não conseguia se mover. Arrependeu-se profundamente de não ter ido pra casa dois dias antes.

Depois de terem ido até o bar e ficado bêbadas, ela brigou com Marina por algo que nem mesmo se lembrava e fugiu quando a loira foi ajudar Rafaela que estava passando mal. Assim que chegou no lago, sentiu-se idiota por ter feito o que fez mas estava tarde demais e ela estava muito longe de casa. Foi até a sua secreta casa na árvore e dormiu lá, iria passar o dia seguinte no lago pois sabia que as amigas iriam procura-la ali.

Passou o dia seguinte sentada observando as nuvens e os movimentos dos pássaros, sentindo-se relaxada. Mas com o passar das horas começou a ficar inquieta, como se algo estivesse muito errado. O dia foi passando e não havia notícia de ninguém, começou a sentir-se sozinha demais e não gostou da sensação. Nadou no lago a tarde inteira tentando se distrair e com a esperança de que faria o tempo passar mais depressa, até sua pele começar a enrugar. Quando escureceu e ficou frio demais pra continuar na água, sentou na beira do lago e esperou enquanto abraçava os próprios joelhos tentando se esquentar.

O dia já estava amanhecendo e seu corpo não parava de tremer, tentou segurar as lágrimas quando sentiu seus olhos ficarem marejados mas em pouco tempo estava soluçando como uma criança.

-Elas não vieram... – sussurrou para si mesma entre seus soluços.

***

Marina tentava arrumar coragem para entrar no quarto. Conseguia ouvir a voz de seu pai conversando com uma enfermeira lá dentro, tinha medo do que ele lhe falasse quando ela entrasse, sabia que tinha sido injusta na noite passada mas depois da conversa que teve com Eli estava decidida a não falar mais besteiras. Respirou fundo e abriu a porta.

O pai e a enfermeira a olharam, a enfermeira rapidamente saiu do quarto e foi fazer algo no fim do corredor mas o pai continuou a encarando sem saber o que falar, sua mãe permanecia sob efeito de medicamentos na cama.

-Oi – ela disse hesitante e sentou na poltrona ao lado da mãe.

-Marina – o pai se aproximou –Sobre ontem, só queria que você soubesse...

-Pai – ela o interrompeu, ele se assustou um pouco mas logo se recompôs –Só quero esquecer isso, se estiver tudo bem. Falei coisas que não eram verdade...

Ela voltou a atenção para sua mãe mas conseguia sentir o olhar do seu pai sobre ela. Escutou-o dar uma risadinha e responder:

-Tudo bem então, sou péssimo com essas conversas com adolescentes. Sabe que era sua mãe que costumava cuidar disso pra mim...

E com isso ficaram um longo tempo em silêncio.

***

Rafa escutou atentamente enquanto a mãe andava pela sala em busca do jaleco, ela sempre esquecia onde o colocava. Chegava tão cansada dos seus plantões que simplesmente jogava sua roupa em um canto e ia dormir. A garota saiu do seu quarto e desceu as escadas, ficou parada na entrada da sala olhando a mãe. Vislumbrou um tecido branco atrás do sofá.

-O jaleco está atrás do sofá – disse fazendo Luciana dar um pulo assustada e rir logo em seguida.

-Ah, claro – ela respondeu ainda rindo –Eu sabia...

-Mais um plantão?

-Sim – ela respondeu –Olha, Rafa, sabe que não precisa ficar sozinha aqui me esperando voltar...

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora