Eu não quero saber...

2 0 0
                                    


101 dias antes.

Luana estava entediada. Olhava para o teto do seu quarto como se alguma dose de uísque fosse cair ou alguma balada fosse começar misteriosamente e a atrairia com a música mas nada disso aconteceu. A loira queria fazer algo, queria sair, se divertir, tudo para esquecer o que acontecera nas últimas 48 horas.

Começara a chorar que nem uma criança e se arrastou até a casa da Rafaela para pedir desculpas como se tivesse feito algo inaceitável. Para piorar, a amiga ficou olhando-a como se não entendesse completamente nada. Droga, nem mesmo Luana entendera o que tinha acontecido. Parece que as mudanças de humor dela estavam ficando cada vez piores, ela teria que arrumar um jeito de controlar isso logo ou as amigas acabariam descobrindo alguma coisa...

Não, elas não podiam descobrir! Seria melhor para todos se não descobrissem, ela precisava protege-las dela mesma...

Espantou os pensamentos indesejados que insistiam em incomodá-la de tempos em tempos enquanto se levantava silenciosamente para não acordar seu pai. Vestiu algo decente que estava no seu guarda-roupa e saiu pela janela desejando que a noite fosse o remédio que ela precisava.

***

-Não vou comer isso de jeito nenhum... – o pai de Marina disse quando a filha estendeu uma gelatina de cor estranha que ela havia pego na cantina do hospital –Nem vou me dar o trabalho de falar o que isso parece!

-Pai, você tem que comer – ela pediu se aproximando e sentando em uma das poltronas ao lado dele, a mãe estava dormindo devido ao efeito do calmante que os médicos achavam melhor continuar administrando até ter certeza de que ela não iria começar a surtar –Não pode ficar aqui sem comer dia após dia! Mamãe precisa de você forte... E eu também.

Ele a encarou rapidamente e deu um breve sorriso.

-O que eu não faço por minhas garotas... – ele pegou a gelatina e esforçou-se para não fazer nenhuma careta enquanto comia –E você devia ir pra casa descansar, ir à escola, posso cuidar dela...

-Sabe que não vou te deixar fazer isso sozinho – ela respondeu rápida –Aliás, tenho que ficar aqui pra garantir que você vai comer.

-O pai aqui sou seu, não preciso que você me vigie – seu pai respondeu rindo entre uma colherada e outra –Sério, Nina, vá descansar. Volte amanhã depois da aula, ela não irá a lugar algum até lá.

Marina o encarou por alguns segundos antes de responder:

-Volto quando sair da escola, nem um minuto depois.

-Estaremos te esperando – ele deu um sorriso de orelha a orelha com os dentes cheios de gelatina fazendo Marina rir.

***

Rafaela sentia os ouvidos doerem devido a música alta que tocava nos fones de ouvido mas ela não se atreveu a abaixar o volume, era melhor do que o silêncio assustador em que ficava sua casa quando Luciana não estava. Ela odiava ficar sozinha...

Mas pelo menos podia pensar e, no momento, a única coisa que ocupava seus pensamentos era Luana e no que acontecia com ela às vezes. Tinha a sensação de que a amiga era duas pessoas diferentes ao mesmo tempo: em um momento inconsequente, rebelde e irônica, no outro sensível, preocupada e confusa... Rafa gostaria de entender melhor o que acontecia com ela. Sabia que havia algo que ela escondia, algo que ficava preso na sua garganta e a sufocava até ela precisar fugir pra longe e Luana estivera perto de contar o que era essa coisa algumas vezes mas sempre hesitava e o momento parecia escapar.

Uma dose violenta de qualquer coisaOnde histórias criam vida. Descubra agora